A mudança nos padrões climáticos causou a morte de mais de 80.000 renas ao longo dos últimos 10 anos, devido à fome.
Em 2006, cerca de 20.000 veados foram mortos, e em 2013, 61.000 animais morreram de fome. Esse número corresponde a 22 por cento de toda a população de renas na península Yamal.
Um novo estudo mostrou que esses índices de morte tinham algo em comum: o clima. O problema em 2006 e 2013 foi que as temperaturas excepcionalmente quentes no início de novembro levaram a fortes chuvas, que transformaram a neve macia, prejudicando o abastecimento alimentar das renas.
As renas têm grande importância para a economia da península Yamal. O pesquisador que comandou o estudo, Bruce Forbes, da Universidade da Lapónia, em Rovaniemi, Finlândia, e sua equipe começaram a investigar qual a combinação de eventos climáticos tinha causado o fenômeno.
Depois de olharem para o gelo do mar e analisar os registros do tempo, descobriram que tudo se resumia a uma cobertura de gelo nos mares de Barents e Kara perto da península de Yamal, no início de novembro. Em 2006 e 2013, o gelo nessas regiões começou a recuar no início de novembro – um momento em que ele deveria se reconstituir após o degelo do verão.
A falta de cobertura do gelo do mar aumenta a evaporação e a umidade e se mistura com as temperaturas do ar excepcionalmente quente. Essa combinação resulta em nuvens de chuva, que viajam sobre a ponta sul da península Yamal. O problema ocorreu quando as temperaturas caíram para -40 graus Celsius no resto do inverno. O chão molhado congelou e formou-se uma camada de gelo impenetrável que durou meses, impedindo as renas de se alimentarem com a vegetação abaixo dessa camada.
Em 2006, havia algumas lacunas neste gelo, e 20.000 renas morreram de fome. Mas em 2013, 61.000 das 275.000 renas na península morreram. “Perder 22 por cento da população de renas nunca aconteceu antes“, disse Coghlan. A equipe agora tem visto sinais preocupantes de que essas mesmas características podem estar prestes a aparecer novamente.
Em setembro deste ano houve a segunda menor quantidade de cobertura de gelo do mar já registrado no Ártico, sugerindo que as temperaturas eram muito mais quentes do que o normal. “Se observarmos tais eventos novamente este ano, pode significar que eles estão se tornando mais frequentes“, disse Coghlan. “Isso vai ser um grande problema para os criadores de renas tradicionais que ainda sofrem de perdas em 2013“, completou.
Ter a mesma cobertura de gelo este ano será um golpe ainda mais grave, porque um abate de 250.000 renas já está previsto para acontecer. Um surto de Antraz também tem foi associado à morte dos animais. Em agosto deste ano, pelo menos uma criança morreu e 90 pessoas foram hospitalizadas devido ao descongelamento dos cadáveres de renas infectadas na península de Yamal. Os pesquisadores também estão preocupados com o que a camada grossa de gelo poderia significar para outras plantas e animais da região.
“Este estudo serve para sublinhar a fragilidade dos ecossistemas do Ártico e analisar o quão sensível o clima da Terra é de acordo com as alterações na cobertura de gelo“, diz Ed Blockley, cientista-chefe do Grupo Clima Polar no Hadley Centre UK Met Office. Os pesquisadores alegam que são necessárias mais pesquisas sobre o assunto para prever melhor quando esta cobertura de gelo vai ocorrer novamente e como é possível proteger a vida selvagem nesse tipo de situação.
A pesquisa foi publicada na revista Biology Letters.
[ Science Alert ] [ Foto: Divulgação / Universidade de Oxford ]