Parasita responsável pela doença do sono pode entrar em extinção

de Merelyn Cerqueira 0

Não que alguém vá lamentar essa perda, mas o parasita responsável por uma doença conhecida como “doença do sono”, ou tripanossomíase africana, pode estar entrando em extinção, mas não pela ação do homem, pelo contrário, esse é o resultado do próprio modo de reprodução da espécie, de acordo com um estudo publicado pela revista eLife.

No estudo, os pesquisadores identificaram uma peculiaridade genética particular de espécies assexuadas conhecida como efeito de Meselson, que gera uma diversidade genética dentro de um mesmo indivíduo e que foi descoberto há cerca de 20 anos por um cientista de mesmo nome.

A premissa básica dessa peculiaridade genética está relacionada na maneira como os genes são passados e distribuídos por toda uma espécie. Esses genes estão contidos dentro de cromossomos, em pares, da mesma forma que acontece na maioria dos organismos de modo que, durante a reprodução sexual, o DNA de ambos os pais se envolvem aleatoriamente através desses cromossomos, a fim de criar uma variação genética.

No entanto, a reprodução assexuada, como ocorre com os parasitas, não envolve esse processo de recombinação de genes, assim essa variação genética não acontece. Nesse caso, o efeito Meselson afirma que, em espécies assexuadas, cada cromossomo deve evoluir de forma independente de seu cromossomo parceiro.

Apesar de soar complicado, isso quer dizer que, se uma mutação genética ocorre em um dos cromossomos, essa mutação será passada para todas as gerações futuras, já que entre as espécies assexuadas não existe essa “mistura” de genes entre os pares de cromossomos durante a reprodução.

Com a finalidade de procurar sinais desse efeito, uma equipe de pesquisadores realizou análises genéticas em vários parasitas do gênero Trypanosoma brucei, agente responsável pela doença do sono que utiliza a mosca tsé-tsé como vetor.

Ao picar uma pessoa, a mosca transmite a infecção que pode ser fatal. Analisando as composições genéticas, os cientistas descobriram que a espécie inteira estava se desenvolvendo através de um mesmo haplótipo – uma sequência de DNA que foi herdada dos pais. Essa constatação, segundo eles, comprova o efeito de Meselson em nível completo em um genoma, pela primeira vez.

De acordo com a teoria evolucionista, esse tipo de dispersão genética é capaz de levar qualquer espécie à extinção. Isso porque ocorrem mutações que não podem ser apagadas ou compensadas pela futura mistura dos genes. Observando os parasitas causadores da doença do sono, os pesquisados já identificaram evidências que essa mutação genética inevitavelmente causará a extinção.

Mesmo que um organismo tente diminuir os efeitos dessa mutação, utilizando uma conversão de gene que é capaz de substituir uma versão com mutação por uma saudável, os autores do estudo acreditam que essa tática só é eficaz a curto prazo, e que não pode eliminar totalmente uma mutação ou impedi-la de se espalhar para os genes futuros.

Fonte: IFL Science Foto: Reprodução / Wikipédia

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