Dietas que envolvem jejum para emagrecimento rápido são recomendadas?

de Bruno Rizzato 0

Sabemos que o recomendado é que algum alimento seja consumido a cada três horas e que as pessoas façam, pelo menos, as 3 principais refeições do dia (café da manhã, almoço e jantar).

Porém, pular uma dessas refeições pode não fazer tão mal quanto se imaginava, segundo alguns especialistas. Você, por exemplo, pode não sentir fome pela manhã, e deixar de comer pode ser melhor do que comer forçado. Porém, outros são contra essa ideia, aumentando ainda mais o debate e deixando, como sempre, as pessoas sem saber o que fazer.

A crescente popularidade das dietas que envolvem jejum, sugere que muitas pessoas estão encontrando alguns benefícios escolhendo melhor quando devem comer, de acordo com suas necessidades. Isso estaria gerando emagrecimento sem causar outros problemas, além de prevenir doenças. De acordo com Mark Mattson, um neurocientista do Instituto Nacional sobre Envelhecimento dos EUA. Segundo ele, a parte mais difícil é manter um padrão. “Se você não se acostumar com isso, pode não ser uma boa ideia. É uma questão de adaptação”, disse ele.

Mattson pratica um tipo particular de jejum chamado de “alimentação restrita em tempo”, em que se consome todas as calorias recomendadas de um dia em uma pequena parcela de tempo – talvez entre 6 e 8 horas, no total – e não come alimento algum fora deste período definido. No seu caso, ele come cerca de 2.000 calorias durante a tarde, depois de uma corrida.

Embora este regime relativamente extremo possa parecer bizarro, uma outra forma mais popular de jejum intermitente tem sido quase inevitável nos últimos anos: a dieta 5/2. Nela, em dois dias da semana, geralmente um seguido do outro, a pessoa ingere apenas 500 (mulheres), ou 600 calorias (homens). Nos outros 5 dias, os indivíduos podem ingerir até 1500 calorias.

Embora ela tenha prós e contras, e nutricionistas precisam ser consultados antes de iniciá-la – assim como toda dieta – o regime possui uma base científica. “De uma perspectiva evolutiva, é bastante claro que os nossos antepassados ​​não comiam três refeições por dia, e faziam mais lanches”, disse Mattson.

As explicações para a consolidação das três refeições diárias podem ter sido uma “invenção humana”, iniciada nos tempos medievais. Porém, alguns historiadores dizem que surgiu na Revolução Industrial, mas é claro que é uma “invenção” relativamente recente. Alguns dizem que começou nos tempos medievais, enquanto outros afirmam que surgiu durante a Revolução Industrial – deixando os dados confusos. Isso porque, no término dela, o trabalho pesado deu lugar a empregos de escritório. Assim, a classe média surgiu e os horários regrados de refeição tornaram-se uma tradição e um indicador de status social.

Tendo isso como base, Mattson acredita que as três refeições ao dia habituais (além dos lanches ocasionais) podem também ser um formato saudável a seguir, mas não significa que esta seja a única maneira de consumir as nossas necessidades energéticas, nem necessariamente a mais saudável e eficiente. Por isso ele desenvolveu seu próprio interesse por ingestão de alimentos com seu jejum intermitente, após ler estudos realizados em camundongos, que apresentaram proteção avançada a acidentes vasculares cerebrais, doença de Alzheimer e Parkinson, além de aumentar a sua vida útil em até 30% consumindo apenas a necessidade de forma limitada.

Ele também passou a realizar seu próprio estudo em pessoas sobre a dieta 5/2, descobrindo que um grupo de participantes que a seguiu perdeu mais peso do que um grupo de controle restrito apenas a uma dieta de baixa caloria. Também houve maior ganho muscular e melhorias na regulação do açúcar no sangue.

Outro estudo descobriu que adultos obesos que se envolveram em dias alternados de jejum perderam peso, além de mostrar reduções significativas nos níveis de colesterol, pressão arterial, triglicérides e insulina. Um fator que afetou os experimentos, no entanto, foi uma taxa de abandono acentuada. Até 20% dos participantes foram incapazes de lidar com os rigores do cronograma e desistiram da dieta.

Apesar dos benefícios de saúde potenciais do jejum controlado, mais estudos são necessários para saber a segurança total do método. “A maioria das pessoas que fazem isso entendem que não se trata de compulsão alimentar, mas elas gostam da liberdade de não se preocupar com calorias, carboidratos e outras restrições nos dias que não estão em jejum”, disse a nutricionista Joy Dubost, da Academia de Nutrição e Dietética dos EUA, em entrevista ao The New York Times.

Nem tudo é perfeito

Porém, os contrapontos devem ser levados em conta. A quantidade de calorias que deve ser ingerida nos dias de jejum está muito abaixo da necessária para o organismo realizar suas funções básicas, mas podem ser controladas a curto prazo. “Consumir essa quantidade de energia durante dois dias seguidos não tem um prejuízo grave, talvez possa faltar ânimo, ter dor de cabeça e tontura”, relatou a nutricionista Daniela Jobst, em matéria do portal Minha Vida. O ideal seria realizar exercícios mesmo nos dias de jejum, porém, controlados e com acompanhamento nutricional e físico.

O maior problema aparece após algum tempo, quando os nutrientes do corpo humano não são mais presentes em número suficiente. “Por um longo prazo as pessoas sofrem desnutrição, pois esta dieta não oferece a quantidade necessária de vitaminas e minerais”, diz a nutricionista Amanda Epifânio, do Centro Integrado de Terapia Nutricional (CITEN). Ela acredita que este jejum não irá proporcionar o emagrecimento, e sim, os outros dias de 1500 calorias. “O consumo médio da população é de 2.500 calorias, portanto, a verdadeira privação são justamente os dias em que a pessoa acredita que não há dieta. Os dois dias comendo menos são só um ritual, pois essas dietas da moda precisam disso”, diz ela.

Além disso, é possível que, com o passar do tempo, o metabolismo seja enfraquecido. Isso faria com que uma leve quebra na rotina proporcionasse um ganho de peso ainda maior. Além disso, no seguinte aos dias de apenas 500 calorias, aparecem os riscos de ansiedade e compulsão alimentar. “O problema ocorre porque a pessoa ficou muito tempo sem comer e quer repor isso, o que pode até ser desencadeante para um transtorno alimentar”, acrescentou Amanda. Diabéticos também podem correr riscos com a prática, pois uma dieta de 500 calorias diárias pode causar uma hipoglicemia severa para este grupo de risco.

A nutricionista também contesta um benefício que Mattson destaca, que é a diminuição das taxas de câncer de mama. Porém, ela diz que o fato não tem a ver com a dieta, e sim, com a perda de peso. “O que causa a prevenção do câncer é emagrecer. O câncer de mama é extremamente estimulado pelos hormônios femininos e o peso em excesso ou muito baixo altera esses hormônios”, concluiu ela.

A recomendação dada por Daniela Jobst, no portal Minha Vida, é que as pessoas façam uma restrição calórica sutil, sem precisar recorrer a dietas experimentais. “A orientação é comer mais vezes ao dia com menos volume, valorizando frutas, verduras, vegetais, cereais integrais e carnes magras. Reduza também o consumo de alimentos com açúcar refinado, industrializados e aqueles ricos em gorduras saturadas, como a carne vermelha”, disse ela.

[ Science Alert / Minha Vida ] [ Foto: Reprodução / Pixabay ]

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