Novo estudo sugere que a hanseníase, antigamente chamada de lepra, veio da Europa

de Merelyn Cerqueira 0

A lepra, hoje conhecida como hanseníase, é uma das doenças mais antigas, excludentes e estigmatizadas da sociedade, devido a aparência causada pela necrose e deformidades dos membros, especialmente nas mãos.

Ela é causada por uma cepa infecciosa de bactéria chamada Mycobacterium leprae. De acordo com o Ministério da Saúde, embora o bacilo tenha capacidade de infectar um grande número de pessoas, são poucos os que adoecem.

Foto: Dorthe Dangvard Pedersen

Predominante na Europa durante o século 16, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a hanseníase ainda existe em pelo menos 115 países, principalmente os equatoriais, com mais de 200 mil casos registrados por ano.

Ela acomete principalmente peles e nervos periféricos, podendo levar a sérias incapacidades físicas em homens e mulheres, em qualquer idade. Os efeitos da doença são mais graves quando os acometidos por ela são expostos por tempo prolongado.

A doença foi descoberta e catalogada oficialmente em 1874 pelo médico norueguês G. Armauer Hansen, embora pensa-se que sua origem é extremamente antiga. A causa presumida, no entanto, é desconhecida. Sugere-se que a estirpe responsável pela doença possa ter aparecido primeiro na Ásia. No entanto, um estudo publicado na revista PLoS Pathogens, apresentou novos dados sobre a origem da hanseníase.

Os pesquisadores estudaram pelo menos uma dúzia de fósseis associados a um genoma antigo da doença. A bactéria mais antiga foi encontrada em um esqueleto de 600 mil anos, encontrado em Great Chesterford, uma cidade em Essex, Reino Unido, o que sugere que a doença começou na Europa e não na Ásia, como antes fora estabelecido.

Verena Schuenemann examina o crânio de uma pessoa que tinha lepra. Foto: Johannes Krause / Universidade de Tuebingen

O estudo revelou uma quantidade maior de bactérias da lepra na Europa Medieval, o que levou os cientistas a reconsiderar as origens e idade da devastadora doença.

Durante séculos, houve um ponto de interrogação sobre a origem da lepra; a maioria das suposições acredita que começou na China e no Extremo Oriente”, disse Helen Donoghue, coautora do trabalho e cientista da University College London.

Esta pesquisa mostra que todas as cepas da bactéria da lepra, estavam de fato presentes na Europa medieval, o que sugere fortemente que a hanseníase se originou aqui, possivelmente no extremo sudeste da Europa…“, concluiu.

Os cientistas examinaram aproximadamente 90 esqueletos com deformações características da lepra, que foram encontrados na Europa e datam de entre 400 d.C a 1400 d.C. Por meio dos fragmentos eles reconstruíram 10 novos genomas da Mycobacterium leprae. Anteriormente, apenas uma ou duas linhagens circulavam na Europa Medieval e a diversidade descoberta sugere que a doença deve ter pelo menos alguns milhares de anos.

A análise também incluiu a cepa mais antiga conhecida, extraída de restos de esqueletos encontrados em Great Chesterford. Ela revelou que esta cepa foi a mesma encontrada em esquilos vermelhos modernos, sugerindo que a doença pode ter sido introduzida na Grã-Bretanha através do comércio de peles de esquilo.

De acordo com o professor Johannes Krause, autor sênior do estudo e diretor do Instituto Max Planck para a Ciência da História Humana na Alemanha, a equipe agora está focando em esqueletos ainda mais antigos na tentativa de corroborar registros escritos de casos de hanseníase há mais de 2.000 anos.

Ter genomas mais antigos em uma análise de datação resultará em estimativas mais precisas“, concluiu.

Fonte: The Guardian / Super Curioso Foto: Reprodução / Super Curioso

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