Nasa faz experiência com gêmeos para descobrir efeitos de longo período no espaço

de Redação Jornal Ciência 0

Os irmãos gêmeos Scott e Mark se tornaram astronautas da NASA na mesma época, em 1996, em consequência disso, acabaram doando as suas vidas à Ciência. No experimento “Estudo dos gêmeos”, inédito, doze universidades se desdobraram sobre amostras dos corpos para tentar entender como o nosso organismo reage ao espaço. A NASA divulgou recentemente os resultados da pesquisa.

 

Scott Kelly passou 340 dias na estação espacial internacional. O objetivo era que ele ficasse longe do Planeta pelo tempo equivalente a uma missão a Marte. Assim os cientistas poderiam verificar os riscos de que essa viagem teria ao ser humano.

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Por dividirem o mesmo útero, os irmãos também compartilharam do mesmo DNA. Mark, há mais de 10 anos passou 54 dias no espaço, mas teve que se aposentar para cuidar da esposa, Gabrielle Giffords, política americana que sofreu uma tentativa de assassinato e ainda lida com sequelas do tal incidente. Na Terra, Mark se tornou um “experimento de controle”. Foram realizados vários exames, testes e estudos com os irmãos e comparados para entender o que aconteceria normalmente e o efeito da longa exposição no espaço, já que eles são geneticamente idênticos.

 

Assim como já observado por outros astronautas anteriormente, Scott sentiu algum dos efeitos de estar “longe de casa”: problemas de visão, perda de densidade óssea, dificuldades de circulação e rosto inchado (a microgravidade não faz com que o sangue vá para as pernas como na Terra).

 

O diferencial desse experimento não são só os efeitos externos ao nosso organismo e sim a mudança que pode causar em nosso material genético. Os efeitos da radiação cósmica faziam com que os pesquisadores esperassem mudanças grandes impactos no DNA do gêmeo que ficou fora da Terra, só que o resultado não foi bem assim.

 

Telômeros e velhice

O envelhecimento humano é algo complexo, que inclusive a Ciência ainda não consegue explicar completamente. Conforme se passam os anos, nossos cromossomos sofrem modificações, elas ocorrem em sua ponta, chamada de telômero que vão se encurtando.

 

Em tese, conforme o corpo sofre no espaço juntamente ao estresse causado e a radiação, os telômeros de Scott diminuiriam mais do que o normal para a idade dele. Mas algo surpreendente aconteceu: seus telômeros aumentaram mais do que os do seu irmão, Mark, que estava na Terra.

 

Devido à rígida dieta e treinamentos regulares que o astronauta fez na estação espacial, os pesquisadores acreditam que o comportamento “anormal” dos telômeros seja explicável. Mas as descobertas não param por aí, ao chegar na Terra, as pontas dos seus cromossomos voltaram ao tamanho que tinham antes da viagem.

 

Prosseguindo com as descobertas, a metilação do DNA também sofreu uma alteração. O processo em questão ocorre quando pequenos compostos orgânicos são adicionados naturalmente ao próprio corpo, chamados de metil, em diversos pontos do DNA. Quando uma área tem grande concentração de metil, geralmente significa que os genes encontrados ali foram desativados pelo próprio corpo, acreditam os pesquisadores.

 

Ao final foi feito o sequenciamento completo dos DNA dos dois. Com poucas variações em termos genéticos, havia centenas de mutações, porém é algo normal, mesmo se tratando de gêmeos. Também fizeram análise do RNA, um material genético mais simples, e nesse, havia muito mais diferença nas expressões dos genes, cerca de mais de 200 mil alterações.

 

O ideal agora é que essa análise seja feita de perto. Descobrir se algum gene espacial foi modificado ou ativado pela simples exposição prolongada ao Espaço é importante. O estudo deve durar ainda mais dois anos, quando teremos mais respostas sobre o comportamento do nosso corpo fora do Planeta.

[ BBC / NASA / R7 ] [ Fotos: Reprodução / R7 ]

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