Estudo genético sugere que comunidades indígenas australianos sejam as mais antigas sociedades da Terra

de Merelyn Cerqueira 0

Um abrangente estudo genético indicou que os indígenas australianos o grupo são de fato a mais antiga civilização contínua na Terra, que remonta mais de 50.000 anos atrás.

Eles também foram considerados os percursores dos modernos nativos que atualmente habitam o continente australiano, segundo informações da Science Alert.

O estudo foi publicado recentemente na revista Nature junto a outros dois de mesmo assunto. Eles revelam informações importantes sobre as origens e história migratória das nossas espécies, incluindo uma visão mais aprofundada sobre os ancestrais comuns de todos os seres humanos. De acordo com análises de DNA de duas das publicações feitas por uma equipe internacional de cientistas, a maioria dos Eurasianos modernos são descendentes de uma única onda de migrantes que deixaram a África cerca de 72.000 anos atrás.

Desde este evento, indígenas australianos e papuas (ancestrais dos indígenas da Nova Guiné) se separaram e aventuraram-se pelo mar, há 58.000 anos. Logo, eles foram considerados provavelmente os primeiros humanos a atravessarem um oceano. Para o pesquisador e geneticista evolutivo, Eske Willerslev, da Universidade de Copenhague, na Dinamarca, esta história esteve ausente da Ciência por um longo tempo.

Agora sabemos que os parentes deles foram os primeiros exploradores humanos reais. Nossos ancestrais estavam com medo do mundo, enquanto eles partiram nesta jornada excepcional por toda a Ásia e em todo o mar”, disse. Ao que tudo indica, ambas as populações indígenas parecem ter se separado cerca de 37.000 anos atrás, antes da fragmentação dos continentes.

Até cerca de 4.000 anos atrás, os indígenas australianos permaneceram quase completamente isolados. No entanto, nos milhares de anos que levou a chegada à Austrália, ao que tudo indica, eles entraram em contato com uma variedade de outras espécies de hominídeos. Por isso, cerca de 4% de seu genoma são oriundos de uma espécie não identificada. Para chegar a esta conclusão, a equipe sequenciou os genomas de 25 papuásios e 83 indígenas australianos de um grupo linguístico chamado Pama-Nyungan, que abrange cerca de 90% da Austrália.

Um segundo estudo, conduzido por uma equipe da Escola de Medicina de Harvard, também publicado pela Nature, mapeou os genomas de 300 pessoas de 142 diversas populações em todo o mundo. O objetivo era procurar quaisquer alterações genéticas associadas com a evolução das características humanas modernas, tais como artes em pinturas rupestres e ferramentas sofisticadas. No entanto, eles não encontram nenhuma.

Embora os resultados sejam considerados convincentes, eles ainda deixam uma série de espaços para serem preenchidos. E por isso, nem todos estão convencidos de que a equipe resolveu a questão sobre como nossos ancestrais migraram da África. Mesmo que dois dos estudos baseiem-se em uma única onda de migração a partir do continente, o terceiro sugere provas de que pelos menos dois eventos de migração ocorreram.

Este terceiro, liderado pelo antropólogo Luca Pagani, do Estonian Biocentre, em Tartu, na Estônia, apresentou evidências de uma enorme migração de seres humanos que ocorreu há 75.000 anos, e também afirma ter encontrado provas de que um evento semelhante aconteceu mais cedo, há 120.000 anos. Pagani e sua equipe ainda sugeriram que isto representa cerca de 2% dos genomas dos papuásios modernos. Logo, a chave para obtermos uma imagem mais clara sobre o que ocorreu em nossa história antiga está na combinação de evidências genéticas com arqueológicas – algo que os três estudos não exploraram plenamente.

Ainda, alguns cientistas lançaram dúvidas sobre o grau de precisão do cronograma genético. “Eu não acho que esse estudo será a palavra final sobre esta questão”, disse Darren Curnoe, Universidade de New South Wales, na Austrália, que não esteve envolvido no estudo. “Eu acho que tudo se resume às suposições que você faz no seu relógio genético, e muitas delas estão em jogo no momento, criando datas moleculares propensas a erros”.

Dessa forma, o caso sobre como os primeiros seres humanos se aventuraram para fora da África e povoaram o mundo ainda não está solucionando. No entanto, as pesquisas servem como uma confirmação importante de que os indígenas australianos realmente foram os primeiros a habitar o continente – algo que no passado ainda era considerado dúvida.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

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