ONG expõe o comércio ilegal de peles de animais que cresce assustadoramente na China

de Merelyn Cerqueira 0

Em uma clareira remota nas florestas tropicais da Birmânia, o corpo ensanguentado de um elefante asiático encontra-se no chão. Este, no entanto, não é mais uma vítima do comércio de marfim.

 

Na verdade, a criatura foi morta para alimentar a demanda crescente de peles de elefante na China, onde são utilizadas na medicina e joalheria. De acordo com informações do jornal inglês Daily Mail, o governo birmanês disse saber de apenas quatro casos nos últimos meses. No entanto, fontes não oficiais confirmam que pelo menos 50 elefantes foram abatidos e esfolados só este ano.

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A pele de elefante (foto) foi traficada de uma província sem lei da Birmânia para a China, onde a pele é processada e vendida apesar de uma proibição internacional de seu comércio

As imagens foram registradas durante uma operação secreta financiada pela ONG britânica, Elephant Family, dedicada à proteção de elefantes asiáticos. Os investigadores da instituição rastrearam o comércio ilegal de pele pelas carcaças ensanguentadas abandonadas por caçadores, e chegaram até um mercado ilegal de produtos de animais ameaçados de extinção, localizado em uma província sem leis entre a Birmânia e China. Ali, o couro é processado e vendido, apesar das proibições internacionais associadas a esse tipo de comércio.

 

Disfarçados de compradores, os investigadores visitaram uma oficina localizada em uma vila remota no nordeste da Birmânia, conhecida por processar a pele do animal. O comerciante responsável disse-lhes que tinha grandes encomendas de couro do outro lado da fronteira, na China. “Eu tenho um cliente em Guangdong. Entreguei mais de 30 quilos de pele na primeira vez. Ele vendeu tudo e precisou pedir mais”, disse ele. A partir daí a equipe viajou até Mong La, na fronteira entre Birmânia e China, para encontrar o mercado de animais selvagens.

 

Chamando-o de “Sin City” – fora do alcance da polícia de ambos os países – o lugar é palco para jogos de azar, prostituição, drogas e lavagem de dinheiro. Além disso, ainda serve como um importante ponto de encontro internacional de comerciantes de animais ameaçados de extinção.

 

Foi uma viagem arriscada, porque estávamos filmando escondidos”, disse um dos investigadores ao The Mail on Sunday. “Os comerciantes de lá sabem que o que estão fazendo é ilegal e, se tivesse sido pego, poderia ser muito desagradável. Não há nenhuma força policial ali e enquanto estávamos andando, nos foi oferecido vinho de ossos de tigre em enormes barris. No mercado, e em um número de lojas especializadas, havia macacos vivos em gaiolas, peles de tigre, um monte de marfim – grande parte dele claramente contrabandeado da África – além de pilhas de pele de elefante abertamente à venda por 45 euros o quilo”.

 

Acreditamos que os comerciantes se tornaram cautelosos após pressões exercidas sobre o comércio internacional de marfim de elefante e procuraram criar um novo mercado com as peles”, acrescentou. A medicina tradicional chinesa diz que o uso da pele cura problemas digestivos. No entanto, ela também é utilizada na fabricação de joias quando cortada em cubos, seca e esculpida em esferas polidas. As pérolas mais vendidas são as vermelhas, enquanto os modelos mais baratos variam entre as tonalidades laranja e amarelo.

 

Os investigadores ainda cruzaram a fronteira até a China, onde visitaram uma área conhecida como “Vale do Elefante”. Ali, os turistas podem ver os animais em reserva natural e pagar para assistir a espetáculos de estilo circense. Também são vendidas abertamente peles de elefante e as pérolas polidas em pulseiras e colares.

 

A população de elefantes asiáticos diminuiu em pelo menos 50% ao longo dos últimos 40 anos. Agora, estima-se que apenas 2.000 deles vivam em estado selvagem na Birmânia. De acordo com Ruth Powys, presidente-executiva da Elephant Family, a descoberta do novo tipo de comércio é um sinal de alerta precoce para seu crescimento que, em breve, pode sair do controle.

 

Se nós levantarmos fundos suficientes para realizar novas investigações para estabelecer a extensão total deste comércio abominável e pudermos contar com os governos para aumentarem as patrulhas, conter a crescente demanda alimentada por comerciantes e paralisar o mercado consumidor emergente, ainda pode dar tempo de impedir esse comércio e evitar a extinção do elefante asiático”, disse ela.

[ Daily Mail ] [ Foto: Reprodução / Daily Mail ]

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