Qual é a relação entre a Síndrome de Asperger e o Nazismo?

de Bruno Rizzato 0

Existem muitos estudos sobre o autismo e suas condições secundárias, porém, muitos deles ainda são considerados controversos.

Uma curiosidade que poucas pessoas sabem, no entanto, é que um pioneiro na pesquisa sobre uma forma de autismo, chamada de síndrome de Asperger, pode ter sido um simpatizante do nazismo, o que fez com que seus estudos fossem ignorados durante anos, segundo um novo livro histórico anunciado pela National Public Radio (NPR), uma rede pública de rádio dos Estados Unidos.

A síndrome de Asperger, desde a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-V), de maio de 2013, enquadrou-se em um novo termo médico: o Transtorno do Espectro do Autismo (TEA).

Com essa nova definição, a síndrome passou a ser considerada uma forma mais branda de autismo. Segundo o DSM-V, o principal sintoma é o sinal de “déficits persistentes na comunicação social e na interação social em múltiplos contextos, atual ou por história prévia”.

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Seu reconhecimento e diagnóstico foram conquistas de um pediatra chamado Hans Asperger. Uma psiquiatra britânica chamada Lorna Wing popularizou o termo “síndrome de Asperger”, em uma publicação de 1981. O primeiro livro em inglês sobre a síndrome de Asperger foi escrito por Uta Frith, em 1991, e a condição foi posteriormente reconhecida, ainda na mesma década.

Porém, o novo livro histórico relata que o Dr. Asperger era um pediatra atuante na década de 1930, na Áustria, contando que ele tinha ligações diretas com o nazismo: “As implicações desta questão são de longo alcance, porque o trabalho de Asperger sobre o autismo na Universidade de Viena, em 1930, foi ignorado por décadas depois da guerra, pois ela teve um impacto catastrófico sobre pessoas autistas e suas famílias. A controvérsia também dificultou o julgamento preciso sobre o comportamento de pessoas que viviam sob regimes brutais, mesmo décadas após o fato”.

Apesar dos relatos, existem algumas dúvidas sobre Dr. Asperger ter seguido a linha ideológica nazista apenas como autopreservação, para não ser perseguido, ou se ele realmente acreditava nas atrocidades que a filosofia pregava. O autor do livro que realizou o resgate histórico observa que o trabalho de Asperger não mostra claramente que ele era um simpatizante fervoroso do nazismo: “A fim de manter a sua posição na universidade, Asperger, que possuía fala mansa, precisou, no mínimo, fazer um juramento de lealdade a Hitler. Mas apesar de quase todos os colegas de Asperger, eventualmente, terem se juntado ao partido nazista, Asperger nunca o fez”.

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Porém, independentemente do posicionamento ideológico do pediatra, a questão principal é que a comunidade científica ignorou, durante anos, o trabalho de pesquisa pioneiro que ele – assim como tantos outros – realizou. Porém, como a comunidade poderia abordar o trabalho destes cientistas, ainda é um assunto complexo sete décadas depois.

Será que o comportamento e as opiniões de um cientista desqualificariam suas conquistas definitivas? Apesar da resposta ser complicada, durante décadas, pessoas acometidas pela síndrome de Asperger não foram diagnosticadas, passando por muito sofrimento.

Acredita-se que o próprio Hans Asperger exibia algumas características da condição, na infância incluindo o afastamento social e talento na linguagem. Em sua pesquisa realizada na década de 30, ele tirou fotografias de jovens com os sintomas, que ele descrevia como detentores de um “olhar franco, sincero e intenso”.

Em 1944, Asperger escreveu um documento chamado “Psicopatia autista na infância”, segundo o qual quatro das duzentas crianças estudadas em sua prática apresentaram dificuldade em integrar-se socialmente. Apesar da inteligência das quatro crianças parecerem normais, elas não tinham habilidades de comunicação não-verbal, sendo incapazes de demonstrar empatia com os colegas, além de serem fisicamente desajeitados.

Fonte: Science Dump Foto: Reprodução / Wikipédia

Jornal Ciência