Enquanto o Brasil discute o fim da jornada 6×1 (trabalho por seis dias seguidos com um dia de descanso), a Grécia seguiu na contramão e aprovou uma nova lei que permite que empresas exijam dos funcionários jornadas semanais de até 48 horas.
Segundo o governo grego, a medida visa aumentar a produtividade e competitividade no mercado. Contudo, a mudança enfrenta resistência entre a população e especialistas.
A Lei n° 5053/23, válida para setores com funcionamento ininterrupto, determina que o sexto dia de trabalho seja pago com um adicional de 40% sobre o valor diário regular. Assim, um trabalhador que ganha 100€ (euros) por dia, por exemplo, receberia 140€ no sexto dia, elevando seu salário semanal de 500€ para 640€.
Embora o regime 6×1 não seja obrigatório, ele deve ser adotado de modo uniforme entre todos os funcionários, caso a empresa opte por implementá-lo. Em situações em que trabalhadores possuem dois empregos, a lei permite jornadas diárias de até 13 horas, com um total semanal entre 65 e 78 horas.
Contexto econômico e justificativas do governo
De acordo com o jornal Aljazeera, a medida foi proposta pelo governo de direita do primeiro-ministro Kyriakos Mitsotakis, que descreveu a nova legislação como “orientada para o crescimento e benéfica para os trabalhadores”.
Mitsotakis argumenta que o envelhecimento da população grega e a falta de profissionais qualificados tornam essa política necessária. Mais de 500.000 gregos deixaram o país desde 2010, durante a crise da dívida.
Nos últimos dez anos, a Grécia tem enfrentado uma lenta recuperação econômica. Apesar da redução significativa no índice de desemprego — que passou de quase 28% em 2013 para cerca de 11% atualmente — o cenário ainda é desfavorável em comparação com outros países da União Europeia.
Para os defensores da medida, o regime 6×1 aumentaria a produtividade e formalizaria as horas extras não pagas, reduzindo o trabalho informal.
Consequências para os trabalhadores
Especialistas, contudo, alertam que uma semana de trabalho mais longa pode ter o efeito contrário ao desejado pelo governo, prejudicando a produtividade. Estudos apontam que o excesso de horas trabalhadas aumenta o risco de problemas de saúde mental, incluindo esgotamento psicológico e queda na satisfação com o trabalho.
Um estudo de 2014 da Universidade de Stanford revelou que a produtividade por hora começa a cair quando a semana de trabalho ultrapassa 50 horas. Quando o limite é excedido, a qualidade dos serviços se deteriora a ponto de não valer a pena continuar trabalhando, pois o rendimento cai drasticamente.
Ao Aljazeera, Elizabeth Gosme, diretora da ONG COFACE Families Europe, destacou que essa nova política afeta desproporcionalmente as mulheres. Além do trabalho formal, muitas delas enfrentam jornadas duplas ou triplas, acumulando tarefas domésticas e cuidados com a família.
“Como as mulheres vão encontrar tempo para exercer funções de cuidadoras?”, questiona Gosme. “Sem flexibilidade, muitas poderão ser forçadas a abandonar o mercado de trabalho”.
A tendência global: menos dias de trabalho
Durante a pandemia de Covid-19, estudos mostraram que o equilíbrio entre trabalho e vida pessoal foi essencial para a sustentabilidade dos negócios. Nos últimos anos, muitos países passaram a testar modelos de jornada reduzida, com o objetivo de aumentar a produtividade.
Testes com jornadas de quatro dias mostraram que, ao concentrar melhor as atividades, os funcionários se tornaram mais focados e engajados.
Países como Reino Unido, Alemanha, Japão, África do Sul e Canadá têm adotado programas piloto para experimentar semanas com menos dias de trabalho. No Reino Unido, esse modelo resultou em uma redução de 71% no esgotamento dos funcionários e em um aumento de 35% na receita média das empresas, de acordo com o The Guardian.
Apesar das promessas de maior produtividade e competitividade, a nova lei grega permanece envolta em controvérsias, com especialistas questionando se a medida trará benefícios duradouros ou se apenas agravará os problemas de saúde e satisfação no trabalho dos funcionários.
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