A dieta cetogênica nada mais é do que um regime alimentar que exige o alto consumo de gorduras e proteínas, junto à baixa ingestão de carboidratos, de acordo com informações da BBC.
Ela vem sendo defendida como uma forma eficaz de emagrecimento e também já se tornou “queridinha” de muitas celebridades, como Kim Kardashian, Megan Fox e até mesmo a modelo brasileira Adriana Lima. Contudo, a grande questão envolvendo o regime é: ele realmente é seguro?
“A perda de peso é a principal razão pela qual meus pacientes usam a dieta cetogênica”, escreveu o médico e professor Marcelo Campos, da Escola de Medicina da Universidade de Harvard, nos EUA, em artigo para revista Harvard Health Publications. “Muitos pacientes me perguntam: ‘É segura? Você recomendaria?’”.
Em seu estudo, Campos concluiu que, a curto prazo a dieta é bem eficiente quando o assunto é a perda rápida de peso. No entanto, em longo prazo, os efeitos sobre a saúde ainda são desconhecidos.
O que é uma dieta cetogênica?
A dieta cetogênica é rica em gordura, moderada em proteína e baixa em carboidratos, de acordo com informações do portal Independent.
Em outras palavras, ela envolve um alto consumo de gordura, muita das vezes reduzindo a ingestão de proteínas e cortando ainda mais o consumo de carboidratos. É importante saber que esta não é uma dieta nutricionalmente completa e, portanto, requer suplementação.
Segundo informações da BBC, a dieta não é exatamente uma novidade, e sequer começou como forma de emagrecimento.
Na verdade, por muitos anos ela esteve associada ao tratamento de casos de epilepsia em crianças e adolescentes que eram resistentes a medicamentos.
O que acontece dentro do seu corpo em uma dieta cetogênica?
Nosso corpo geralmente se alimenta de uma mistura de carboidratos e gorduras. Nosso cérebro tem como combustível principal os carboidratos. Logo, quando optamos por uma dieta que contém níveis muito baixos dessa fonte de energia, o órgão começa a “morrer de fome”, obrigando o corpo a se adaptar a essa condição.
Este agora será estimulado a produzir energia por meio da gordura ingerida, em um processo conhecido como cetose.
“A maioria das células prefere usar o açúcar presente no sangue, que provém dos carboidratos, como a maior fonte de energia do corpo”, escreveu Marcelo em seu artigo. “Na falta do açúcar, começamos a decompor a gordura armazenada em moléculas chamadas corpos cetônicos”.
“Uma vez alcançado esse processo, a maioria das células usa essas moléculas para gerar energia. A mudança de fonte de energia – do açúcar que circula no sangue para a decomposição da gordura armazenada – geralmente ocorre de dois a quatro dias depois do início de uma dieta com menos de 50 gramas de carboidrato diárias”, explica o especialista acrescentando que o processo dependerá sempre do organismo de cada pessoa.
O que é consumido na dieta?
De acordo com o médico, a dieta inclui o consumo de muita carne (natural ou processada) ovos, salsichas, queijos, pescado, nozes, manteiga, azeite, sementes e verduras fibrosas. Contudo, porque é uma dieta extremamente restritiva, é muito difícil segui-la por muito tempo.
Campos, no entanto, alerta que um dos maiores perigos envolvendo a dieta é que as pessoas tendem a consumir proteínas e gorduras de má qualidade, bem como poucas frutas e verduras. Ainda, pacientes com condições renais devem ser cuidadosos, uma vez que o regime pode piorar ainda mais o problema.
E como fica a questão do colesterol?
Segundo Campos, estudos já mostraram que no início do regime alguns pacientes experimentaram um aumento nos níveis de colesterol, devido ao alto consumo de gordura. No entanto, estes mesmos pacientes viram uma queda nos meses seguintes.
Benefícios envolvidos
Embora deva-se ressaltar que os efeitos da dieta cetogênica não foram testados a longo prazo, ela já foi envolvida em uma série de benefícios para o corpo, entre eles:
– Melhora no desempenho desportivo: o baixo nível de armazenamento de carboidratos e adaptação do uso de mais gorduras, na teoria, ajudaria o corpo humano a se exercitar por mais tempo, bem como permitiria uma queima maior de gorduras na mesma intensidade dos exercícios.
– Epilepsia: como mencionado anteriormente, estudos realizados mostraram que a dieta foi capaz de ajudar crianças e adolescentes com casos resistentes de epilepsia. Um estudo publicado em 2008 pela The Lancet Neurology, que envolveu a participação de 145 crianças e adolescentes, entre 2 e 16 anos, a dieta cetogênica reduziu em dois terços as crises de convulsão.
– Câncer: a dieta também já foi avaliada por alguns como uma forma de privar o câncer de combustível, impedindo assim que sobreviva. No entanto, ao passo em que se assume este benefício, estudos já demonstraram que o consumo de gordura pode estimular o crescimento de alguns tipos de cânceres e tornar os tratamentos existentes mais difíceis de suportar.
Devo considerar começar uma dieta cetogênica?
Em suas conclusões, o médico Marcelo Campos afirmou que antes de se considerar a dieta, deve-se levar em conta que ela pode ser muito difícil de ser seguida, uma vez que depende de alimentos gordurosos, processados e salgados, todos considerados poucos saudáveis.
Ainda, e mais uma vez, deve-se levar em conta o fato de que seus efeitos a longo prazo não foram estudados, já que é quase impossível manter o regime por muito tempo.
“É importante ressaltar que as dietas ‘iô-iô’, que levam a uma rápida flutuação de peso, são associadas ao aumento da mortalidade”, adverte. Por fim, ele recomenda que, ao invés de começar a seguir a “próxima dieta da moda”, o ideal é considerar um esquema mais sustentável e passível de ser seguido em longo prazo.
“Uma dieta equilibrada – sem alimentos processados, rica em frutas e verduras muito coloridas, carnes magras, pescados, grãos inteiros, nozes, sementes, azeite de oliva e muita água – parece ter a melhor evidência de uma vida longa, saudável e vibrante”, concluiu.
Fonte: Independent / BBC Foto: Reprodução / Pixabay