Híbrido de humano e chimpanzé: A história do suposto experimento realizado pelos EUA em 1920

de Redação Jornal Ciência 0

O cientista evolucionário e biopsicólogo Gordon G. Gallup Jr., que ganhou fama na década de 1970 após inventar o pioneiro “Teste do Espelho” (uma medida de autoconhecimento baseada em observações feitas de Charles Darwin) afirmou que, durante a década de 1920, pesquisadores na Flórida haviam criado um híbrido humano-chimpanzé.

Gallup confirmou que a polêmica pesquisa, que sempre foi vista como um simples rumor, teria sido confirmada por um ex-professor de sua universidade, que supostamente trabalhou no laboratório de pesquisa onde o animal nasceu, de acordo com informações do portal científico Science Alert.

“Um dos casos mais interessantes envolveu uma tentativa que foi feita na década de 1920 no que foi o primeiro centro de pesquisa de primatas estabelecido nos EUA, em Orange Park, Flórida”, disse Gallup ao jornal britânico The Sun.

“Eles inseminaram uma fêmea chimpanzé com sêmen humano de um doador anônimo e alegaram que não só a gravidez aconteceu, como também foi completa, resultando em um nascimento vivo”.

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Imagem ilustrativa 

No entanto, conforme apontado pela Science Alert, há poucas razões para acreditar que o suposto experimento tenha ocorrido com êxito. Por outro lado, há alguns motivos que indicam ser verdade, a começar pela afirmação ter sido feita por um respeitado cientista e a falta de motivos para ele ter chamado atenção para um rumor já esquecido na história.

Gallup, que é hoje professor na Universidade de Albany, afirmou que, com medo de que problemas envolvendo questões éticas pudessem afetá-los, os cientistas envolvidos acabaram encerrando o projeto.

“Em questão de dias ou semanas eles começaram a considerar as questões morais e éticas e a ‘criança’ foi morta por eutanásia”, disse Gallup, acrescentando que seu mentor, que não foi identificado, confiou a ele a veracidade do polêmico experimento. “Ele me disse que o rumor era verdade. E ele era um cientista de credibilidade por seu próprio mérito”.

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Embora seja impossível confirmar ou refutar as informações de Gallup, há muitas incertezas, e também verdades, em torno da história, a começar pela linha do tempo. Ele afirma que a instituição que realizou o experimento é hoje chamada de Yerkes National Primate Research Center.

Seu fundador, o primatologista Robert Yerkes, era uma figura controversa na comunidade científica, devido ao seu apoio declarado à pesquisa de eugenia (um movimento a favor da seleção genética para a criação de seres humanos “melhores”). Porém, ele também era fascinado por temas de comportamento animal, especialmente o de primatas.

Há de se considerar ainda que, antes de ser chamado de Yerkes National Primate Research Center, durante a década de 1920 o mesmo laboratório já teve vários nomes, incluindo Yale Laboratories of Primate Biology e também Anthropoid Breeding and Experiment Station, que presumivelmente é a instalação que Gallup se referiu.

Enquanto o proeminente cientista não identificou o professor universitário que lhe contou sobre o “humanzé”, esta não é a primeira vez que a história foi mencionada por ele.

Em um documentário de 2009, Gallup afirmou que sua “fonte crível” realmente testemunhou o nascimento da descendência híbrida, antes de fazer uma retratação sobre a afirmação.

A história chegou a ser publicada no Wikipedia, mas foi retirada logo depois, sobrevivendo apenas em fóruns espalhados pela internet.

Embora talvez nunca saibamos se a história é verdadeira ou falsa, essa certamente não é a primeira vez que cientistas exploraram as possibilidades da hibridização de humanos e macacos.

Pesquisadores na antiga União Soviética e China, por exemplo, já chegaram a experimentar a ideia. Na Rússia o projeto foi liderado pela bióloga Ilya Ivanovich Ivanov, durante a década de 1920.

Porém, ela não conseguiu uma gravidez bem-sucedida nos chimpanzés artificialmente inseminados com esperma humano. Já na China, o experimento ocorreu na década de 1960, também de maneira falha.

Na verdade, o exemplo mais famoso do mundo de “humanzé” ocorreu nos EUA, quando um chimpanzé chamado Oliver foi trazido da África sob a suspeita de que seria um híbrido humano, dada a sua aparência, capacidade de andar de pé e preferência pela companhia de pessoas.

No entanto, testes genéticos confirmaram que ele era apenas um chimpanzé.

Portanto, em última análise, tudo o que temos sobre as afirmações de Gallup são rumores que se unem aos vários já existentes envolvendo o laboratório de pesquisa em primatas de Robert Yerkes.

Fonte(s): Science Alert Imagens: Reprodução / The Sun / Redes Sociais

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