Cientistas divulgaram nesta quarta-feira (27/07), mais 2 casos de pacientes que foram curados do HIV. O primeiro paciente é um homem, de 66 anos, que convivia com o vírus desde 1980.
O segundo caso é de uma mulher de 70 anos que teve cura funcional — o único caso do mundo, até o momento. As revelações foram feitas na Conferência Internacional de AIDS, realizada em Montreal, no Canadá.
O paciente dos EUA é identificado carinhosamente como Paciente City of Hope — Paciente Cidade da Esperança, homenagem ao hospital que realizou o tratamento. Os médicos afirmam, segundo informações da BBC, que ele está curado. Ele apresentou um quadro de leucemia aos 63 anos e precisou de transplante de medula.
“Ficamos entusiasmados em informá-lo que seu HIV está em remissão e que ele não precisa mais tomar a terapia antirretroviral que estava usando há mais de 30 anos”, disse à BBC a infectologista Jana Dickter, do Hospital City of Hope.
O transplante não foi realizado com finalidade de curá-lo do HIV, mas sim para curá-lo da leucemia. Neste caso, o doador da medula era naturalmente resistente ao vírus HIV. Essa coincidência rara e mais que bem-vinda permitiu a cura.
O paciente parou de tomar os medicamentos antirretrovirais, usados no tratamento de pacientes com HIV. Exames de laboratório foram feitos inúmeras vezes. Após confirmação de que o vírus não pode mais ser encontrado em seu corpo, há mais de 17 meses, o paciente comemora a cura.
Por ser um senhor de 66 anos, conviveu no auge da epidemia dos primeiros casos de HIV. Vários de seus amigos morreram antes que os primeiros medicamentos fossem lançados, já que a doença era um verdadeiro mistério à época. “Quando fui diagnosticado com HIV em 1988, como muitos outros, pensei que era uma sentença de morte. Nunca pensei que viveria para ver o dia em que não tivesse mais HIV”, disse em comunicado à BBC.
Os médicos salientam que, apesar de parecer algo simples, o transplante de medula não representa uma opção adequada para a maioria dos pacientes com HIV, por ser um procedimento cirúrgico complexo com efeitos colaterais negativos.
Cura funcional
A segunda cura apresentada é o de uma mulher da Espanha, de 70 anos, um caso de cura funcional que pode lançar um novo olhar sobre os mecanismos desconhecidos do nosso corpo.
A paciente foi diagnosticada na fase aguda da doença, a AIDS. Após iniciar tratamento com antirretrovirais e parar de tomá-los, continua há 15 anos mantendo controle absoluto da replicação do vírus, com carga viral indetectável, sem tomar nenhuma medicação.
Este caso é considerado como “cura” porque, apesar de ter as células infectadas, seu corpo não tem HIV circulando pelo sangue, sendo indetectável naturalmente e incapaz de transmitir o vírus para outras pessoas. Este caso é o primeiro do mundo com este mecanismo.
Após intensas pesquisas, ficou provado que ela não tinha nenhum fator genético de proteção contra o HIV, mas possui mecanismos imunológicos incríveis que controlam a replicação viral. Os cientistas acreditam que várias células do sistema imunológico, em conjunto, trabalham para bloquear a infecção, impedindo que o HIV volte a se multiplicar.
Acredita-se que isso ocorra por dois tipos de linfócitos responsáveis por essa defesa incrível: Células NK (Natural Killer) — função de reconhecer células estranhas ao organismo, infectadas por vírus ou com alterações — e Células T CD8+.
A paciente possui altos níveis destas duas células, que, no caso dela, podem bloquear o vírus ou destruir células infectadas, conseguindo um cuidado funcional permanente na proteção do corpo.
“A cura funcional do HIV é um objetivo muito mais realista em grande escala do que uma cura esterilizante, por isso é tão importante entender estes mecanismos”, disse Juan Ambrosioni, médico e cientista da Unidade de HIV do Hospital Clínic, em Barcelona.
Por que algumas pessoas são resistentes ao HIV?
O HIV entra nas células através de uma “porta”, uma proteína chamada CCR5. Raríssimas pessoas são portadoras de algumas mutações na CCR5 que “fecham” a porta de entrada do HIV nas células de defesa do nosso corpo. Cientistas do mundo todo estão na corrida do conhecimento para entender como funciona a proteína CCR5 e como usá-la através de terapia genética para curar pessoas infectadas com o vírus HIV, em breve.
Fonte(s): BBC / CNN / Clínic Hospital Imagens: Reprodução / iStock