Preso no corredor da morte será executado por novo método experimental após “sobreviver” à injeção letal

de OTTO HESENDORFF 0

Em um movimento que está gerando intenso debate, o estado do Alabama, nos EUA, se prepara para utilizar um novo método de execução, a hipóxia por nitrogênio, no caso de Kenneth Eugene Smith, um prisioneiro condenado no corredor da morte. 

Este método está sob os holofotes por ser experimental e levantar sérias questões éticas e médicas.

Em teoria, a inalação por nitrogênio puro deve impedir as funções corporais levando à perda de consciência em segundos e, em seguida, à morte. É uma técnica que nunca foi testada anteriormente, trazendo inúmeras incertezas.

Kenneth Eugene Smith, condenado em 1988, foi sentenciado à morte pelo brutal assassinato de Elizabeth Sennett, cuja morte foi orquestrada pelo próprio marido, Charles Sennett. O crime, motivado pela promessa de uma apólice de seguro de vida, chocou a comunidade local pela sua natureza cruel e calculista.

Smith e seu cúmplice, John Parker, receberam US$ 1.000 cada para cometer o assassinato, um crime marcado por violência extrema. Elizabeth Sennett sofreu ataques brutais, sendo espancada, torturada e esfaqueada diversas. O relatório da autópsia revelou um total de 10 facadas, oito no peito e duas no pescoço, o que levou à sua morte.

Agora, Smith, que já “sobreviveu” a uma tentativa de execução por injeção letal, enfrenta a morte por um método inédito: a hipóxia por nitrogênio, programada para a próxima quinta-feira, 25 de janeiro. Este método envolve a inalação de nitrogênio, causando morte por privação de oxigênio.

O médico Dr. Jeffrey Keller, especialista em procedimentos de execução, expressou profundas dúvidas sobre este método. “O processo é totalmente experimental e ninguém sabe o que vai acontecer”, disse ele ao The Marshall Project.

Ele também levanta preocupações sobre a possibilidade de nitrogênio vazando afetar espectadores, além de questionar a alegação de que a morte por hipóxia por nitrogênio é indolor. “Os proponentes se referem a pessoas que se intoxicaram com nitrogênio durante voos de avião ou mergulho, e depois acordaram relatando que não sentiram nada. Mas a pessoa encarcerada sabe exatamente o que vai acontecer”, explicou.

Keller também apontou para desafios práticos, como a dificuldade de ajustar a máscara de respirador de forma eficaz, o que pode complicar ainda mais a execução. Ele destaca as experiências de paramédicos e bombeiros com máscaras de respiração, que ilustram as dificuldades potenciais em obter um selo adequado para diferentes tipos de rostos.

A decisão do Alabama de prosseguir com a hipóxia por nitrogênio para a execução de Smith gerou críticas de várias frentes, incluindo o alto comissário da ONU para os direitos humanos e cientistas veterinários nos EUA e Europa, que consideram o método desumano e inaceitável até mesmo se fosse usado para pequenos mamíferos.

Para o Dr. Jeffrey Keller, situações não esperadas como vômitos, acidente vascular cerebral e convulsões podem acontecer durante a aplicação do método e impedir a morte do prisioneiro.

Além disso, existe a possibilidade de ele ficar em estado vegetativo ou em coma irreversível. Nestes cenários, o preso estaria apenas na posição de “cobaia”, alegam seus advogados.

Em 17 de novembro de 2022, Smith sobreviveu à injeção letal após ficar amarrado por mais de 4 horas na maca, sentindo fortes dores físicas que resultaram no desenvolvimento de síndrome do pânico e transtorno de estresse pós-traumático, devido à falha em sua execução onde os profissionais não conseguiam encontrar uma veia de acesso.

Conforme a data da execução se aproxima, as atenções se voltam para o Alabama, onde um capítulo controverso na história da pena de morte dos EUA está prestes a ser escrito, levantando questões importantes sobre ética, legalidade e humanidade no sistema penal. 

Fonte(s): The Marshall Project Foto(s): Reprodução / Redes Sociais

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