Mamutes sofreram fusões genômicas que colaboraram para sua extinção, afirma estudo

de Merelyn Cerqueira 0

Há pouco mais de 4.000 anos, uma das últimas populações sobreviventes de mamutes-lanosos (Mammuthus primigenius) conseguia resistir às condições de congelamento em uma pequena ilha ao norte da Sibéria.

 

Então, e enquanto seus dias na Terra chegavam ao fim e o número de espécimes diminuía, eles entraram em uma espécie de “fusão genômica”, que ao invés de ajudar, basicamente acelerou o processo de extinção, segundo descobriu um estudo publicado recentemente na revista PLOS Genetics.

 

De acordo com a geneticista evolutiva, Rebekah Rogers, da Universidade de North Carolina, em Charlotte, todo o evento foi como “uma tragédia grega que estava escrita no DNA dos mamutes”. Você olha o genoma deles e vê uma série de mutações ruins”, disse ela entrevista à Live ScienceRogers e Monty Slatkin, um biólogo da Universidade de Berkeley, compararam os genomas de dois mamutes lanudos que viveram entre um período de mais de 40.000 anos de diferença.

 

Ao que se sabe, os mamutes-lanosos se espalharam pelo norte da Europa através da Rússia e América do Norte,por meio de uma região chamada Beríngia, que um dia ficou entre a Rússia e o Canadá. Na Europa, as espécies foram extintas cerca de 10.000 anos atrás, embora pequenas populações tenham sobrevivido em ilhas isoladas até cerca de 3.700 anos atrás. Um desses locais foi a Ilha de Wrangel, no Oceano Atlântico ao largo da costa norte da Sibéria.

 

Nesta ilha, um mamute em especial teria vivido cerca de 4.300 anos atrás, em uma pequena população de cerca de 300 animais. Pesquisas anteriores feitas com o fóssil deste espécime já haviam sido publicadas com uma sequência genômica recuperada de seu DNA, bem como a de outro animal de mesma espécie encontrada no continente siberiano, mas que habitou a Terra, muito mais cedo,há cerca de 45.000 anos.

 

Enquanto o mamute da Ilha de Wrangle viveu entre uma população em declínio, o outro pertenceu a uma comunidade 43 vezes maior. Quando os pesquisadores compararam a genética de ambos os espécimes, descobriram que a população do mamute da Ilha de Wrangle tinha se desenvolvido com uma série de genes nocivos que não estava presente no outro espécime.

 

Havia um excesso do que pareciam ser mutações ruins”, disse Rogers ao The Guardian. “Nós não sabemos exatamente o que aconteceu, mas isso certamente não ajudou em nada”. Entre as mutações mencionadas, a equipe encontrou evidências de que o animal teria perdido muitos dos receptores olfativos, o que possivelmente prejudicou sua capacidade de cheirar e detectar odores importantes, como os feromônios, afetando assim sua escolha de parceiros para acasalamento.

 

Além disso, uma mutação em um gene chamado FOXQ1 pode ter afetado a estrutura da pelagem do animal, que se tornou mais fina. Nas condições polares da Ilha de Wrangle, esse pelo mais fino pode ter dificultado a capacidade de resistir ao frio congelante. Ainda foram encontradas mutações que afetaram o sistema digestivo dos mamutes, que podem ter enfrentado problemas para digerir alimentos.

 

No entanto, os resultados do estudo, segundo a pesquisadora, não necessariamente significam que a população de mamutes teve que recorrer à reprodução interna, mas sim que o número de animais pode ter diminuído até um ponto em que não havia mais genes variantes bons. Era uma população muito pequena”, disse ela à revista Nature. “As mutações ruins que normalmente seriam eliminadas não saíram da população em razão da redução da concorrência”, explicou.

 

Embora o estudo forneça um pano de fundo mais sombrio sobre o que ocorreu com os mamutes-lanosos, ele pode nos ensinar mais sobre como as fusões genômicas prejudiciais podem ocorrer em pequenas populações animais. Basicamente, os mamutes da Ilha de Wrangle foram geneticamente prejudicados”, disse Beth Shapiro, uma pesquisadora paleogenéticada UC Santa Cruz, que não esteve envolvida no assunto. “Entender como isso aconteceu pode nos ajudar a descobrir quais espécies hoje correm o risco de sofrer a mesma coisa”.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

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