Cientistas acabam de descobrir que a Via Láctea, após séculos pensando o contrário, não é um disco plano

de Merelyn Cerqueira 0

Um novo estudo publicado na revista Nature Astronomy revelou que a Via Láctea não é na verdade um disco plano e perfeito – e ela está seriamente distorcida nas bordas. A descoberta ocorreu graças a novas medições de distância usadas em estrelas que vivem nas regiões mais externas de nossa galáxia.

 

Muitas vezes comparamos nossa galáxia com a vizinha Andrômeda, que provavelmente é maior que a Via Láctea, embora ambas sejam muito grandes, espirais e de mesma idade de formação. Mas, como vivemos dentro dela, não podemos realmente observar sua forma completa – seria algo como estar em um submarino e tentar descobrir as dimensões do oceano. Porém, dado o que sabemos sobre as galáxias em geral, usando a tecnologia avançada existente até o momento, a Via Láctea provavelmente se pareceria muito com Andrômeda – porque podemos observá-la perfeitamente.

 

Agora, os astrofísicos responsáveis pelo estudo descobriram que quanto mais longe do centro galáctico, mais distorcido o disco da Via Láctea se torna. Em outras palavras, seu plano galáctico não é uma linha reta ou plana, mas sim alongado, como um “S”. Sim, a Via Láctea tem forma de “S” e não de disco.

 

De acordo com o astrônomo Chen Xiaodian, do Observatório Astronômico Nacional da Academia Chinesa de Ciências (NAOC), é muito difícil determinar distâncias que vão do Sol até partes do disco de gás externo da galáxia, sem termos uma ideia clara do que realmente é esse disco.

Pensávamos que a Via Láctea era plana, assim como a galáxia de Andrômeda (foto), nossa vizinha. Na imagem, foi usada a técnica de faixa ultravioleta para melhor registro. Foto: Divulgação / Satélite Galex da Nasa

Uma maneira de solucionar isso é usando uma classe de estrelas pulsantes chamadas Cefeidas. Por pulsar com uma frequência precisa – e ser muito bem conhecida e estudada pelos astrônomos –, ela permite aos astrofísicos calcular sua magnitude absoluta e distância.

 

Para visualizar com exatidão corpos celestes usando técnicas ópticas, a poeira, gás e até mesmo a própria estrela, podem atrapalhar a determinação precisa de seu brilho, o que significa que há um pouco de incerteza nos cálculos de distâncias de muitas pesquisas. No entanto, usando a radiação infravermelha, pode-se penetrar a poeira, gás e outros elementos celestes, o que contribui para um resultado mais preciso.

 

Usamos um novo catálogo de observações infravermelhas obtidas com o Observatório Espacial WISE, da NASA, para reduzir os efeitos da poeira e determinar as distâncias para as estrelas Cefeidas com incertezas entre 3 a 5% – uma precisão nunca antes conquistada”, explicou o astrofísico Richard de Grijs, da Universidade Macquarie, na Austrália.

 

Combinados com suas aparentes localizações no céu, construímos um mapa tridimensional da Via Láctea, traçado pelas estrelas Cefeidas, que comparamos com a distribuição de gases. Os mapas e análises pareciam se desviar de um disco achatado“, complementou.

O pesquisador acrescentou que esse não é um fato incomum para uma galáxia espiral, de se tornar deformada nas bordas. O que faz a Via Láctea tão interessante é que ela inclui estrelas muito jovens nestas bordas deformadas.

 

O movimento vagaroso do eixo da Via Láctea parece ter forçado o disco externo a seguir sua rotação, mas a rotação o deixou para trás – o que causa a torção“, disse ele. “Isso não havia sido visto antes na Via Láctea, mas o astrônomo aposentado Frank Briggs havia descoberto algo semelhante há alguns anos em várias galáxias espirais de grande gigantescas. Combinando os nossos resultados e os dele, acreditamos que a mesma dinâmica ocorre na Via Láctea“, concluiu Richard.

 

A descoberta fornece uma melhor compreensão da estrutura tridimensional de nossa galáxia e pode nos ajudar a entender melhor as interações dela com suas galáxias vizinhas, especificamente as Nuvens de Magalhães (que são duas galáxias anãs satélites da Via Láctea), bem como permitirá estabelecer um limite na quantidade e distribuição de matéria na galáxia, permitindo possibilidades de estudo para a famosa e misteriosa “matéria escura”

[ Fonte: Science Alert ]

[ Fotos: Reprodução / Chen Xiaodian ]

Jornal Ciência