Cientistas climáticos assinaram uma carta aberta dirigida ao Conselho Nórdico de Ministros, alertando sobre as consequências catastróficas que podem impactar o mundo por séculos caso a desaceleração da Circulação Meridional do Atlântico (AMOC) não seja enfrentada com urgência.
Os oceanos são movimentados por correntes que circulam água da superfície às profundezas, reguladas por mudanças de temperatura e salinidade. Essas correntes, conhecidas como “esteiras rolantes globais”, transportam nutrientes essenciais e água ao redor do planeta.
A AMOC é responsável por carregar água quente e salgada dos trópicos pelo Atlântico Norte, e desempenha um papel crucial no equilíbrio climático da Europa e de outras regiões.
Na carta, publicada na última segunda-feira (21/10), 42 cientistas renomados destacaram o risco para as condições no Ártico, caso a AMOC ultrapasse pontos críticos. Esses pontos são onde limiares essenciais são superados, levando a mudanças significativas e possivelmente irreversíveis.
Conforme explica a Administração Nacional Oceânica e Atmosférica (NOAA), o ciclo começa quando a água quente na superfície se move em direção aos polos, onde esfria e forma gelo marinho.
À medida que o gelo se forma, o sal é deixado na água do oceano, tornando-a mais densa, o que faz com que ela afunde e seja transportada em profundidade para o sul.
Esse processo, chamado de ressurgência, é fundamental para manter o clima ameno na Europa e quente nos trópicos. Se a AMOC desacelerar significativamente, as consequências podem ser drásticas e irreversíveis.
O Ártico, em particular, já é considerado um “marco zero” para o risco de mudanças climáticas. Cientistas alertam que, se a AMOC ultrapassar certos pontos críticos — chamados de “pontos de inflexão” —, isso pode desencadear mudanças abruptas no clima global, afetando padrões climáticos, ecossistemas e a vida humana.
Estudos recentes sugerem que a AMOC está em risco de colapso, embora seja difícil prever exatamente quando isso acontecerá. Um estudo de 2021 apontou que a AMOC está mais fraca do que em qualquer outro momento dos últimos 1.000 anos.
Outro relatório, publicado na Nature em 2023, levantou a possibilidade de que o colapso poderia ocorrer já em 2025, embora haja controvérsias e outros especialistas peçam mais cautela antes de tirar conclusões definitivas.
Caso a AMOC colapse, os impactos seriam globais. O resfriamento extremo em regiões nórdicas, ao lado de um aquecimento em áreas vizinhas, pode levar a eventos climáticos extremos e inviabilizar a agricultura em partes da Europa, mas as consequências do colapso não se limitariam à Europa. A capacidade dos oceanos de absorver dióxido de carbono seria reduzida, o que agravaria as mudanças climáticas globais.
Embora esforços significativos sejam necessários globalmente para impedir que o clima ultrapasse esse e outros pontos de inflexão, os cientistas deixam claro na carta que não é viável pensar que seríamos capazes de nos adaptar a uma catástrofe climática tão extrema.
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