Astrônomos afirmam ter encontrado enormes estruturas invisíveis na Via Láctea

de Bruno Rizzato 0

Astrônomos acreditam ter encontrado gigantes estruturas “invisíveis” escondidas na Via Láctea. As estruturas parecem ser enormes, aproximadamente do tamanho da órbita da Terra em torno do Sol, podendo ajudar a mostrar a localização de um grupo de matéria em falta no Universo, conhecido como “o problema dos bárions desaparecidos”.

A detecção dessas estruturas foi feita por astrônomos que trabalham no telescópio CSIRO’s Compact Array, no leste da Austrália. Embora pesquisas anteriores tenham sugerido sua presença, este novo estudo, publicado na revista Science, ajuda a limitar seu tamanho e forma de maneira mais precisa.

Porém, apesar do tamanho, não parecem ser objetos sólidos. Essencialmente, as estruturas aparentam ser grandes aglomerações de algum tipo de material, possivelmente nuvens frias de gás, presentes na fina faixa gasosa existente entre as estrelas. Os astrônomos descreveram tais estruturas de formatos estranhos, como uma espécie de avelã: com material no exterior e um centro oco. Algumas podem até mesmo ter o formato de uma folha. Porém, sua origem, idade e quantidade permanecem um mistério. “É tudo adivinhação, nesta fase. Podem haver milhares de estruturas como essas na galáxia”, disse o autor da pesquisa, Keith Bannister, do CSIRO.

As estruturas foram encontradas através da observação do efeito de “lente” produzido em galáxias distantes. Neste caso, uma refração da luz de um objeto brilhante distante (quasar) foi observada dentro de uma galáxia chamada PKS 1939-315, em junho de 2014. Quando a luz passa através das estruturas, ela fica distorcida, especificamente na faixa de comprimento de onda de rádio. Não é exatamente o mesmo efeito da lente gravitacional, na qual um objeto maciço dobra a luz mais distante, produzindo efeitos. Mas o interessante é que as estruturas não possuem efeito sobre o brilho óptico, sugerindo que elas são desprovidas de poeira ou outro material mais sólido.

Os cientistas descobriram que elas estão se movendo a cerca de 50 quilômetros por segundo através do meio interestelar, e as detectadas até agora residem a cerca de 3.000 anos-luz de distância. Mas a parte realmente interessante de tudo isso é que estas estruturas inéditas poderiam ser responsáveis por uma grande fração da massa escondida na Via Láctea.

Bannister, porém, explica que elas não têm nada a ver com a matéria escura. A existência de matéria escura é frequentemente deduzida a partir da capacidade de uma galáxia em manter-se junta, apesar de sua rotação. Estas estruturas não desempenhariam um papel nisso, e sim, no citado problema dos bárions desaparecidos.

Em suma, bárions são partículas que compõem mais de 99,9% da massa dos átomos encontrados no cosmos. Porém, após 10 bilhões de anos, descobriu-se que pelo menos metade dos bárions estariam “desaparecidos”. “Isso decorre da teoria do Big Bang. O pouco peculiar é que ela nos diz que cerca de 4% do universo deve ser feito de átomos, bárions, e outras dessas coisas que nos compõem”, explica Bannister, completando que o problema é justamente que o número observável não chega aos 4%, supondo que o restante estaria escondido em algum lugar do espaço. Talvez, essas estruturas invisíveis, pelo menos em comprimentos de onda ópticos, possam ser a resposta. “Esperamos que, com o nosso trabalho, possamos estimular um pouco da postulação teórica a respeito de como essas coisas poderiam ter se formado”, concluiu o pesquisador.

[ IFLS ] [ Foto: Reprodução / NASA ]

Jornal Ciência