Quão perto estamos da Terceira Guerra Mundial? Documentos vazados da inteligência alemã revelam possível futuro sombrio

Advertências da Rússia nos ataques contra a Ucrânia, mísseis no Oriente Médio, tensão na diplomacia da China, intervenção dos EUA e documentos vazados da inteligência alemã marcam o cenário atual. A ameaça de uma Terceira Guerra Mundial nunca foi tão grande.

de OTTO HESENDORFF 0

O aumento do conflito global que marcou o ano de 2023 acionou alarmes nas instalações de defesa europeias. Em menos de três semanas de 2024, os governos da Estônia, Suécia e agora do Reino Unido já alertaram suas nações sobre a possibilidade de uma guerra em larga escala.

Documentos vazados da inteligência alemã sugerem que Berlim espera que a Rússia lance outra onda de ataques para sobrecarregar a Ucrânia e está se apressando para criar planos de contingência caso as tropas russas avancem para o oeste a partir do país Belarus.

O conflito entre Israel e Hamas ameaça espalhar violência pelo Oriente Médio, com o chamado Eixo de Resistência do Irã — incluindo o Hezbollah, do Líbano, e os rebeldes Houthi, do Iêmen — aumentando seus ataques a Israel e às rotas comerciais marítimas, levando o Reino Unido e os EUA a lançarem uma série de ataques devastadores por ar e mar.

A eleição de um novo presidente democrático, em Taiwan, irritou ainda mais Pequim, tornando uma invasão chinesa a nação insular, nos próximos anos, cada vez mais provável. E, enquanto isso, o descontrolado Kim Jong-un está com sua mão sobre as chaves do arsenal nuclear da Coreia do Norte, pronto para mergulhar seus inimigos em um inverno radioativo.

Em um discurso de advertência esta semana, o Secretário de Defesa do Reino Unido, Grant Shapps, deixou claro as graves ameaças enfrentadas pela Grã-Bretanha, afirmando: “Daqui a cinco anos, poderíamos estar olhando para múltiplos cenários, incluindo Rússia, China, Irã e Coreia do Norte. Pergunte-se, olhando para os conflitos de hoje em todo o mundo, é mais provável que esse número cresça ou diminua? Eu suspeito que todos nós sabemos a resposta”.

Especialistas internacionais em segurança concordam que estamos mais próximos da Terceira Guerra Mundial agora do que em qualquer outro momento desde a Crise dos Mísseis de Cuba — confronto que durou 13 dias entre EUA e a União Soviética, em 1962, quando mísseis balísticos soviéticos foram implementados em Cuba.

O jornal MailOnline fez uma análise aprofundada sobre as questões internacionais e as “linhas de falha” diplomáticas globais que podem arrastar a Europa para um conflito armado massivo — e, consequentemente, o resto do mundo.

Rússia-Ucrânia: Portal para a guerra entre Moscou e a OTAN

A invasão da Ucrânia por Vladimir Putin, em fevereiro de 2022, viu o espectro de um grande conflito armado escurecer a porta da Europa, novamente, pela primeira vez desde o fim da Segunda Guerra Mundial.

O Reino Unido e a União Europeia, imediatamente, saltaram em defesa da Ucrânia, reprimindo Moscou com uma enxurrada de sanções econômicas e comprometendo bilhões em financiamento militar e humanitário para impulsionar o esforço de guerra de Kiev. Mas, quase dois anos do conflito sem um fim claro à vista, as nações europeias são forçadas a confrontar a possibilidade muito real de a guerra se arrastar indefinidamente — e talvez até mesmo se espalhar além das fronteiras da Ucrânia.

Em um discurso alarmante no início deste mês, o ministro da Defesa Civil da Suécia, Carl-Oskar Bohlin, disse: “Pode haver guerra na Suécia… O mundo está enfrentando uma perspectiva de segurança com maiores riscos do que em qualquer momento desde o fim da Segunda Guerra Mundial”, instando seus cidadãos a se juntarem a grupos de defesa civil voluntários.

