Prisão macabra na Rússia mantém mais de 100 baleias e golfinhos vivos em cativeiro

de Merelyn Cerqueira 0

Uma filmagem amadora revelou a existência de uma prisão de baleias na baía de Srednyaya, leste da Rússia.

 

Através de drones foram identificadas 90 belugas e 11 orcas (golfinhos, mais conhecidos pelo apelido de “baleias assassinas”) vivendo em situação de cativeiro. Embora a legislação russa permita a captura dos mamíferos, somente comunidades tradicionais localizadas no extremo norte do país podem fazê-lo e apenas para fins de alimentação.

Foram identificadas quatro empresas responsáveis pelo cativeiro, das quais nenhuma possuía relação com as comunidades tradicionais e possuíam intenção alguma na alimentação das comunidades locais. A ideia era vender os animais para parques aquáticos na Rússia e China o que, segundo garantiu o Procurador Geral da Rússia, em declaração oficial à imprensa, seria ilegal

 

Autoridades regionais abriram uma investigação sobre a suposta captura ilegal das baleias. No entanto, o caso acabou passando entre agências de fiscalização no país de modo que, até o momento, os animais permanecem em cativeiro e não foram libertados.

Segundo Dmitry Lisitsyn, chefe da Sakhalin Environment Watch, as belugas estão acostumadas a viver no gelo e não “confinadas a um espaço de 12 por 10 metros com homens munidos de pás sobre suas cabeças”. Aparentemente, 15 das belugas são filhotes. Os animais podem morrer devido ao imenso estresse de estarem confinadas. Baleias nadam milhares de quilômetros, e ficar confinadas em minúsculos espaços pode trazer danos severos aos animais – até mesmo comportamental – ou levar à morte.

 

Lisitsyn disse ainda que a situação é pior para as orcas, que normalmente migram para o sul durante o inverno e, portanto, não estão acostumadas em viver em águas muito frias. Devido a isso, várias delas apresentaram lesões de pele possivelmente causadas pelo congelamento e infecções de bactérias ou fungos, causadas pela água parada.

Recentemente, três ONGs revoltadas com a situação de maustratos, incluindo a famosa ONG Sakhalin Watch, entraram com uma ação contra três agências do governo russo. Elas alegam que, segundo a lei, era obrigação do governo confiscar os animais e devolvê-los à natureza.

 

De acordo com a National Geographic, uma das quatro empresas donas do cativeiro, a Bely Kit, alegou ter conseguido as orcas e belugas legalmente e confirmou sua intenção de repassá-las a aquários na Rússia e exterior. Disse ainda que não libertaria os animais sem uma ordem de tribunal. Outras duas empresas, a Afalina e a Oceanarium DV, também disseram atuar dentro dos parâmetros da lei. Já a quarta empresa, Sochi Dolphinarium, não se pronunciou sobre o caso.

Recentemente, apenas quando a história tomou proporções internacionais estampando manchetes de jornais, as autoridades resolveram tomar medidas em relação a situação dos animais. Em um comunicado, anunciaram que investigadores tomariam medidas abrangentes para retorná-los à natureza e que fariam as empresas responsáveis responderem por crimes de maus-tratos.

 

 

Segundo o especialista em orcas, John Ford, professor de zoologia na Universidade da Columbia Britânica, no Canadá, os animais precisarão passar por triagens médicas adequadas e tratamentos antes de serem devolvidos ao mar – já que podem estar com inúmeras situações de doenças, além de traumas que refletem no comportamento pelo cativeiro forçado.

Ainda, se forem libertadas juntas na região de Srednyaya, cada grupo (belugas e orcas) poderiam coexistir socialmente o que beneficiaria as mais jovens, uma vez que aprenderiam habilidades de caças com as mais velhas, podendo assim, sobreviverem em ambiente selvagem.

[ Fonte: National Geographic ]

[ Fotos: Reprodução / Whale and Dolphin Conservatory ]

Jornal Ciência