Misteriosa arma biológica soviética finalmente é identificada

de Merelyn Cerqueira 0

Yekaterinburg, ou Ecaterimburgo, é uma cidade russa localizada na porção oriental dos Montes Urais.

Dona de uma obscura história, ela é mais conhecida por abrigar a Casa Ipatiev, onde a família Romanov, do último czar, foi executada em 1918, durante a Guerra Civil Russa, dando início ao governo bolchevique. Em 1991, a cidade foi escolhida pelo presidente russo como capital de apoio, caso o golpe de Estado em curso em Moscou tivesse êxito.

No entanto, e conforme relatado pela Ars Technica, Yekaterinburg, em 1979, também foi palco de um surto maciço de antraz, devido ao acidente que liberou uma névoa mortal de uma instalação secreta até então conhecida Sverdlovsk. Sem saber exatamente qual a estirpe responsável, apenas agora, depois de analisar minunciosamente alguns dos esporos bacterianos mais preservados, cientistas finalmente conseguiram decodificar todo o genoma do culpado: o Bacillus anthracis, de acordo com informações da IFLScience.

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Em um estudo publicado no mBio, a equipe, liderada pela Universidade de Northern Arizona, relatou que usou tal informação para identificar a estirpe exata do antraz, mas afirmou que a descoberta foi uma surpresa. Até em então, agências de inteligência em todo mundo alegavam que os soviéticos estavam desenvolvendo estirpes resistentes a vacinas para uso como arma biológica. Porém, de acordo com os cientistas, a estirpe libertada coincide com um tipo encontrado na natureza, e sem qualquer evidência de manipulação genética.

No entanto, a mesma é considerada representar um “estoque de células mestre” – em outras palavras, o fornecimento de uma forma mortal e virulenta de antraz que pode ser manipulada para experimentações. Ainda, e preocupantemente, há uma boa chance de a mesma estirpe estar sendo usada em experimentos em outros países. Porém, graças ao estudo em questão, agora ela pode ser rastreada por meio de sua identidade genômica.

Essa identidade genômica pode agora ser usada para rastreamento forense do material em uma escala global e para futuras investigações sobre o antraz”, escreveram os pesquisadores no artigo. Acredita-se que o acidente que resultou na liberação do antraz em Yekaterinburg tenha ocorrido após um filtro de ar dentro da instalação secreta ter quebrado, lançando os esporos na região. Caso tivesse explodido em direção ao centro da cidade, milhares de pessoas teriam morrido no mesmo momento. No entanto, do modo como aconteceu, acabou resultando em 66 mortes por inalação.

Como a catástrofe representaria uma grave violação da Convenção sobre Armas Biológicas, as autoridades rapidamente tentaram encobrir o evento. Registros médicos sobre os infectados foram destruídos e porta-vozes do país culparam os alimentos comprados no mercado negro pelas mortes.

Contudo, a relação da Rússia com o antraz não terminou aí. No início de 2016, bactérias congeladas por cerca de 75 anos em permafrost escaparam do deserto da Sibéria em razão do derretimento polar. Como resultado, muitos moradores morreram, enquanto outros tiveram de ser evacuados.

[ IFL Science ] [ Foto: Reprodução / Wikipédia

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