Astrônomos não estão seguros de que os planetas recém-descobertos pela NASA sejam habitáveis

de Merelyn Cerqueira 0

Pesquisadores acreditam que os planetas recém-descobertos no sistema solar TRAPPIST-1 poderiam já ter perdido atmosfera em razão da radiação de sua estrela, tornando improvável que água líquida possa fluir em suas superfícies.

 

Os astrônomos do Observatório da Universidade de Genebra, na Suíça, acreditam que este é o problema para pelo menos alguns dos planetas, e não todos. A sugestão foi feita após análises em emissões espectrais do sistema solar, em que encontraram evidências de que a estrela pode ser jovem o suficiente para ainda não ter tido tempo de explodir suas atmosferas.

 

Os cientistas compararam os dois tipos de radiação emitidos pela estrela anã vermelha ultrafria de TRAPPIST-1, e concluíram que ela não parece ser “extremamente antiga”. Isso, segundo eles, coloca em questão o quanto de atmosfera ainda se apega às superfícies da família de planetas rochosos.

 

Para quem ainda não está familiarizado com o assunto, TRAPPIST-1 é um sistema solar localizado a 39 anos-luz de distância descoberto no ano passado. Na época, acreditava-se que a estrela possuía apenas três planetas. No entanto, recentemente a NASA anunciou que o sistema hospedava pelo menos sete mundos, ocupando órbitas estreitas relativamente próximas à estrela. Especulou-se ainda que pelo menos alguns destes pudessem habitar a chamada “zona de Goldilocks”, onde há a possibilidade de existência de água em estado líquido e, portanto, vida.

 

A emocionante notícia inspirou a NASA a sugerir que o público nomeasse os planetas, bem como a liberar uma série de artes feitas por fãs para alimentar nossa imaginação. No entanto, como orbita tão proximamente sua estrela, é bem provável um de seus hemisférios enfrente constantemente os raios emitidos por ela, enquanto que o outro fique em perpétua escuridão. Nesses casos, a radiação da estrela anã vermelha ioniza os gases na atmosfera do planeta, permitindo que partículas sejam empurradas para longe da superfície por meio dos ventos solares.

 

Ainda no ano passado, os astrônomos consideraram que TRAPPIST-1 poderia ser bem “temperamental”, uma vez que se calcula que seus planetas tenham perdido grandes quantidades de água da Terra por este efeito de “lavagem” ao longo de sua vida. Já na última pesquisa, os astrônomos compararam dois tipos de radiação emitida pela estrela anã: os raios X emitidos pelo lado coronal fino e a luz ultravioleta, chamada de radiação de Lyman-alfa, proveniente dos átomos de hidrogênio da camada da cromosfera.

 

Descobriu-se então, que TRAPPIST-1 emite menos da metade da radiação de Lyman-alfa de Proxima Centauri – sistema mais próximo de nosso Sistema Solar e considerado uma estrela fria. Embora ambas emitam a mesma quantidade de raios X, os cientistas tiveram de considerar isso “estranho”, uma vez que a emissão de radiação ultravioleta para esta categoria de estrelas diminui com o tempo, com os raios desaparecendo muito mais rápido.

 

O fato de TRAPPIST-1 emitir cerca de três vezes menos fluxo de Lyman-alfa do que raios X sugere que ela ainda é relativamente jovem”, escrevem os pesquisadores no estudo publicado em Astronomy and Astrophysics. E por “relativamente jovem”, eles sugerem que a estrela possa ter cerca de meio bilhão de anos de vida.

 

Ainda, o fato de possuir uma órbita curta também adiciona peso à constatação de que não se trata de uma estrela extremamente antiga. E isso também significa que suas emissões de raios X no passado eram mais fortes, sendo reduzidas ao longo do tempo. Há esperanças para o fato de que o espaçamento dos planetas indique a possibilidade de que migraram para perto da estrela, submetendo-se a explosões intensas de radiação.

 

Se eles migraram como dentro de um disco, as escalas de tempo típicas são de cerca de 100 milhões de anos, mas isso não pode ser válido para um sistema como TRAPPIST-1”, disse o pesquisador Vincent Bourrier. Apesar de parecer jovem, seu movimento através do Espaço o coloca dentro de uma multidão mais antiga de estrelas, o que pode ser apenas coincidência ou um sinal de que ainda há muito mais a ser aprendido.

[ Science Alert ] [ Fotos: Reprodução / Science Alert ]

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