Após o desastre nuclear de Chernobyl, em 1986, as cidades vizinhas mais próximas foram evacuadas, criando uma zona não habitável que logo se tornou decrépita e perigosa. No entanto, um assentamento foi criado para abrigar os funcionários que ainda eram encarregados de continuar trabalhando na produção de energia.
Chamada de Slavutych, a cidade atualmente possui cerca de 25 mil habitantes, entre estes uma geração de jovens que cresceu à sombra do desastre, mas que hoje amadureceu e tem famílias no mesmo local. Ainda, os mesmos jovens foram os principais responsáveis pela criação do chamado Novo Confinamento Seguro (NSC), que basicamente consertou a bagunça criada pelos seus antecessores, de acordo com informações do jornal Daily Mail.
Cerca de 6.000 pessoas dedicaram os últimos seis anos à construção do NSC, que consiste em uma estrutura, ou sarcófago, de aço de 120 metros de altura posta sobre a unidade de número 4 da Planta Nuclear de Chernobyl, praticamente sepultando o reator do acidente e impedindo o vazamento de novos resíduos radioativos que, de outra forma, contaminariam as regiões vizinhas.
No entanto, apesar do futuro ambiental estar garantido, o dos habitantes de Slavutych é um pouco mais obscuro. Sabendo disso, o fotografo suíço Niels Ackermann resolveu explorar o local, onde passou quatro anos registrando a vida dos jovens à medida que amadureciam. As fotos mostram uma geração atingida pelo consumo de drogas e bebidas, embora tenha crescido e trabalhado duro para ajudar a consertar um dos maiores desastres ambientais do mundo.
Quando chegou ao local achou difícil imaginar que uma geração como aquela estivesse encarregada de “salvar mundo”. Em seguida, passou a seguir uma garota chamada Yulia, descobrindo que ela desfrutava de um estilo de vida festivo, cercada por um enorme círculo de amigos.
Em uma série de fotos, ele chega a pintar uma imagem de degradação, enfatizando sempre o consumo regular de álcool e drogas por parte dos jovens. Particularmente, uma imagem apresenta um dispositivo chamado vodnik, semelhante a um “bong”, usado para o consumo de cannabis e outros entorpecentes.
Segundo Ackermann, geralmente, nas manhãs seguintes, muitas das vezes esses jovens eram vistos desmaiados, e em muitos casos, rodeados por um mar de latas de bebidas vazias, ilustrando claramente os excessos de uma noite de diversão.
No entanto, à medida que cresciam e amadureciam, saíram de suas bolhas de irresponsabilidade e começavam a assumir o trabalho, juntamente com outros residentes mais velhos de Slavutych. Então, logo ajudaram a construir o NSC, bem como rapidamente passaram a se adaptar à vida adulta.
“No início havia muita bebida, muitas festas envolvendo álcool e às vezes drogas”, contou o fotógrafo ao Daily Mail. “Mas então eu os vi crescer, e eles começaram a formar casais. O flerte logo se transformou em alguns relacionamentos sérios. Por exemplo, Yulia, a protagonista das fotografias – acabou se casando e, pouco antes de eu partir, se divorciou. Foi fascinante ver essas pessoas atravessarem a jornada da vida que todos nós atravessamos”.
A cidade de Slavutych inicialmente havia sido construída para que os funcionários de Chernobyl continuassem trabalhando no local, fornecendo eletricidade para a região, algo que continuou até o ano de 2000, apesar do incidente nuclear. Então, quando a produção de eletricidade foi interrompida, as perspectivas futuras da cidade se tornaram sombrias, até que, poucos anos depois, os planos para a construção do NSC foram aprovados.
Embora acredita-se que o final da obra, que está próximo, deixará cerca de 3.500 pessoas desempregadas, Ackermann parece um pouco esperançoso sobre o futuro. “Não há um futuro claro para a cidade. Será um grande número de pessoas desempregadas, quando consideramos que o total da população ali é de cerca de 25.000”, disse. “Muitas vezes, quando pensamos na Ucrânia, pensamos de forma negativa, com estereótipos ruins, mas vejo tudo isso como uma história positiva”.
“Muitas dessas pessoas são contadoras, jornalistas, entre outros, mas desistiram de seus sonhos de carreira para um trabalho mal pago”, disse. “Eu não estou otimista pelo futuro da cidade, mas estou otimista pelo futuro desses jovens trabalhadores. É muito simbólico que eles estejam consertando a bagunça que a geração de seus pais criou, durante uma época de revolução”. “Eles são exemplos de jovens para todo o país, porque estão trabalhando para construir uma Ucrânia mais segura e ambiciosa”, acrescentou.
[ Daily Mail ] [ Fotos: Reprodução / Daily Mail ]