Lama misteriosa descoberta em ilha vulcânica recém-nascida tem deixado a NASA confusa

de Merelyn Cerqueira 0

A superfície terrestre é dividida em diversos segmentos sólidos chamadas placas tectônicas. Essas placas se encaixam como um gigante quebra-cabeças disposto sobre o manto da Terra (camada extremamente quente – de até 5.000°C – composta de magma).

 

O problema, no entanto, é que essas placas não são fixas, de modo que quando se movem, causam algumas situações indesejáveis, como os terremotos, por exemplo.

 

Mas, não é só isso que acontece durante esse encontro. O movimento que elas fazem envolve um processo chamado subducção, em que uma fica por cima e se ergue enquanto a outra afunda. Por afundar, dizemos mergulhar dentro do escaldante magma a profundidades superiores a 100 km até derreter.

 

Parte do magma que se forma sobe para a superfície em forma de lava. Ela encontra espaços e vai abrindo caminhos entre as placas tectônicas. Ao passar, derrete locais mais frágeis e consegue chegar até a superfície. Esse processo é bem conhecido e ocorre constantemente em vulcões em todo o mundo. 

Dan Slayback, Goddard Space Center/NASA

Agora, se esse choque de placas ocorre em alto-mar, o vazamento de lava acaba formando um vulcão submarino. Assim, conforme a lava que expelem entra em contato com a água, resfria até solidificar e formar um monte de rocha. Por vezes, esse monte cresce até emergir da água, formando uma ilha recém-nascida.

 

Esse tipo de vulcanismo, conhecido como “arco de ilha”, é tão violento que nos últimos 150 anos, somente três ilhas do tipo resistiram o suficiente para serem incluídas nos mapas. Isso porque, se a lava possuir mais de 60% de SiO2 (dióxido de silício), as chances de explosões aumentam muito. Logo, poucas dessas ilhas duram mais do que alguns meses.

 

No entanto, um caso recente de vulcanismo de arco de ilha está intrigando a NASA. No final de dezembro de 2014, um vulcão subaquático no Pacífico, próximo ao reino-arquipélago de Tonga, entrou em violenta erupção. Um ano após o ocorrido, em janeiro de 2015, notou-se a presença de uma ilha nascida na região, com um cume de 120 metros de altitude. Ainda sem nome, ela está sendo chamada pelo nome de suas vizinhas, Hunga Tonga-Hunga Ha’apai.

 

O curioso, no entanto, é que a ilha em questão está indo na contramão de todas as expectativas, uma vez que até hoje permanece firme, 3 anos depois de seu aparecimento, sobrevivendo à erosão causada pelos impactos das ondas. Após observar por um tempo a jovem ilha (um marco para a ciência, uma vez que nunca tivemos ferramentas suficientes para acompanhar o nascimento de uma), a equipe de Dan Slayback, do Goddard Space Flight Center da NASA, finalmente conseguiu colocar os pés no local. A ilha é interessante para a agência espacial porque pode ajudar a entender a formação do relevo tanto da Terra como de Marte.

A julgar pelas imagens de satélite, ela parecia ser composta de uma areia negra (que pode se formar pela granulação de rochas ígneas). No entanto, eles descobriram que ela na verdade era formada de um cascalho muito espesso, com grãos do tamanho de ervilhas. Plantas que possivelmente foram levadas por pássaros já estavam prosperando na região e até um ninho de coruja foi encontrado ali.

 

O mais estranho de tudo, no entanto, era a lama, que tinha aparência de argila, uma cor mais clara que o relevo, de aparência grudenta e de origem misteriosa – que a NASA e os especialistas não conseguiram explicar. “Ela é extremamente grudenta. Não sabemos muito bem o que é, ainda estamos confusos quanto à origem dela. Ela não é composta de cinza vulcânica”, afirmou Slayback em seu blog na NASA.

 

Considerando que a erosão nos paredões de rocha vulcânica é bastante intensa, é possível que a ilha dure pelo menos 30 anos. Embora seja pouco em relação à longa história da Terra, é tempo mais do que suficiente para os cientistas acompanharem como é o crescimento de uma ilha.

Fonte: NASA ]

[ Fotos: Reprodução / NASA ]

Jornal Ciência