Dias depois, o primeiro-ministro da Estônia, declarou que a Europa tem apenas 3 a 5 anos para se preparar para o retorno da Rússia como uma séria ameaça militar no flanco oriental da OTAN, antes que o Secretário de Defesa Britânico, Grant Shapps, nesta semana declarasse que enviaria 20.000 militares britânicos para participar de um dos maiores ensaios de guerra da OTAN desde a Guerra Fria.

“Nossos adversários estão ocupados reconstruindo suas barreiras, inimigos antigos estão reanimados, linhas de batalha estão sendo redesenhadas, os tanques estão literalmente no gramado da Ucrânia e os alicerces da ordem mundial estão sendo abalados até o âmago”, disse ele.

Esses alertas vieram quando documentos do Ministério da Defesa da Alemanha delinearam um guia “passo a passo” sobre como a Rússia poderia escalar o conflito na Ucrânia para uma batalha ainda maior. Os planos vazados, publicados pelo jornal alemão Bild, revelam em detalhes o caminho para uma Terceira Guerra Mundial com Putin usando Belarus como plataforma de lançamento para uma invasão.

O general Sir. Richard Barrons alertou que a Grã-Bretanha está seriamente despreparada para um conflito com a Rússia e instou o governo a investir pesadamente na reconstituição das forças armadas para enfrentar o desafio. “A Rússia está claramente irritada e rearmada, então sua capacidade será restaurada e, quando os tiros pararem na Ucrânia, a Rússia nos culpará pelo resultado. Já estamos em confronto com a Rússia”, disse ele ao MailOnline.

O Oriente Médio: Um Barril de Pólvora à Espera de uma Faísca

Os implacáveis ataques de 7 de outubro às cidades israelenses, pelo Hamas, levaram Tel-Aviv a iniciar um brutal bombardeio aéreo e subsequente incursão armada no território palestino, deixando mais de 20.000 mortos em Gaza. A violência a Faixa de Gaza ameaça desestabilizar totalmente o frágil panorama de segurança da região.

Desde 7 de outubro, o Hezbollah aumentou seus ataques a cidades do norte de Israel e trocou tiros com as Forças de Defesa de Israel na fronteira, e as forças rebeldes Houthi do Iêmen, fortemente armadas, sequestraram navios comerciais e danificaram vários outros com mísseis.

As forças armadas dos EUA e do Reino Unido responderam, realizando ataques massivos a dezenas de redutos rebeldes, mas o Conselho Político Supremo dos Houthi ameaçou retaliação, declarando: “Todos os interesses americanos-britânicos se tornaram alvos legítimos para as forças armadas iemenitas”.

Os Houthis cumpriram a ameaça esta semana, atingindo um navio de carga de propriedade americana navegando pelo Golfo de Aden com mais um míssil, enquanto imagens na capital do Iêmen, Sanaã, mostravam centenas de milhares de pessoas entoando gritos anti-EUA. Mas, há uma ameaça muito mais grave por trás de cada uma das milícias em ascensão no Oriente Médio — a República Islâmica do Irã.

Hamas, Hezbollah e os Houthis fazem parte do Eixo de Resistência do Irã — grupos espalhados pelo Oriente Médio que constituem uma aliança geopolítica e militar para combater ameaças do Ocidente e rivais regionais. A República Islâmica comanda forças consideráveis no Iraque e na Síria, que realizaram vários ataques com drones e mísseis a bases americanas nos últimos meses.

O Irã também está orquestrando um amplo tratado de parceria estratégica com Vladimir Putin para produzir (e já está produzindo) drones para bombardear cidades ucranianas. O próprio Putin advertiu que “uma escalada adicional da crise é repleta de consequências graves e extremamente perigosas e destrutivas… Poderia se espalhar muito além das fronteiras do Oriente Médio”, disse.

China-Taiwan: Um Conflito Localizado que Pode Causar um Choque entre Titãs

Neste último fim de semana, Lai Ching-te — o candidato presidencial mais odiado por Pequim — foi eleito como o novo líder de Taiwan. Oficiais chineses o chamaram de “destruidor da paz” e declararam que o novo presidente eleito não representa a voz de seu povo em uma declaração delirante e depreciativa.

