Vida selvagem existe e persiste em Chernobyl mesmo após histórico acidente radioativo, diz estudo

de Merelyn Cerqueira 0

Foi em abril de 1986 que um catastrófico acidente nuclear mudou para sempre Chernobyl, região fronteiriça entre Ucrânia e Bielorrússia.

No evento, grandes quantidades de detritos radioativos perigosos foram espalhadas, criando-se a necessidade da formação de uma Zona de Exclusão, que abrange cerca de 2.600 quilômetros quadrados.

Embora a vida humana seja rara ali (pouquíssimas pessoas moram na região, mesmo com o alto risco de contaminação e câncer), o mesmo não pode ser dito para a selvagem, que insiste em prosperar em meio as lembranças da catástrofe.

De fato, um estudo recente publicado na revista Food Webs, apresentou por meio de evidências que os animais selvagens estão prosperando na região.

Uma equipe composta por pesquisadores da Universidade da Geórgia (EUA), que vêm investigando os habitantes selvagens da região da Zona de Exclusão há anos, recentemente criou um experimento para investigá-los.

Eles espalharam peixes ao longo das margens dos rios e montaram armadilhas fotográficas para registrar qualquer animal que aparecesse para fazer um lanche.

Após analisar as imagens, os pesquisadores observaram 15 espécies de vertebrados – 10 mamíferos e 5 pássaros. Entre os mamíferos estavam ratos, guaxinins, lobos e lontras eurasianas. Já os pássaros eram corujas, águias-de-cauda-branca, entre outras.

Os pesquisares afirmaram já terem visto evidências de uma diversidade de vida selvagem na Zona de Exclusão através de pesquisas anteriores, mas esta foi a primeira vez que observaram águias-de-cauda-branca, lontras e um mamífero pouco conhecido para nós brasileiros, chamado marta.

De fato, a marta é nativa da América do Norte, e é na verdade uma espécie invasora trazida pela Europa pela indústria de peles.

Em um estudo anterior, feito em 2015, eles encontraram populações abundantes de mamíferos como alces, veados, javalis e lobos.

No novo estudo, os pesquisadores se concentraram apenas em animais coletores, ficando satisfeitos em descobrir que 98% dos peixes deixados foram encontrados por espécies terrestres ou semiaquáticas – um sinal de que ali vive uma comunidade saudável de coletores e um ecossistema mais amplo.

Os pesquisadores descobriram que os peixes foram mais eficientemente coletados quando colocados no rio, já que eram mais fáceis de serem detectados, mas que a riqueza de espécies era maior em torno dos canais destes rios.

Isso ocorre porque os canais são cercados de vegetação, proporcionando um ambiente mais seguro para os animais terrestres.

A equipe observou que as descobertas revelaram a presença de uma “comunidade altamente eficiente de coletores vertebrados” dentro da Zona de Exclusão, uma característica importante de qualquer ecossistema saudável.

Isso mostra que, aparentemente, o estado de abandono que a Zona de Exclusão transmite esconde um paraíso inesperado para grande parte da vida selvagem da Ucrânia – embora o estudo não diga se os animais vivam com contaminação radioativa ou se sofrem consequências de saúde por viverem na área.

Fonte: IFL Science Fotos: Reprodução / IFL Science / Daily Mail / BBC 

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