Mulheres antigas encontradas em caverna russa são semelhantes à população moderna

de Julia Moretto 0

Os restos de duas mulheres caçadoras foram encontradas em uma caverna russa e analisados pelos cientistas. Os resultados revelam uma semelhança inesperada entre sua composição genética e a da população moderna que vive na região hoje.

 

Isto sugere que por quase 8.000 anos, houve muito pouca migração no canto congelado e oriental da Rússia. O que é surpreendente, porque na maioria das partes do mundo os genes humanos se diversificaram significativamente ao longo do mesmo período de tempo, graças à chegada da agricultura.

 

Mas os novos resultados genéticos descobriram que o DNA das populações modernas do Leste Asiático está relacionado com o de duas mulheres caçadoras-coletoras que viveram na região há 7.700 anos. “Geneticamente falando, as populações de todo o norte da Ásia Oriental mudaram muito pouco para cerca de oito mil anos“, disse a pesquisadora Andrea Manica, da Universidade de Cambridge, no Reino Unido.

 

O estudo analisou o DNA tirado os dentes e ossos das duas mulheres que foram encontradas em uma caverna conhecida como “Portão do Diabo”, localizada no Bacia Amur, região no extremo leste da Rússia – próximo da fronteira com a Coreia do Norte.

 

A caverna foi escavada pela primeira vez por cientistas soviéticos em 1973, quando a equipe se deparou com centenas de pedras e ferramentas de osso, madeira de uma antiga residência, tecidos, grama selvagem e os restos de cinco seres humanos. De acordo com o DNS, puderam identificar que uma das mulheres tinha 20 anos e a outra 50. A análise desse DNA antigo é incrivelmente complicada, visto que a informação genética se degrada ao longo do tempo. Mas a equipe foi capaz de obter o DNA mitocondrial.

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Em particular, eles conseguiram informações genéticas suficientes da mulher de 50 anos de idade para se ter uma ideia de como ela era. Os resultados sugerem que ela tinha olhos castanhos, cabelo grosso e era intolerante à lactose. Ela também era geneticamente semelhante aos grupos que ainda vivem na região atualmente, particularmente o Ulchi, que até recentemente mantinham um estilo de vida de caçador-coletor.

 

Esta linha genética ininterrupta é surpreendente, já que é muito diferente da história da Europa Ocidental, onde, ao longo dos últimos 10.000 anos ou mais, a migração contínua de primeiros agricultores da Jordânia e da Síria oprimiu as populações de caçadores-coletores locais e introduziu uma diversidade genética inédita.

 

Essa migração agrícola foi seguida por uma onda de cavaleiros da Ásia Central durante a Idade do Bronze, e desde então, a viagem pela região tem sido consistente.Mas parece que este pequeno canto da Ásia Oriental estava muito mais isolado e os pesquisadores estão agora tentando descobrir o porquê.

 

A equipe de Manica acredita que provavelmente tinha uma ligação com a variação extrema do clima na região nos últimos oito milênios. Outros especialistas no campo dizem que é importante acompanhar esse trabalho estudando o DNA dos primeiros agricultores da região, a fim de ter uma ideia melhor de como a agricultura se espalhou para a bacia e não através de novas populações.

 

Além disso, a pesquisa destaca a importância de proteger e estudar esses descendentes diretos de caçadores-coletores enquanto eles ainda estão por aí. “Estes são os grupos étnicos com as sociedades tradicionais e raízes profundas em todo leste da Rússia e da China, cujas cultura, língua e populações estão diminuindo rapidamente,” disse Veronika Siska, pesquisadora da equipe.

 

Nosso trabalho sugere que esses grupos formem uma linhagem genética forte descendente diretamente dos primeiros caçadores-coletores neolíticos que habitavam a mesma região há milhares de anos“, completou. A pesquisa foi publicada na Science Advances.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ] 

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