Analistas esperam que a China intensifique sua exibição de desagrado em torno do mês de maio — quando Lai assumir o cargo — com um aumento dramático de exercícios militares agressivos ao redor da ilha ou restringindo importações de Taiwan como punição econômica.

Pequim já envia rotineiramente jatos de combate e navios de guerra para os céus e águas ao redor de Taiwan — um lembrete constante da ameaça de invasão se o governo se recusar a se tornar parte da China.

O Partido Comunista Chinês (PCC) vê Taiwan como uma província renegada a ser trazida de volta ao controle de Pequim — algo que o presidente Xi Jinping disse estar disposto a fazer à força. Mas o Partido Progressista Democrático eleito de Taiwan argumenta que preside uma sociedade autônoma, democrática e capitalista com apoio esmagador de seu povo.

O exército, marinha e força aérea de Taiwan estão entre os mais altamente treinados, tecnologicamente avançados e bem equipados do mundo. Mas a enorme população da China e seus vastos recursos significam que o exército chinês detém a vantagem em todas as métricas possíveis.

Em uma luta direta, a China rapidamente dominaria as defesas de Taiwan e assumiria o controle da nação insular. Mas qualquer agressão por parte de Pequim poderia precipitar um confronto militar entre as duas superpotências mundiais: China e EUA.

O diretor da CIA, William Burns, afirmou no ano passado que a inteligência dos EUA sugeriu que Xi Jinping instruiu o exército de seu país a “estar pronto até 2027” para invadir Taiwan, e o presidente Joe Biden confirmou que Washington defenderia Taiwan.

A disposição dos Estados Unidos de abandonar sua política de décadas de ambiguidade estratégica indica a importância estratégica de Taiwan em muitas frentes. A ilha possui uma das indústrias mais tecnologicamente avançadas do mundo e é a principal produtora de componentes tecnológicos vitais.

Ela também é uma aliada altamente estratégica em termos de sua geografia, fazendo parte da Primeira Cadeia de Ilhas, que permite que países como EUA, Austrália e Coreia do Sul construam uma série de nações aliadas monitorando e desencorajando a agressão chinesa no Mar do Sul da China.

Mas mesmo a ameaça de intervenção dos EUA não parece ter diminuído as ambições da China. Em seu discurso de Ano Novo à nação, Xi Jinping disse que a China “certamente será reunificada, e todos os chineses de ambos os lados do Estreito de Taiwan devem ser unidos por um senso comum de propósito e compartilhar na glória do rejuvenescimento da nação chinesa”.

Coreia do Norte: Uma Pária Nuclear Preparada para Desestabilizar Relações com o Ocidente

Grande parte da população da Coreia do Norte enfrenta privações abjetas, sofrendo com a fome, escassez de assistência médica e um isolamento quase total do mundo além de suas fronteiras. Isso ocorre porque o líder supremo Kim Jong-un canalizou quase todos os recursos e riquezas de sua nação para um único objetivo — acumular um ameaçador arsenal de armas nucleares para impressionar o mundo.

Seu regime testou um número recorde de mísseis em 2022 e continuou em ritmo acelerado em 2023, com sobrevoos de satélite mostrando que o antigo local de testes nucleares de Punggye-ri foi reconstruído, presumivelmente para acomodar o desenvolvimento de uma nova bomba.

O isolamento quase total da Coreia do Norte no cenário mundial significa que é menos provável que seja arrastada para um grande conflito, e a ameaça de guerra é uma ferramenta usada desde a criação do país por Kim Il-sung, para manter o controle da dinastia sobre o poder.

O regime já concordou em fornecer munições para Moscou em sua guerra contínua na Ucrânia. Uma análise sobre o fornecimento de munições da Coreia do Norte para a Rússia advertiu que a venda de tais quantidades de munições encherá os cofres de Pyongyang, que poderia estender seus incessantes testes de mísseis provocativos ou causar danos nucleares aos parceiros próximos dos EUA, como Japão e Coreia do Sul. Nunca estivemos tão próximos de uma desestabilização global que poderia ter consequências desastrosas.

Fonte(s): Daily Mail Imagem de Capa: Reprodução / Metro UK Foto(s): Reprodução / Metro UK

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