Ansiedade Digital: Você sente angústia ou culpa em não conseguir responder mensagens ou atender ligações?

O uso excessivo das redes sociais cria uma pressão implícita para responder rapidamente a mensagens, e-mails ou atender ligações, gerando sentimentos de angústia, ansiedade e culpa por não conseguir acompanhar o fluxo constante de notificações.

de OTTO VALVERDE 0

Você já se sentiu sobrecarregado com as inúmeras mensagens acumuladas no WhatsApp ou os e-mails que parecem se multiplicar na sua caixa de entrada? Vivemos em uma era de hiperconectividade, em que a comunicação digital se tornou parte essencial de nossas vidas. No entanto, essa conectividade constante traz consigo um novo tipo de pressão: a necessidade de responder imediatamente.

Se antes a tecnologia visava facilitar a comunicação, hoje ela pode gerar uma sensação de cobrança e estresse. Notificações incessantes, mensagens não respondidas e grupos acumulados são apenas alguns exemplos de como os aplicativos de mensagens, como o WhatsApp, podem criar ansiedade ao invés de praticidade.

O WhatsApp, o aplicativo de mensagens mais utilizado no Brasil, é frequentemente associado ao que alguns especialistas chamam de “WhatsAppfobia”, um termo que descreve a ansiedade gerada pela sensação de urgência em responder imediatamente.

Essa urgência, muitas vezes, está ligada ao medo de perder oportunidades, também conhecido como FoMO (Fear of Missing Out, ou “medo de ficar de fora”).

O constante fluxo de mensagens pode impactar a saúde mental, levando a transtornos de ansiedade, estresse e o efeito contrário: a “paralisia” em não conseguir responder mensagem alguma.

As redes sociais incentivam a dependência através de gatilhos psicológicos, como a busca por validação social. A cada notificação recebida, o usuário espera por reconhecimento, seja através de uma mensagem ou uma curtida.

Essa dinâmica cria um ciclo de ansiedade, onde a espera por uma resposta gera estresse, e quando a resposta chega, há uma breve sensação de alívio. No entanto, o excesso de estímulos acaba transformando essa “recompensa” em angústia.

Essa repetição constante pode levar ao desenvolvimento de problemas psicológicos, como Burnout (onde as mensagens constantes são do ambiente de trabalho e especialmente fora do horário laboral), transtornos de ansiedade e até depressão.

Especialistas também ressaltam que discussões em grupos de WhatsApp sobre temas como política ou futebol amplificam esse ciclo, pois envolvem o usuário em conflitos constantes, alimentando a sensação de estar sempre em defesa.

Impacto além das telas

O impacto dessa hiperconectividade não se restringe ao mundo digital. Para o cérebro, o mundo virtual é percebido como parte da “vida real”, o que significa que as interações online afetam diretamente os nossos sentimentos e comportamentos.

Dessa forma, mesmo quando estamos longe das telas, nossa mente permanece conectada a elas. Há também a pressão de “provar” nossas experiências compartilhando-as nas redes sociais.

Se você não publica nenhuma foto ou vídeo, parece que aquela experiência jamais aconteceu. Isso cria uma sensação de obrigação de compartilhar cada momento, o que pode reduzir o valor das experiências vividas fora do ambiente digital.

A expectativa da “disponibilidade digital 24h”

Dados de uma pesquisa de 2021 mostraram que 30% dos norte-americanos afirmam estar “quase constantemente” online. Isso reforçou a ideia de que todos estão acessíveis o tempo todo, o que gera pressão para respostas rápidas.

Essa expectativa tem suas raízes nas mudanças nas normas sociais que acompanham o uso das novas tecnologias. Jeff Hancock, professor de comunicação da Universidade de Stanford, destacou em entrevista à BBC Internacional que, com o uso massivo de celulares, a possibilidade de responder de forma instantânea se tornou praticamente uma obrigação.

O problema é que a tecnologia evoluiu mais rápido do que nossa capacidade de criar regras claras sobre a comunicação digital. Não existe uma “etiqueta” universal sobre quanto tempo uma pessoa pode levar para responder antes de ser considerado rude, o que pode gerar desconforto em quem aguarda a resposta e em quem precisa dar essa resposta.

A ilusão da proximidade e a ansiedade

Outro ponto relevante é que nossos celulares criam a ilusão de proximidade. Mesmo que seu amigo esteja em outro continente, ele parece estar apenas a uma mensagem de distância. No entanto, quando a resposta não chega rapidamente, as pessoas podem começar a imaginar o pior: será que ele está bravo? Será que aconteceu algo?

Hancock explica que, diante da falta de informações sobre o que está acontecendo com o outro, as pessoas acabam projetando suas próprias ansiedades na situação. Isso pode intensificar sentimentos de frustração e ressentimento, especialmente quando esperamos uma resposta simples e rápida.

A ausência de normas sociais claras

Coye Cheshire, professor de psicologia social da Universidade da Califórnia, em Berkeley, aponta em entrevista à BBC que a falta de normas sociais bem definidas no ambiente digital também contribui para essa ansiedade. Embora existam expectativas claras em situações da vida real, como um “parabéns” rápido após uma boa notícia, as regras no mundo digital são mais nebulosas.

A ausência de diretrizes claras faz com que cada indivíduo estabeleça suas próprias regras de comunicação, o que pode gerar atritos. Por exemplo, uma pessoa que espera uma resposta imediata pode se sentir ofendida se o outro lado não compartilhar dessa mesma expectativa. Essa projeção de normas pessoais sobre os outros cria frustrações.

Como lidar com essa pressão?

Entender o impacto da hiperconectividade e reconhecer os sinais de ansiedade digital é o primeiro passo para encontrar equilíbrio. No final, a melhor solução pode ser simplesmente deixar o telefone de lado por um tempo.

Estabelecer limites no uso das redes sociais, desligar notificações e praticar momentos de desconexão são algumas estratégias que podem ajudar a reduzir a sensação de sobrecarga e a pressão para estar sempre disponível.

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