Desde 1980 a Ciência se mostrou capaz de recriar materiais semelhantes aos encontrados na natureza. No entanto, recentemente, pesquisadores descobriram uma série de minerais diferentes de qualquer coisa previamente encontrada dentro de uma mina na Sibéria.
Os materiais cultivados em laboratório são conhecidos como estruturas metalorgânicas (MOF) e trabalham de forma semelhante a esponjas moleculares, absorvendo gases como hidrogênio e dióxido de carbono. Tendo em mente que as emissões de CO2 estão ameaçando o futuro do nosso planeta, tal descoberta poderia ter grande impacto sobre a vida na Terra. Durante quatro décadas os cientistas aperfeiçoaram e melhoraram lentamente esses MOFs, sem nunca suspeitarem que eles poderiam existir na natureza.
A descoberta recente, de acordo com o pesquisador Tomislav Friščić, da Universidade McGill, no Canadá, “muda completamente a visão sobre esses materiais altamente populares conhecidos como unicamente artificiais.” Isso, segundo ele, “levanta a possibilidade de haver outros MOFs semelhantes em abundância lá fora”.
Os minerais encontrados na Sibéria, chamados de stepanovite e zhemchuzhnikovita, na verdade foram descobertos pela primeira vez entre 1940 e 1960. No entanto, devido às limitações tecnológicas da época, suas estruturas nunca tinham sido devidamente analisadas. Assim, eles foram ignorados até que Friščić encontrou um artigo sobre ambos em meados de 2010. O pesquisador percebeu então que as descrições estruturais iniciais foram feitas a partir de MOFs cultivados em laboratório.
Sem as amostras originais, ele decidiu replicar os materiais siberianos em seu laboratório. Finalmente, dois colaboradores russos encontraram as amostras na mina para a equipe confirmar a semelhança entre ambos e anunciar a descoberta.
Considerando que os MOFs talvez possam nos ajudar a bloquear o excesso de CO2 na atmosfera, a descoberta pode ser considerada importante. Porém, é bem provável que ambos os minerais siberianos não sejam utilizados tão cedo, já que suas estruturas são muito fechadas para capturar carbono. Eles também são difíceis de obter: são encontrados a 230 metros de profundidade abaixo do permafrost (camada de gelo permanente).
A ideia dos pesquisadores é que a descoberta sirva como um sinal de que há mais destes MOFs na natureza e que eles poderão ser utilizados na captura de carbono futuramente ou melhorar as versões artificiais que já temos. Os resultados do estudo foram publicados na revista Science Advances.
[ Fotos: Reprodução / Igor Huskić / Friščić Research Group / McGill University ]