Não é penitenciária, nem condomínio: controverso arranha-céu de 26 andares na China abriga criação em massa de porcos

Apesar da aparência de penitenciária, os edifícios fazem parte dos esforços de Pequim para tornar-se mais competitivo no mercado internacional na criação em massa de animais

de OTTO VALVERDE 0

Em uma vila rural no centro da China, ergue-se uma torre gigante de 26 andares. Apesar de sua aparência lembrar uma penitenciária ou um conjunto de apartamentos, trata-se de um criadouro de suínos. As primeiras leitoas chegaram no final de setembro do ano passado.

Dezenas de leitoas foram levadas para seus andares por elevadores industriais impressionantes, onde irão residir em pequenas celas, desde a inseminação até a maturidade.

Para a China, o consumo de carne suína é extremamente importante, e o país enfrenta escassez de terras agrícolas, o que deixa a produção de alimentos e carne defasada em comparação com outros países.

Agora, edifícios de concreto com aparência pouco amistosa serão vistos por toda a China, altos o suficiente para serem facilmente avistados, mesmo em áreas rurais, de acordo com informações do jornal The New York Times.

Esses locais são monitorados rigorosamente por câmeras, e cada andar funciona como uma fase de vida para as jovens leitoas: há uma área para porcas prenhes, outra para as que pariram, uma terceira para o aleitamento dos leitões e, em outro andar, os suínos são engordados o mais rapidamente possível.

A ração é transportada por esteiras até tanques gigantes, que liberam até 500.000 kg de comida diariamente para todos os andares. A distribuição é automática, de acordo com a fase de vida, peso e saúde dos animais.

Este edifício das imagens está localizado nos arredores de Ezhou, ao sul do rio Yangtze. É considerado a maior fazenda autônoma de suínos do mundo. Uma segunda unidade está sendo construída ao lado e deverá ficar pronta nos próximos meses. A intenção é que muitos outros prédios como este sejam levantados.

A primeira fase de operação da fazenda vertical começou em outubro de 2022, mas ela atingiu sua capacidade total apenas recentemente, com previsão de abate de mais de 1.200.000 porcos por ano.

Na China, a carne suína é essencial. Durante décadas, foi tradição entre famílias rurais criar porcos para obter carne e usar as fezes na agricultura.

Além disso, o porco é um símbolo de prosperidade para os chineses, e, historicamente, a carne suína era tão valorizada que era servida apenas em ocasiões especiais.

A China é o maior consumidor de carne suína do mundo, representando metade de toda a produção global de suínos. O país mantém até mesmo uma “reserva estratégica” de carne suína para momentos críticos, visando estabilizar os preços e controlar a inflação.

A China está agora abandonando a produção caseira de porcos em favor da produção industrial em larga escala. Nos últimos anos, dezenas de fazendas industriais surgiram como parte da tentativa de Pequim de reduzir a dependência de importações para atender às necessidades de consumo interno.

“A criação de suínos na China ainda está décadas atrás das nações mais avançadas, o que nos dá espaço para melhorias e para reduzir essa defasagem”, afirmou Zhuge Wenda, presidente de uma empresa de cimento que construiu a fazenda vertical, em entrevista ao The New York Times.

Mesmo após 60 anos desde a grande crise de alimentos que levou milhões à fome, a China ainda depende de importações para suprir sua demanda alimentar, sendo o maior importador do mundo, inclusive de soja usada na fabricação de ração.

Com o tempo, muitos agricultores deixaram as zonas rurais e migraram para as cidades. Propriedades que criavam até 500 porcos por ano, vendidos ao governo, reduziram em 75% nos últimos anos, forçando a criação dessas fazendas gigantes de suínos.

Agora, o cenário ganhou ainda mais importância e escala, com essas estruturas que nenhum outro país ousou construir. Em breve, prédios de 26 andares dedicados à criação de porcos estarão espalhados pelo país, operando como uma linha de produção industrial. A ambição chinesa é grande, e, quando se trata de carne suína, essa ambição parece ter atingido um novo patamar.

Compartilhar notícia no WhatsApp
Compartilhar notícia no Telegram

©Todos os direitos reservados. Proibida a cópia e reprodução sem autorização da PLUG Network. Fonte(s): New York Times Capa: Reprodução / The New York Times Foto(s): Reprodução / Gilles Sabrié via The New York Times

Jornal Ciência