Plataforma de gelo na Antártida Ocidental está se rompendo a partir de seu interior

de Merelyn Cerqueira 0

Em 2015, um pedaço maciço de gelo de 583 metros quadrados, do Glaciar de Pine Island – vasto seção de gelo que mantém a camada glacial da Antártida Ocidental – se soltou em direção ao oceano, eventualmente derretendo e aumentando o nível do mar em todo o mundo.

Mais recentemente, novas imagens de satélite sugerem que esse evento foi causado por uma ruptura de nível interior, a 32 quilômetros de profundidade. Tal evidência sugere que a geleira está se desfazendo em um nível subterrâneo e não periférico, como antes os cientistas suspeitavam. Pior do que isso é o fato de que uma segunda fenda está se abrindo, o que indica uma tendência preocupante, de acordo com informações da Science Alert.

As fendas interiores ocorrem de maneira simples. A água quente do oceano se infiltra em uma delas, dentro de uma plataforma de gelo, aquecendo-a por baixo. Com o passar do tempo, essa água quente acaba derretendo cada vez mais gelo, traçando seu caminho e cortando um enorme pedaço da plataforma no processo.

As fendas [riftes] geralmente se formam nas margens de uma plataforma de gelo, onde é mais fino e sujeito a cisalhamento”, explicou o pesquisador Ian Howat, da Universidade do Estado de Ohio.  “No entanto, este último evento no Glaciar de Pine Island, ocorreu devido a uma abertura que se originou a partir do centro da plataforma, propagando-se em direção às margens”.

Logo, segundo ele, isso indica que algo enfraqueceu o centro da plataforma, e a explicação mais provável seria uma fenda derretida por um oceano quente no nível do leito rochoso. Tal hipótese é apoiada pelo fato de que a equipe descobriu que uma fenda realmente se abriu dentro de um dos vales do enorme pedaço de gelo. Esses vales, que são mais profundos e localizados onde parte das camadas ficam mais baixas do que nível do mar, permitem que a água chegue ao interior, causando rupturas que vão até a superfície.

Segundo Howat, a preocupação, no entanto, é que haja muitos desses vales na geleira. “Se eles realmente são sinais de fraqueza e estão propensos a se romperem, então poderíamos ver uma perda de gelo mais acelerada na Antártida”.

Os resultados do estudo foram obtidos a partir de dados coletados pelo satélite Landsat 8 – um projeto conjunto da NASA e do Glaciar de Pine Island, enviado ao espaço com a finalidade de monitorar as mudanças na superfície da Terra. A partir deles, os pesquisadores foram capazes de identificar sinais de ruptura, incluindo o que ocorreu em 2015, e formações de fendas.

A descoberta foi considerada importante porque aumenta nossa compreensão sobre como o gelo do mundo está derretendo conforme o planeta fica mais quente. Uma vez que o derretimento aumentará o nível do mar em toda a Terra, muitas cidades costeiras sofrerão as consequências.

Precisamos entender exatamente como esses vales e fendas se formam e o que eles significam para a estabilidade das plataformas de gelo” disse Howat. “Estamos limitados a informações obtidas a partir do espaço, isso significa que focaremos em missões aéreas e de campo para coletar observações mais detalhadas”.

No momento, os pesquisadores estão sendo confrontados com previsões de como um próximo evento semelhante a esse irá afetar os níveis marítimos globais, algo que é considerado crucial, uma vez que cerca da metade da população mundial vive próxima a um litoral.

De forma geral, é aceito que a camada de gelo da Antártida Ocidental irá derreter, a questão aqui é saber quando”, disse Howat.

A pesquisa em questão foi publicada na Geophysical Research Letters.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert]

Jornal Ciência