Por que africanos têm sistema imunológico diferente dos europeus?

de Julia Moretto 0

Cientistas encontraram respostas para a diferença do sistema imunológico entre europeus e africanos. O mais interessante é que os neandertais poderiam ser parcialmente culpados.

A descoberta explica por que os africanos geralmente nascem com sistemas imunológicos mais fortes do que os europeus e por que eles estão mais predispostos a certas doenças autoimunes. “Eu estava esperava ver a diferença associada à ascendência na resposta imune, mas não é uma tendência tão clara“, diz o geneticista Luis Barreiro, da Universidade de Montreal, no Canadá.

Barreiro e sua equipe estudaram a amostra de sangue de 175 americanos – metade tinha ascendência africana e a outra metade europeia. A partir dessas amostras, a equipe extraiu macrófagos – células do sistema imunológico que trabalham para matar agentes patogênicos – e os infectou com dois tipos de bactérias: Listeria e Salmonella.

Em seguida, 24 horas depois de comparar as amostras, os pesquisadores descobriram que os macrófagos do grupo Africano tinham reduzido o crescimento bacteriano três vezes mais rápido do que o grupo europeu, devido a uma resposta inflamatória mais forte. Em termos de combate a essas bactérias, isso é uma vantagem definitiva, mas os pesquisadores apontam que isso também apresenta algumas desvantagens.

O sistema imunológico dos afro-americanos responde de forma diferente, mas não podemos concluir que é melhor, já que uma resposta imune mais forte também tem efeitos negativos, como maior susceptibilidade a doenças inflamatórias autoimunes, como a Doença de Crohn“, diz Barreiro.

Além de medir a eficácia dos macrófagos, os pesquisadores analisaram a atividade genética das células do sistema imunológico e encontraram evidências ligando as amostras europeias – mas não o sangue Africano – com DNA neandertal. A hipótese é que quando os primeiros seres humanos migraram para a Europa, há 100.000 anos, eles teriam encontrado um continente colonizado pelos neandertais.

Por milhares de anos, é possível que estas duas espécies tenham vivido lado a lado e os pesquisadores sugerem que elas também reproduziram, o que explicaria a evidência do DNA neandertal no sangue europeu.

Nossos resultados sugerem que os sistemas imunológicos dos africanos e europeus evoluíram para responder às necessidades específicas impostas pelos seus ambientes “, disse Barreiro. Em um estudo separado, cientistas na França compararam as respostas imunes de 200 indivíduos também divididos por ascendência: 100 de ascendência africana e 100, europeia.

Desta vez, a equipe – liderada pelo pesquisador Lluis Quintana-Murci, do Institut Pasteur – analisou as células chamadas monócitos, que respondem as moléculas bacterianas e virais, incluindo o vírus da gripe.

Os testes mostraram que, assim como no estudo do Barreiro, as respostas imunes europeias para os patógenos foram caracterizadas por menos inflamação do que as africanas. E, assim como no estudo canadense, eles também mostraram que os genes neandertais desempenharam um papel importante no genoma europeu.

É possível que, o clima mais frio da Europa apresentasse maior perigo do que a África – e que a adaptação poderia ter fornecido outro benefício evolutivo. “Reduzir as respostas inflamatórias do sistema imunológico é uma maneira de evitar a autoimunidade, inflamações e reações alérgicas“, disse Quintana.

Ambas as equipes reconhecem que há muito mais trabalho a ser feito para explicar por que nosso sistema imunológico funciona de forma tão diferente – mas isso poderia um dia nos ajudar a desenvolver tratamentos personalizados ou medicamentos sob medida para determinadas etnias. Ambos estudos foram publicados no Cell.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Flickr ]

Jornal Ciência