O governo da Índia, através do secretário do Ministério da Saúde, Lav Agarwal, pediu na última quinta-feira (20/05) que todos os estados do país declarem epidemia de mucormicose — um tipo de infecção extremamente perigosa provocada por fungos.
O pedido veio após um número crescente de casos de infecção que acomete pacientes da Covid-19, mesmo os que já estão curados do vírus. Eles estão apresentando infecção grave que levam à amputação de partes do corpo, em especial o olho.
Em declaração, o governo justifica que a medida é necessária porque a infecção fúngica da mucormicose exige tratamento complexo de múltipla abordagem, composta por cirurgião oftalmologista, otorrinolaringologista, cirurgião geral, neurocirurgião, cirurgião bucomaxilofacial, e outros profissionais.
Além disso é necessário o fornecimento contínuo de Anfotericina B — um medicamento antifúngico que custa mais de R$ 1.000.
A Índia vai liberar instituições de saúde privada, pública e faculdades de medicina para que façam a triagem dos casos e procedam com o diagnóstico da mucormicose, seguindo as diretrizes do ministério da saúde, bem como do Conselho Indiano de Pesquisas Médicas.
Os casos
A infecção foi detectada em diversos estados do país em pacientes com Covid-19 — especialmente os que tomaram qualquer tipo de imunossupressores (como por exemplo os corticoides que são usados em pacientes graves para reduzir a inflamação provocada pelo vírus).
Outros pacientes que estão em risco são os diabéticos com controle desajustado. A infecção não atinge apenas os pacientes com Covid-19, mas também afeta os pacientes já curados.
“Esta infecção fúngica está levando a morbidade e mortalidade prolongadas entre os pacientes da Covid-19”, disse o ministério da saúde em nota à imprensa.
A mucormicose, chamada popularmente como “fungo negro”, está aumentando rapidamente em toda a Índia. Dois estados declararam oficialmente epidemia: Haryana (18/05) e Rajastão (19/05). Diversos casos foram registrados nos estados de Karnataka, Uttarakhand, Telangana, Madhya Pradesh, Andhra Pradesh, Haryana e Bihar.
Até o momento, nenhuma contagem oficial foi feita por parte do governo porque a infecção era considerada rara. Agora, todos os casos confirmados ou suspeitos em todos os hospitais do país terão que ser reportados para o ministério da saúde indiano.
Como tudo começou?
Os primeiros casos de alerta ocorreram no início do mês de maio, quando todos os hospitais da Índia estavam em colapso na segunda onda da Covid-19 provocada pela nova cepa. Hospitais relataram casos de pacientes com Covid-19 ou que estavam curados há poucas semanas, apresentando infecção por mucormicose.
Na semana passada, o Dr. Randeep Guleria alertou abertamente que a mucormicose associada à Covid-19 tem um culpado, que seria o “uso irracional dos corticoides” durante o tratamento dos pacientes. Segundo ele, os corticoides devem ser usados apenas em casos graves que exigem o uso de oxigênio.
A secretaria de saúde de Maharashtra relatou mais de 1.500 casos de mucormicose. O estado de Gujarat também relatou que teve 900 casos de infecção pelo fungo um mês antes, em abril.
O principal medicamento usado é a Anfotericina B, que sofreu forte escassez no mercado, mesmo sendo fabricado na Índia, levando um intenso mercado ilegal da injeção com valores 10x acima do valor usual.
A falta de registros oficiais por parte do governo faz os especialistas acreditar que o número de mortes é extremamente subestimado pela falta de registros oficiais.
Segundo informações de médicos ouvidos pela BBC, muitos são forçados a retirar os olhos e osso da mandíbula em uma tentativa de evitar que o fungo se espalhe e atinja o cérebro. Infelizmente, muitos ficam desfigurados de forma permanente.
Saiba mais! A infecção por mucormicose ocorre, em geral, pelo contato direto com os esporos do fungo que estão no solo, na vegetação, frutas e em produtos em decomposição. Além disso, os esporos do fungo também podem entrar no corpo através da pele, em arranhões, queimaduras, cortes e outros traumas cutâneos. Os principais sintomas incluem edema facial de um dos lados do rosto, congestão nasal, lesões pretas no nariz ou dentro da boca. Os fungos podem se espalhar e atingir os olhos, pulmões e cérebro — levando ao coma e morte. Se não for detectada de forma precoce, a infecção torna-se voraz e provoca cegueira em 80% dos contaminados. Diabéticos podem ser afetados pelo fungo entre 12 a 15 dias após a cura da Covid-19. Os principais medicamentos usados de forma intravenosa (na veia) são a Anfotericina B (R$ 1.000) e o Posaconazol (R$ 3.000). Pacientes com câncer, com HIV ou AIDS, que façam uso de corticoides, bem como os que possuam o sistema imune gravemente comprometido, são os principais atingidos por infecções graves da mucormicose. |
Fonte(s): Times of India / Forbes / BBC Imagens: Reprodução / Shutterstock