O que acontece no cérebro quando o coração para de bater? Novo estudo encontra resposta inesperada

Um estudo indica que 40% dos pacientes que sofreram parada cardíaca apresentaram atividade cerebral, equivalente à consciência, durante a Reanimação Cardiopulmonar, por até 1 hora

de Redação Jornal Ciência 0

Nova pesquisa diz que 4 em cada 10 pessoas que sofrem uma parada cardíaca apresentam atividade cerebral equivalente à consciência durante a Reanimação Cardiopulmonar (RCP) até uma 1h após o coração parar de bater.

Esta é a principal conclusão do estudo publicado no jornal oficial do European College of Resuscitation e realizado por equipes de cientistas de 25 hospitais de todo o mundo.

A pesquisa também concluiu que até 39% dos pacientes que sobreviveram a uma parada cardíaca lembram-se de certas partes do tratamento ou de experiências importantes de sua “morte”.

O estudo, liderado por investigadores dos Estados Unidos, Bulgária e Reino Unido, acompanhou 567 pacientes cujos corações pararam de bater enquanto estavam internados no hospital. Os cientistas foram alertados por um bip pager quando um paciente tinha parada cardíaca e enquanto a equipe de saúde realizava a ressuscitação cardiopulmonar.

Durante este momento, os cientistas monitoravam a consciência visual e auditiva da pessoa. Nos casos em que a RCP durou um pouco mais do que o convencional, eles também monitoraram a atividade cerebral e a saturação de oxigênio no cérebro.

39% dos pacientes que sobreviveram têm memórias da “morte”

Das 567 pessoas participantes do estudo, apenas 53 sobreviveram à parada cardíaca e, desses, apenas 28 indivíduos conseguiram falar sobre sua experiência e suas lembranças do evento.

Apesar de sofrer uma privação significativa de oxigênio, um deles afirmou ter visto profissionais de saúde colocarem eletrodos em seu peito e sentir os estímulos elétricos, enquanto outro paciente disse que podia ver e ouvir os médicos conversando durante a RCP.

Além disso, 6 dos sobreviventes puderam descrever a experiência de quase morte, como ouvir entes queridos falando ou ver o que acontecia com seus corpos, como se estivessem tendo uma visão de cima.

Já as pessoas que morreram, os cientistas concluíram que elas apresentaram atividade no cérebro equivalente à consciência, por até 1 hora. Isso não significa, necessariamente, que existia consciência após a hora do óbito ter sido declarada.

Os cientistas afirmam que a atividade cerebral mostrava uma equivalência parecida com a que ocorre em estado de consciência, mas não podem garantir se realmente havia consciência, de fato, o que levanta uma série de questões a serem estudadas.

Experiências durante RCP influenciam bem-estar emocional

Até agora, os cientistas estimavam que apenas 1% das pessoas que receberam RCP estavam conscientes, tendo em conta os seus movimentos, sons e outros sinais de consciência. No entanto, os resultados desta nova investigação sugerem que este valor está mais próximo dos 7% — contrariando o conhecimento anterior.

Os autores também descobriram que as experiências mentais avaliadas como positivas durante a ressuscitação, como memórias de terem conversado familiares, tiveram um efeito positivo na recuperação emocional desses pacientes. Por outro lado, aquelas pessoas que relataram ter sofrido dor durante a RCP, sofreram mais consequências emocionais negativas após o evento.

Apenas 3 em cada 10 pessoas, em análise feita na Espanha, sabem realizar a reanimação cardiopulmonar — uma técnica que pode salvar milhares de vidas todos os anos, segundo dados de 2016 da Fundação Espanhola do Coração, e que deveria ser ensinada adequadamente nas escolas.

Em entrevista ao Infobae, o cardiologista Ignacio Fernández Lozano estimou que as mortes por parada cardíaca poderiam ser reduzidas em até 30% se a população soubesse fazer a RCP corretamente.

De acordo com dados de 2021 da Sociedade Espanhola de Cardiologia, ocorrem mais de 52.000 paradas cardíacas, todos os anos. No Brasil, de acordo com a Sociedade Brasileira de Cardiologia, em 2022, foram mais de 190.000 mortes por parada cardíaca.

Fonte(s): Infobae Imagem de Capa: Reprodução / The Telegraph

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