Sexo entre baleias jubarte machos é registrado pela primeira vez; cientistas explicam

As baleias jubarte entram na lista de mais de 1.500 espécies onde o comportamento homossexual foi oficialmente documentado pela ciência.

de OTTO HESENDORFF 0

Em um evento inédito, fotógrafos capturaram imagens de duas baleias jubarte machos acasalando. Uma análise feita por especialistas em mamíferos marinhos confirma a singularidade do novo registro. 

Biólogos dizem que isso é mais um dos inúmeros registros de que as atrações sexuais entre indivíduos do mesmo sexo são comuns no reino animal — ocorrendo em mais de 1.500 espécies. No entanto, levantam questões sobre a reciprocidade desse comportamento no caso específico das baleias.

O vasto oceano oferece um refúgio natural para as baleias, possibilitando-lhes manter em segredo seus comportamentos íntimos. Portanto, apesar de serem uma das espécies mais estudadas, as práticas de acasalamento das baleias jubarte permaneceram desconhecidas até este momento.

Stephanie Stack, doutoranda da Pacific Whale Foundation, foi surpreendida pelos fotógrafos Lyle Krannichfeld e Brandi Romano, que durante um passeio em Maui (ilha do Havaí), fotografaram o incomum comportamento das jubartes.

Eles não tinham ideia do quão notável era sua descoberta: a primeira observação documentada de acasalamento homossexual da espécie.

Foto: Reprodução / Lyle Krannichfeld e Brandi Romano

Stack destacou a importância deste achado, afirmando: “Embora as baleias jubarte tenham sido extensivamente estudadas por décadas, seu comportamento sexual sempre foi um enigma. Esta descoberta nos desafia a repensar as conhecidas estruturas sociais desses magníficos seres marinhos. Observar o acasalamento entre machos é um acontecimento extraordinário e sem precedentes.”

Os pesquisadores agora estão mais interessados em entender a prevalência de encontros sexuais entre indivíduos do mesmo sexo nas baleias jubarte, e se esses episódios são tão frequentes quanto os encontros heterossexuais.

As baleias jubarte se alimentam em águas polares durante o verão e migram para os trópicos no inverno para se reproduzir e criar seus filhotes. Se a maioria das atividades sexuais ocorrer nessas águas mais quentes, isso poderá aumentar as chances de observações futuras.

Entretanto, relatos de extrusão peniana, que é quando os cetáceos se preparam para o acasalamento, são raros entre as jubartes. Casos observados de extrusão peniana geralmente envolvem competição entre machos por uma fêmea fértil, indicando uma possível exibição de dominância.

Stephanie Stack e seus coautores no relatório salientam a importância de entender o propósito do comportamento homossexual entre cetáceos, propondo que ele pode servir para práticas como aprendizado, estabelecimento de dominação, formação de alianças ou redução de tensão social.

A jubarte A (debaixo) fez um formato de “S”, suspeito de estar associado ao estresse ou evitar o perigo, levantando questões de o ato foi consensual. Foto: Reprodução / Lyle Krannichfeld e Brandi Romano 

Este par específico de baleias jubarte demonstrou um comportamento incomum ao se aproximar e circundar o barco dos fotógrafos durante o ato, levantando questões sobre a consensualidade da interação íntima.

Uma das baleias, identificada como baleia A, estava visivelmente debilitada, magra e com parasitas, possivelmente devido a uma colisão com um navio. Imagens das caudas de ambas as baleias foram enviadas para o banco de dados Happywhale, o que permitiu aos pesquisadores identificá-las.

A baleia B está no banco de dados desde 1993, sugerindo que a idade não impede sua atividade sexual. Imagens de seus órgãos genitais também foram adicionadas ao banco de dados para estudos de especialistas em todo o mundo que buscam o entendimento da atividade sexual da espécie.

O relatório destaca uma mudança na abordagem científica, onde comportamentos sexuais antes considerados “desviantes” são agora documentados e estudados em muitas espécies, levando alguns pesquisadores a sugerir que a bissexualidade pode ser mais comum do que se pensava anteriormenteO estudo completo está disponível na revista Marine Mammal Science.

Fonte(s): IFLScience / The Independent Foto(s): Reprodução / Lyle Krannichfeld e Brandi Romano

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