Botox poderia proteger pessoas de contrair coronavírus, diz polêmico estudo francês

de Redação Jornal Ciência 0

A toxina botulínica foi projetada para ajudar a interromper ou disfarçar a formação de rugas, além de diversas outras funções clínicas, mas de acordo com um estudo francês, o Botox também pode ajudar a proteger pessoas de contrair coronavírus.

Os pesquisadores disseram que dos pacientes que receberam o tratamento até julho do ano passado, apenas dois apresentavam sinais de estarem doentes. Para efeito de comparação, eles sugeriram que 4,4% da população francesa já havia sido infectada com o vírus.

A toxina, uma das mais perigosas conhecidas pela ciência, ajuda a reduzir as rugas porque relaxa os músculos da testa e de outras partes do rosto. Também é usada na prática médica em diversas situações, como em enxaquecas, contrações musculares involuntárias e transpiração excessiva, dentre outros.

Cerca de 193 pacientes foram envolvidos no estudo francês, dos quais 146 eram mulheres. Eles estavam na casa dos 50 anos, em média. Todos receberam Botox para doenças médicas, revelou a equipe do Hospital Universitário de Montpellier.

Todos os voluntários foram acompanhados por 3 meses após as injeções de Botox para verificar quantos haviam contraído o vírus. Nenhum dos participantes testou positivo para Covid, embora houvessem dois casos suspeitos.

Uma mulher de 53 anos desenvolveu sintomas após retornar de uma viagem a Las Vegas, mas o teste deu negativo. Uma mulher de 70 anos também adoeceu, mas nunca não foi testada. Nenhum dos pacientes foi hospitalizado, escreveram os cientistas no estudo publicado no Journal of Stomatology, Oral and Maxillofacial Surgery.  

O que dizem os cientistas do estudo?

A equipe comentou: “Nossos resultados mostram uma diferença significativa entre o número de indivíduos infectados na população em geral e o número de pacientes injetados com Botox que mostraram sinais de Covid19”, de acordo com o jornal britânico Daily Mail.

Eles admitiram que a região onde os pacientes foram selecionados “não era uma das áreas mais afetadas” na França.

Mas, para sugerir que o Botox pode ter ajudado a barrar a Covid-19, a equipe apontou uma mulher de 64 anos de Lozere, no sul da França, que usou Botox. Eles alegaram que ela não pegou o vírus, apesar de todas as outras pessoas em sua pequena aldeia terem sido infectadas.

Os cientistas também apontaram para uma mulher de 46 anos que não contraiu Covid-19 depois que sua filha testou positivo para o vírus. Não dizem quantos anos a filha tinha ou se moravam juntas.

O Dr. Dominique Batifol, principal autor do estudo e outros colaboradores do artigo sugeriram que isso poderia ajudar a interromper a infecção por Covid-19. Eles apontaram para outros estudos que sugeriram que a nicotina bloqueia o receptor ao qual a acetilcolina se liga, para apoiar sua teoria.

A toxina botulínica atua interrompendo a liberação do neurotransmissor acetilcolina, paralisando os músculos.

Pesquisas anteriores haviam sugerido que fumantes eram menos propensos a sofrer de Covid-19 grave se estivessem infectados, mas as evidências sobre o assunto foram confusas desde então e controversas cientificamente.

A equipe admitiu que mais pesquisas são necessárias para determinar como o Botox poderia interromper uma infecção pelo coronavírus.  

Críticas

Especialistas descreveram o estudo como “extremamente pobre” em dados e insistiram que não provava nada sobre se o Botox era alguma promessa na luta contra o coronavírus.

O professor Willem van Schaik, diretor do Instituto de Microbiologia e Infecção da Universidade de Birmingham, criticou o estudo em entrevista ao Daily Mail.

“Este artigo não pode ser usado como evidência, nem mesmo como evidência fraca, de que o Botox pode proteger contra a Covid-19. O padrão ouro para determinar se um tratamento é eficaz no tratamento ou prevenção da Covid-19 é realizar um ensaio clínico randomizado no qual você compara o tratamento com um placebo. Este artigo não descreve tal coisa”, disse o professor.

O professor Willem van Schaik acrescentou: “O resto do artigo não dá muito em termos de uma explicação mecanicista do Botox na infecção pelo SARS-CoV-2 (o vírus que causa a Covid-19) e é altamente especulativo”.  

Fonte(s): Daily Mail Imagens: Reprodução / Intraceuticals

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