Considerado um fenômeno incomum, o fato ocorreu a milhares de metros acima do nível do mar, no topo dos Alpes Franceses: manchas vermelhas, com aparência de “sangue”, se espalharam por centenas de quilômetros na neve.
Atrás da aparente cena de filme de terror onde poderia ter ocorrido um verdadeiro massacre, está o conhecido fenômeno do “sangue glacial” ou “sangue de geleiras”. Algas microscópicas, que vivem em regiões de neve, são as responsáveis por produzirem o tom vermelho. Elas são tecnicamente verdes, pertencentes ao filo Chlorophyta, contendo um tipo específico de clorofila.
Mas, além da clorofila (que é verde), estas algas também possuem os chamados carotenoides, pigmentos que vão do tom laranja ao vermelho e que estão presentes em vegetais, como a cenoura.
Estes carotenoides protegem as algas dos efeitos nocivos da luz solar intensa e da radiação ultravioleta, que ocorre em locais de elevada altitude. Durante a proliferação, estas algas crescem de forma extremamente rápida e a neve adquire cor vermelha ou laranjada.
Os cientistas, através do projeto AlpAlga, estudam estes organismos — que vivem entre 1.000 e 3.000 metros acima do nível do mar — para compreender o impacto neste ecossistema pela poluição e mudanças climáticas.
“As pessoas sabem da presença de algas nos oceanos, mas estão menos atentas aos microrganismos que vivem no solo das montanhas e na neve que se acumulam nessas altitudes. Quando subimos aos Alpes Franceses, caminhamos por um ambiente repleto de vida microscópica como em um oceano, mas na neve. As microalgas são encontradas na água entre o espaço dos pequenos cristais de gelo”, explica Eric Maréchal, coordenador do projeto AlpAlga.
A ciência tenta entender melhor qual a relação e os impactos das mudanças climáticas sobre ecossistemas tão frágeis como este. Mas, existem evidências preocupantes sobre o aparecimento das manchas vermelhas no gelo.
“Assim como a poluição rica em nutrientes alimenta a proliferação de algas nos oceanos, os nutrientes que chegam ao topo das montanhas por meio das chuvas e dos ventos, poderiam, em teoria, alimentar a abundância de algas nos Alpes. E o aumento dos níveis de gás carbônico na atmosfera também pode estimular o crescimento destas algas”, afirmou Maréchal.
O impacto é maior do que parece
Estudos anteriores sugerem que a neve avermelhada pelas algas tem pouca capacidade de refletir a luz solar comparada com a neve branca, o que provoca o derretimento acelerado das geleiras — já que o fenômeno é encontrado em todas as partes, inclusive na Antártida.
“Algas são marcadores de mudanças climáticas, pois o crescimento destes organismos reflete o aumento dos níveis de dióxido de carbono e de mudanças relacionadas no meio ambiente”, concluiu Maréchal à Live Science.
A ciência ainda não sabe se, com as mudanças climáticas, as algas das geleiras serão estimuladas a proliferar de forma descontrolada, devido ao aumento dos níveis de gás carbônico — o que aumentaria ainda mais a rapidez do derretimento do gelo nos polos.
Fonte(s): La Nacion / Live Science Imagens: Reprodução / AlpAlga