Peixe injeta veneno semelhante à heroína em seus predadores

de Merelyn Cerqueira 0

Cientistas descobriram um veneno quimicamente único em pequenos peixes tropicais da família blenny (Blenniidae).

No entanto, ao contrário das outras criaturas venenosas, esses peixes, nomeados como “blennies caninos” (porque possuem enormes presas) não usam o veneno para capturar presas, apenas para escapar de seus predadores. 

Os blennies, por serem coloridos e chamativos, são escolhas populares para as pessoas que possuem aquários em casa, mas elas sequer sabem que estes peixes abrigam um segredo evolutivo fascinante em suas presas.

Como são pequenos, os blennies estão em constante ameaça de predadores. No entanto, quando são engolidos, enterram suas poderosas presas na boca desses predadores para que eles afrouxem suas mandíbulas e os liberem. 

Esse comportamento foi descrito pela primeira vez há mais de 40 anos pelo zoologista George Losey, que testou o efeito do veneno em alguns ratos e até em si mesmo. No entanto, até o momento ninguém tinha certeza como o veneno realmente funcionava.

Blenny

A toxicidade da mordida de Meiacanthus atrodorsalis foi testada pela força damordida de caudas de dois ratos brancos de laboratório e também minha mão, escreveu Losey em um artigo publicado em 1972. “Observações subsequentes foram inadvertidamente fornecidas por mordidas na área mais macia do meu quadril”.

No estudo mais recente, a equipe internacional de biólogos conseguiu descobrir quais compostos presentes no veneno do blenny de gênero Meiacanthus, o mesmo injetado na pele de Losey. 

Há pelo menos 2.500 peixes venenosos na natureza, todos capazes de transmitir o veneno por meio dos espinhos das barbatanas, caudas ou costas. Logo, qualquer desavisado que tocar esses espinhos poderá sofrer dores excruciantes.

No entanto, o blenny canino age de forma diferente, uma vez que é o um de duas únicas espécies de peixes que injeta veneno pela mordida.

Ainda, e mais curioso do que isso, os pesquisadores descobriram que o veneno do blenny possui hormônios opioides que comumente encontramos em analgésicos. 

“Seu veneno é quimicamente único”, disse um dos líderes do estudo, Brian Fry, da Universidade de Queensland, na Austrália.

“O peixe injeta nos predadores peptídeos opioides que agem como a heroína ou morfina, inibindo a dor ao invés de causá-la”.

No entanto, conforme apontado por Irina Vetter, uma das pesquisadoras, isso não significa que o veneno do blenny atue como analgésico para o predador. 

“Essas substâncias precisam ser liberadas no cérebro para terem esse tipo de atividade, portanto, é improvável que elas aliviem a dor quando os predadores são mordidos, porque são incapazes de entrar no cérebro dessa maneira”, explicou.

Ao invés disso, os pesquisadores acreditam que o veneno trava a pressão sanguínea do predador, deixando-os fracos e tontos, o que os obriga a abrir a boca para deixar o blenny escapar. 

Os pesquisadores consideram que o veneno é animador porque permite descobrir novos compostos para potencial usos na medicina. A pesquisa em questão foi publicada no periódico Current Biology.

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Science Alert

Jornal Ciência