Dieta livre de glúten deve ser feita apenas por pessoas intolerantes?

de Bruno Rizzato 0

Existem diversas novas opções de alimentos livres de glúten que ajudam pessoas alérgicas e intolerantes a ele. Porém, segundo Alan Levinovitz, professor e autor do livro intitulado “The Gluten Lie” (traduzido como “A Mentira do Glúten”), muitas pessoas optam por tal exclusão sem necessidade, e o ingrediente não precisa ser tão temido assim. Ele está longe de ser uma toxina perigosa, e sim, um tipo de proteína encontrada no trigo e outros grãos similares. É justamente ele que dá maciez aos pães.

Segundo o artigo do estadunidense, apenas 1% da população mundial possui doença celíaca, uma desordem autoimune genética que faz com que as pessoas que comerem glúten tenham danos em seu intestino delgado. 0,63% a 6% podem ser sensíveis ao glúten sem ter doença celíaca, o que significa que quando comem glúten, experimentam alguns ou todos os sintomas que as pessoas com doença celíaca sentem. Essa condição, porém, é um pouco controversa, com vários estudos sugerindo que ela seja exagerada ou nem exista.

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No entanto, as dietas sem glúten travaram um grande debate. Muitas pessoas dizem ter encontrado muitos benefícios ao abandonar o ingrediente, como perda de peso e até melhora na saúde. Mesmo celebridades como Miley Cyrus e Lady Gaga dizem ter começado uma dieta livre de glúten. Tais alimentos alternativos tornaram-se uma grande indústria, fazendo com que 30% das pessoas pensem em consumir menos glúten. As vendas de produtos sem glúten podem alcançar até 15 bilhões de dólares no próximo ano.

Porém, dietas nas quais as pessoas param de comer uma determinada coisa – seja gordura, carboidratos ou açúcar, por exemplo – fazem com que elas tenham uma série de outras mudanças de estilo de vida, segundo Levinovitz. Cortar o glúten parece provocar perda de peso ou até benefícios para a pele, mas a causa real pode ser a troca de fast food por comida caseira.

Eu observei isso muitas vezes, até mesmo com membros da família. Eles perceberam que comiam alimentos de fast food não saudáveis, tomaram conhecimento sobre a dieta sem glúten e agora estão comprando legumes frescos, cozinham bem e comem muito melhor. Culpar o glúten é fácil, mas você poderia apontar uma centena de outras coisas que melhoraram na qualidade de vida”, relatou Peter Gibson, diretor de Gastrenterologia que conduziu vários estudos sobre o glúten na Universidade de Monash, na Austrália.

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Gibson é também o autor de um estudo recente que concluiu que, das 37 pessoas com sensibilidade ao glúten sem ter doença celíaca, que se autodiagnosticaram desta forma, nenhuma, de fato, possuía a sensibilidade. O estudo revelou este é um efeito chamado “nocebo”, quando o autodiagnóstico é forçado por questões psicológicas. “Quando falamos de sensibilidades alimentares, as pessoas são incrivelmente dispostas a questionar autodiagnósticos. Ninguém quer pensar que os benefícios que eles experimentaram de uma dieta sem glúten podem ser psicológicos”, escreveu Levinovitz.

Além disso, a conexão dos alimentos consumidos a sintomas físicos é incrivelmente difícil. Estudos não apenas mostraram que temos dificuldade em lembrar o que nós comemos, como também que quando nós comemos, fazemos um julgamento errado do que é saudável e do que não é. Então, em vez de realizar um autodiagnóstico, a melhor solução é consultar um médico.

[ Foto: Reprodução / Picsever / Flickr / Pexels ]

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