A genética pode explicar o sucesso dos corredores da África Oriental?

de Merelyn Cerqueira 0

Como estamos acompanhando, mais de 10 mil atletas de 206 nações estão competindo nos Jogos Olímpicos no Rio de Janeiro. O fato é que, quando se trata de corridas de longa distância, é bem provável que, assim como nos anos anteriores, as finais sejam dominadas por atletas de países do Leste Africano. Mas por que será que os atletas desses países tendem a ter tanto sucesso na modalidade?

De acordo com Andy Galbraith, professor de fisiologia do exercício, na Universidade de East London, em um artigo publicado pela The Conversation, há quem sugira que fatores genéticos estejam envolvidos. O que parece ser uma suposição lógica quando consideramos os números de medalhas olímpicas conquistadas por atletas oriundos de regiões com recursos relativamente limitados.

Logo, não é surpresa que inúmeros estudos científicos tenham sido realizados nos últimos 15 anos tentando responder essa pergunta. Há algumas evidências que associam o tipo de corpo dos atletas do Leste Africano – pernas longas e finas – como uma contribuição para a maior eficiência na modalidade. No entanto, resultados mais completos destes estudos não identificaram traços genéticos que explicam seu sucesso conclusivamente.

Como o desempenho desse tipo de esporte é um fenômeno complicado, é pouco provável que o sucesso atlético venha como resultado de um único fator genético. Porém, é possível que esse êxito seja uma combinação de genes com outros fatores.

Se a genética sozinha não pode explicar esse domínio, um fator que também poderia estar por trás do sucesso envolve extensas as caminhadas e corridas que esses atletas fazem desde a mais tenra idade – a distância total frequentemente citada está entre 5 e 20 quilômetros. No entanto, esse fator não parece resultar em maior capacidade aeróbica (determinante para o desempenho de resistência) como as observadas em corredores europeus.

Muitos dos corredores quenianos e etíopes nasceram e foram criados em altitudes de 2.000-2.500 metros. Isso poderia elevar seus níveis de hemoglobina (uma proteína presente nas células vermelhas do sangue que transporta oxigênio em todo o corpo) e hematócritos (volume de células vermelhas no sangue) –, o que leva a um aumento da capacidade de transporte de oxigênio para os músculos.

Enquanto viver em tais altitudes não pode, por si só, explicar o desempenho, parece que os atletas da África Oriental também têm a capacidade manter a alta intensidade do treino em nessas altitudes. Tal hábito seria difícil para outros não acostumados com o ambiente.

As regiões de Iten e Addis Ababa, no Quênia e Etiópia, respectivamente, são locais para o treinamento desses atletas e ambas são localizadas a uma altura de 2.400 metros acima do nível do mar. Assim, parece lógico supor que a exposição prolongada à altitude, juntamente com a capacidade de manter treinos intensos, pode contribuir em partes para o sucesso desses corredores.

Uma razão final que também já foi muito sugerida envolve a motivação para alcançar sucesso econômico. Em países relativamente pobres, o sucesso desses atletas pode ser lucrativo além de melhorar consideravelmente a posição deles na sociedade.

Em suma, ainda não podemos dizer conclusivamente o que está por trás desse êxito fenomenal. Mas, pesquisas sugerem que é impossível que um único fator genético possa explicá-lo. Obviamente: um corpo ideal promove maior eficiência biomecânica, exposição prolongada à altitude fornece vantagens biológicas. Adicione a motivação psicológica a isso e temos variáveis importantes para a fórmula do sucesso.

[ Foto: Reprodução / Sport Recife ]

Jornal Ciência