É totalmente possível eliminar transmissão do HIV da mãe para o bebê, diz pesquisas recentes

A OMS recomendou regime denominado Opção B +, onde mulheres grávidas com HIV recebem tratamentos antirretrovirais durante a gestação e depois para toda a vida.

de Thuany Motta 0

A pandemia de HIV e AIDS é considerada a mais mortal desde a gripe espanhola que ocorreu há 100 anos. Os números mostram que a AIDS já causou 32 milhões de mortes até agora, mas algumas estimativas mais abrangentes citam números de 42 milhões de vítimas.

E, apesar do enorme progresso nos tratamentos que permitem às pessoas viverem uma vida longa e saudável, ainda não temos uma cura para o vírus HIV: ainda existem muitos desafios que precisam ser superados e um deles é a transmissão que acontece de mãe para filho.

Mesmo ocorrendo em todo o mundo, países de renda média e baixa enfrentam dificuldades particulares na hora de lidar com esse problema.

Em seus esforços na última década, a Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou um regime denominado Opção B +, em que mulheres grávidas e portadoras do HIV recebem tratamentos antirretrovirais já durante a gestação e depois para toda a vida.

Um novo estudo, publicado na revista científica The Lancet HIV – uma das mais respeitadas do mundo – demonstrou que esta abordagem deve permitir a eliminação definitiva da transmissão do vírus da mãe para o filho.

Pesquisadores do Karolinska Institutet, na Suécia, e da Muhimbili University of Health and Allied Sciences e Management and Development for Health, na Tanzânia, examinaram a eficácia da intervenção da Opção B + neste país africano.

Concentrando-se em uma população de mulheres grávidas em Dar es Salaam (a maior cidade da Tanzânia), os dados relataram que 10.161 mulheres grávidas com HIV foram inscritas nos cuidados da Opção B +, e até quatro anos após o início do programa, 90% delas tinham níveis virais suprimidos.

De acordo com essas descobertas, os pesquisadores afirmam que o objetivo da OMS de eliminar a transmissão vertical é possível com esse método.

“Nosso estudo confirma os benefícios duradouros para a saúde dos tratamentos antirretrovirais para mulheres que seguem a Opção B + durante a gravidez e, portanto, também para seus bebês”, disse o autor principal do estudo, Dr. Goodluck Lyatuu, do Departamento de Saúde Pública Global do Instituto Karolinska, em um comunicado à imprensa.

Embora as descobertas sejam extremamente positivas, o estudo também documenta alguns desafios conhecidos e inesperados. Na Tanzânia, 1,7 milhão de pessoas entre 15 e 49 anos vivem com HIV. Para que o programa seja realmente bem-sucedido, essas barreiras extras ao atendimento devem ser abordadas.

“Os resultados também apontam para alguns outros desafios importantes quando se trata de obter todos os benefícios de longo prazo da Opção B +. Focar, por exemplo, em alguns subgrupos de mulheres, como mães jovens, mães que iniciam o atendimento pré-natal tarde durante a gravidez e mães com HIV avançado”, disse o Dr. Lyatuu.

Em 2019, havia cerca de 150.000 novas infecções por HIV entre crianças menores de cinco anos. Este ainda é um número incrivelmente alto, mas é uma grande melhoria em relação a 2010, quando o número era o dobro. Desde o início de programas de prevenção como a Opção B+, a UNICEF estima que 1 milhão de mortes e 2,2 milhões de infecções por HIV foram evitadas entre crianças.

A educação e o acesso a medicamentos preventivos como a profilaxia pré-exposição e os tratamentos antirretrovirais são essenciais para paralizar com sucesso as novas transmissões do HIV.

Pessoas que vivem com o vírus e têm tratamentos eficazes podem ter uma vida longa e saudável, e aqueles cuja carga viral se torna indetectável não podem transmitir o vírus.

Embora a ciência tenha feito um enorme progresso no combate e no tratamento desta pandemia global, a estigmatização social – uma das razões pelas quais as infecções não foram impedidas de se espalhar no início dos anos 1980 quando surgiu pela primeira vez – ainda é um grande obstáculo que tem o poder de interferir neste sucesso, e precisa ser tratada.

Fonte(s): IFLScience Imagens: Reprodução / Pixabay via Altruísmo Eficaz / El Comercio

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