Inédito: Estes anfíbios alimentam seus filhotes com “leite” e pedaços da própria pele

de OTTO HESENDORFF 0

O cuidado parental no reino animal assume muitas formas. De animais que protegem amorosamente seus ovos, a famílias que permanecem juntas a vida toda.

Embora o cuidado parental e o fornecimento de leite aos filhotes sejam normalmente vistos como características dos mamíferos, pela primeira vez, parece que os anfíbios também estão adquirindo esta característica.

Enquanto os anfíbios mais conhecidos incluem rãs e sapos, que pertencem à ordem Anura, e a ordem Caudata, que contém salamandras, existe um terceiro grupo de anfíbios menos estudado: Gymnophiona, também conhecidos como cecílias.

As cecílias são anfíbios parecidos com cobras ou minhocas, que totalizam cerca de 222 espécies. Elas não possuem membros e vivem principalmente em regiões tropicais. Dentre essas espécies, existem as que põem ovos e as que dão à luz filhotes vivos.

Ambos os grupos de mães fornecem nutrição aos filhotes após o nascimento. Em algumas espécies, isso é conhecido como alimentação da pele, onde os filhotes consomem ativamente a pele da mãe após a eclosão.

Os pesquisadores estavam estudando a cecília-anelada (Siphonops annulatus), que é conhecida por ser uma espécie ovípara, ou seja, que põe ovos. É conhecida por alimentar seus filhotes através da alimentação da pele, mas os pesquisadores também observaram os filhotes consumindo uma substância da cloaca da mãe.

Ao acompanhar de perto o progresso dos filhotes em cativeiro, a equipe percebeu que eles sempre mantinham o estômago cheio de líquido, sugerindo que a substância que consumiam da cloaca tinha importante valor nutricional.

A equipe estudou 16 fêmeas adultas com filhotes para entender melhor o processo. Todos os animais foram coletados durante o trabalho de campo em Ilhéus, estado da Bahia. Cada mãe tinha entre 4 e 13 filhotes.

Durante a maior parte do tempo do estudo, os filhotes e suas mães permaneceram enrolados juntos. As mães cecílias não se alimentam enquanto cuidam de seus filhotes e sua pele muda de cor para refletir a produção de um produto à base de lipídios para a alimentação da pele.

A equipe observou os filhotes muito interessados na cloaca da mãe e na extremidade de seu corpo, frequentemente tocando-a ou mordiscando-a. Os filhotinhos também produziam um som agudo ao interagir com a cloaca, o que fazia com que a mãe levantasse a extremidade do corpo e expusesse a cloaca.

Ali, era produzida uma substância espessa e pegajosa de leite transparente que eles consumiam. Esse tipo de comunicação entre mãe e filho nunca havia sido visto em nenhuma outra espécie de anfíbio.

Os pesquisadores observaram que, ocasionalmente, alguns dos filhotes bloqueavam a cloaca materna de outros filhotes, empurrando o “focinho” para dentro, sugerindo que há competição por esse leite materno entre irmãos.

Foram observados 36 casos de fornecimento de leite. Todo esse processo é extremamente dispendioso para as mães, que não abandonam seus filhotes durante os dois meses inteiros de alimentação e perdem cerca de 30% de sua massa corporal ao final do período de cuidado parental.

O estudo de Mailho-Fontana abre novas áreas de pesquisa para as cecílias e para a biologia de anfíbios em geral, fornecendo uma abordagem expandida para investigar melhor a biologia evolutiva. O artigo foi publicado na revista Science.

Fonte(s): IFLScience Imagem de Capa: Reprodução / Carlos Jared via IFSCience

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