Localizando na região de Assan, extremo leste da Índia, o parque nacional de Kaziranga possui um histórico sucesso de conservação, especialmente quando se trata de rinocerontes, de acordo com uma reportagem produzida pela BBC.
Há um século, o número de rinocerontes no local não passava de cinco, enquanto que, atualmente, são registrados 2,4 mil exemplares – caracterizando dois terços da população mundial. No entanto, a maneira como essa conservação é feita foi considerada controversa. A verdade é que os seguranças do parque têm pleno direito, normalmente garantido apenas a forças policiais, de atirar para matar.
Em razão a isso, em média, são registradas cerca de duas mortes por mês, e mais de 20 por ano. Em 2015, por exemplo, mais caçadores morreram ali do que rinocerontes foram abatidos. Em mercados no Vietnã e na China, os chifres do animal são consumidos como cura milagrosa para diversas condições, que incluem cânceres e disfunção erétil. Logo, o preço do produto é alto, podendo chegar a 14 mil reais por 100 gramas de chifre – mais caro do que o ouro. Enquanto que os chifres dos rinocerontes indianos são menores do que os dos africanos, eles são vendidos como mais potentes.
Em entrevista à BBC, dois guardas que trabalham no parque nacional indiano afirmaram que as instruções são bem claras: “Sempre que você avistar caçadores, use suas armas para caçá-los”. Nos quatro anos em que assumiram a função, os guardas afirmaram que chegaram a atirar em pessoas em duas ocasiões, embora nunca tenham matado ninguém. No entanto, se o fizessem, sabem que as chances de serem punidos são baixas.
O poder de execução foi garantido aos guardas pelo governo, que prometeu proteção judicial em caso de mortes. No entanto, os mais críticos ao método afirmam que estes homens estariam sendo instruídos a realizar “execuções extrajudiciais”. A reportagem da BBC ainda descobriu que levantar dados sobre os mortos do parque é difícil, uma vez que, de acordo com um oficial do Departamento de Florestas da Índia, que controla os parques nacionais, não são mantidos registros.
Explicando sobre o método de abordagem, o diretor do parque, Satyendra Singh, afirmou que primeiro é feita uma abordagem: “quem são vocês?”. “Mas, se eles decidirem disparar, nós temos que matá-los”, explicou. Segundo ele, a prioridade é tentar prender os caçadores, para que possam obter maiores informações sobre as gangues. Enquanto que a prática reduziu o número de mortes dos animais, para os grupos tribais que vivem florestas, o aumento da taxa de homicídios é um problema, uma vez que atribuem a morte de inocentes aos guardas do parque.
David Reid Kachu Kealing, um desses moradores, contou à reportagem que seu filho, Goanburah, havia sido atingido por tiros enquanto procurava pelas vacas da família. As autoridades responsáveis pelo parque, no entanto, afirmaram que os guardas só dispararam contra Goanburah, porque ele não teria respondido à abordagem. Como não são registradas corretamente, as mortes dos caçadores acabam não sendo investigadas. O parque, por sua vez, afirma que não é responsável por investigar os casos e que as ações tomadas estão de acordo com a lei.