O lago mais radioativo do mundo pode matar você em menos de 1 hora apenas ficando perto dele

Conheça a história do Lago Karachay e todas as consequências ocorridas pelos segredos nucleares da antiga União Soviética

de Redação Jornal Ciência 0

O Lago Karachay está localizado no sul dos Montes Urais, na Rússia, na região de Tcheliabinsk, e há décadas é considerado oficialmente o lago mais poluído e perigoso da Terra. Pode matar uma pessoa em menos de 1 hora, apenas por ficar em suas proximidades.

Este pequeno corpo de água é conhecido por outro nome, o “Reservatório 9”. Ele fica próximo a uma antiga instalação nuclear e mede 900 metros de comprimento e 500 metros em seu ponto mais largo.

Por ser tão radioativo, o Guinness Book of World Records o apelidou de “O Lago Mais Radioativo de Todos os Tempos”. Isso porque o local servia como o principal centro de produção de armas nucleares da União Soviética.

Como parte do programa secreto de desenvolvimento de colisões, os reatores produziam isótopos, como o Plutônio-239 e o Urânio-235, sem pensar ou se importar com a segurança humana ou ambiental. A corrida armamentista era mais importante que tudo.

Entre 1951 e 1953, os reatores de ciclo aberto da Usina de Plutônio Mayak estavam localizados dentro da Associação de Produção Mayak — uma das maiores instalações nucleares já produzidas. Eles despejavam toneladas de resíduos radioativos altamente contaminados no Lago Karachay logo após os experimentos.

A Usina de Plutônio de Mayak despejou resíduos radioativos de alta contaminação junto com água de refrigeração contaminada diretamente no rio Techa entre 1951 e 1953, formando posteriormente o Lago Karachay, o mais radioativo e tóxico do planeta. 

A quantidade era tão grande que o lago foi renomeado para Reservatório 9 ou apenas “V-9”. O governo russo manteve a existência de Mayak em completo sigilo até 1990. Nesta época, o nível de radiação nas proximidades do lago era de 600 Röntgens, impossível de um ser humano sobreviver muito tempo.

Quando apenas no ano de 1990 o governo russo admitiu a existência de Mayak e seus experimentos, houve divulgação que os níveis de incidência de câncer aumentaram em 21%, além de 25% em defeitos congênitos e 41% em casos de leucemia, nas regiões de Chelyabinsk.

O Rio Techa, que abastecia as pequenas cidades vizinhas, levou contaminação aos moradores, deixando 65% deles doentes. À época, como a existência da usina era sigilo absoluto, os médicos não sabiam as causas, e chamavam os sintomas de “Doença Especial”. Mesmo que desconfiassem ser por radioatividade, estavam proibidos de mencionar radiação em qualquer diagnóstico.

Acidentes secretos

O complexo nuclear sombrio não se preocupava com a segurança do meio ambiente ou das pessoas, despejando resíduos também nos lagos e rios adjacentes. Acidentes nucleares secretos ocorreram entre os anos 50 e 60.

Houve épocas de profunda seca onde o Lago Karachay secou. O fundo do lago era absolutamente tóxico, composto por 3,4 metros de profundidade de resíduos altamente concentrados.

Um dos acidentes mais graves ocorreu em 1960, onde a seca intensa fez o lago sumir e o fundo ficou exposto, tornando-se poeira de Césio-137 e Estrôncio-90. Com ajuda de ventos fortes, o fundo do lago foi varrido, levando poeira radioativa a um território de 2.700 quilômetros quadrados, atingindo diversas áreas habitadas.

Como a existência de Mayak era sigilo, ninguém entendeu quando alguns moradores foram evacuados de suas casas após o incidente, mas isso ocorreu com poucas pessoas. A maioria ficou em suas cidades inalando a poeira radioativa e bebendo água contaminada.

O acidente secreto que poucos comentam

Quando o lago secou na década de 1960, dispersando a poeira radioativa no ar, expôs 500.000 pessoas a 185 petabecquerels de radiação — uma quantidade semelhante à da bomba atômica de Hiroshima.

Durante a seca severa em 1967, que resultou na dispersão de mais poeira radioativa por 25.000 quilômetros quadrados devido aos ventos, mais de 436.000 pessoas foram expostas a 5 milhões de Curies de radiação — novamente quantidade semelhante aos efeitos da bomba atômica em Hiroshima.

Aproximadamente, outras 500.000 pessoas na área foram expostas desde que a usina começou a despejar lixo radioativo. De acordo com pesquisadores russos de doenças causadas pela radiação, as pessoas que viviam perto do Rio Techa receberam 4X vezes mais radiação do que aquelas que foram expostas à radiação durante o acidente da Usina Nuclear de Chernobyl, em 1986, na Ucrânia.

Atitudes foram tomadas

Foi apenas após isso que as autoridades russas resolveram “selar” o Lago Karachay, como um sarcófago. Isso foi possível usando 10.000 blocos ocos de concreto. Mas, apesar da decisão tomada de “lacrar o lago”, foram necessários 40 anos para concluírem o “isolamento”, terminando a obra em 26 de novembro de 2015.

Especialistas dos EUA garantem que lixo radioativo ainda era despejado no lago, durante uma visita nas usinas em 1992. A lama do leito emitia forte radiação, principalmente de Césio-137, liberando 4,4 trilhões de megaBecquerel (120 milhões de Curies).

A mesma equipe de cientistas norte-americanos descobriu atividade de 740.000 megaBecquerel por quilograma no solo ao redor da costa do lago. Ficar perto da água expõe uma pessoa a 5,6 Sievert de radiação por hora, mesmo sem molhar o dedo do pé. Isso pode facilmente matar uma pessoa em 50 minutos!

Como está a situação atual?

Hoje, mesmo após tantas décadas, o local permanece altamente perigoso e assim ficará por centenas de anos — na verdade, não existe previsão de “melhora” do cenário radioativo com menos do que alguns milhares de anos pela frente.

É mais seguro deixar a contaminação onde está, por milhares de anos, do que tentar transferi-la para outro local. Na verdade, a humanidade não tem experiência real para lidar com os efeitos potenciais do lixo radioativo que podem ocorrer nos próximos séculos, por isso o local precisa ser monitorado.

De acordo com o portal Russia Beyond, Iúri Mokrov, conselheiro da direção-geral da Associação de Produção Mayak, “a Rússia, assim com nenhum outro país, tem experiência suficiente para manter um local tão perigoso como o reservatório V-9. É por isso que o Lago Karachay continuará sendo monitorado de forma constante e ampla nos próximos anos”, explicou.

O portal ainda explicou que a Rússia irá colocar novas camadas de entulhos sólidos por cima dos blocos do lado e estima que, no futuro, a área poderá ser coberta com grama e arbustos, mas jamais serão permitidas árvores, porque suas raízes danificariam os blocos de concreto abaixo.

Ainda segundo os especialistas russos, atualmente o local permanece “seguro” e não seria possível que nem mesmo um tornado conseguisse retirar as camadas sólidas ou os blocos de concreto que preservam o local. 

Fonte(s): LAD / Russia Beyond Imagem de Capa: Reprodução / Legion Media via Russia Beyond / Unsplash Foto(s): Reprodução / NASA World Wind / Google Maps

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