Quasicristal raro é encontrado em meteorito que caiu na Rússia

Físicos encontraram dentro de um pedaço de meteorito russo um quasicristal extremamente raro na Terra. Originário do espaço exterior, esta é apenas a terceira vez que um material do tipo é visto na natureza.

Com uma estrutura atômica única, por décadas sua existência foi rejeitada e tida como “impossível”. O espécime em questão foi encontrado por uma equipe liderada pelo geólogo Luca Bindi, da Universidade de Florença na Itália, de acordo com informações da Science Alert. Os pesquisadores analisavam o pequeno pedaço de meteorito que há cinco anos caiu na região de Khatyrka, extremo Oriente russo quando identificaram o pedaço de quasicristal que possui apenas alguns micrômetros de largura.

De acordo com um dos membros da equipe, Paul Steinhardt, da Universidade Princeton, um dos fatos mais encorajadores é que esta é a terceira vez que um quasicristal é encontrado no mesmo meteorito. No entanto, ele ressalta que o novo achado possui uma composição distinta, nunca vista antes. “Isso sugere que há mais a ser encontrado, talvez até novos quasicristais que até então não sabemos ser possíveis”, disse em entrevista à Motherboard.

Basicamente, um quasicristal consiste de uma estrutura atômica inteiramente original que combina as propriedades de um cristal simétrico e o caos de um sólido amorfo. Cristais regulares, flocos de neve, diamantes e grãos de sal são feitos de átomos dispostos em quase perfeita simetria. Já os policristais, incluindo a maioria dos metais, rochas e gelo têm estruturas mais randômicas e desordenadas, assim como o vidro, a cera e muitos plásticos.

Em 1980, um químico israelense chamado Daniel Shechtman propôs outro tipo de estrutura atômica que poderia existir na natureza. A sugestão consistia em uma matéria de forma estranha, semi-ordenada e com uma estrutura atômica que não apresentaria quaisquer padrões já vistos antes.

Shechtman recebeu em 2011 um Prêmio Nobel de Química pela descoberta, mas não antes de ser ridicularizado por cientistas durante anos por ter ousado sugerir algo tão absurdo como uma estrutura semi-ordenada. A razão pela qual os quasicristais foram tidos como improváveis durante quase dois séculos é que a simetria perfeita em estruturas atômicas é praticamente o ponto mais importante de todas elas, bem como seguir um conjunto muito rigoroso de regras.

Antes da existência dos quasicristais ser confirmada, os cientistas assumiram que para uma estrutura crescer em repetição, ela deve exibir pelo menos um dos quatro tipos de simetria rotacional: um giro, dois giros, três giros ou quatro giros. Os quasicristais, no entanto, quebram essa regra, uma vez que sua estrutura possui uma simetria rotacional de cinco dobras.

Conforme explicou Pat Theil, cientista no Departamento de Energia do Laboratório Ames, dos EUA, se você quer cobrir o assoalho do banheiro com azulejos perfeitamente encaixados, só podem ser usados os que têm forma de retângulos, triângulos, quadrados ou hexágonos. Qualquer outra forma não irá funcionar, uma vez que deixará lacunas.

Os quasicristais, por outro lado, são como blocos pentagonais, eles não podem ser alinhados de forma tão perfeita quanto os quadrados ou triângulos, mas outras formas atômicas podem ser usadas para preencher as lacunas. Enquanto são considerados extremamente raros na Terra, os quasicristais podem ser feitos facilmente em laboratório. Atualmente, versões sintéticas deles são usadas em tudo, desde frigideiras até luzes de LED.

A composição do quasicristal recentemente encontrado, de acordo com os pesquisadores, é uma combinação de alumínio, cobre e átomos de ferro, todos dispostos em um padrão de pentágono, semelhante ao de uma bola de futebol. Considerando que esta é a primeira vez que algo assim é visto na Terra, a descoberta sugere que ainda estamos muito longe de compreender completamente essa forma bizarra de matéria. A pesquisa em questão foi publicada pela Scientific Reports. 

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]