Quais são as chances de existir uma nova Covid? Maiores do que imaginamos, diz estudo

A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Communications.

de Redação Jornal Ciência 0

Com o mundo ainda se recuperando da devastação da Covid-19, a questão de se – e quando – veremos outro membro da família dos coronavírus aparecer em um futuro próximo, tem chamado a atenção dos pesquisadores.

Uma pesquisa recente empregou o aprendizado de máquina – tecnologia onde os computadores têm a capacidade de aprender de acordo com as respostas esperadas por meio de associações de diferentes dados.

Com isso, os computadores conseguem prever quais mamíferos poderiam hospedar várias cepas de coronavírus, permitindo que os patógenos se misturassem e juntassem os ingredientes necessários para uma Covid da próxima geração.

Os números sugerem cerca de 12 vezes mais associações entre coronavírus e animais (seus hospedeiros) do que as estimativas feitas pelos cientistas baseadas apenas na observação.

De forma alarmante, eles também encontraram mais de 30 vezes os hospedeiros em potencial para abrigar o SARS-CoV-2 (o vírus da Covid-19), o que permitiria que se recombinasse, tornando-se mais complexo. O estudo também mostrou 40 vezes mais espécies de animais com capacidade de hospedar os outros tipos de coronavírus que existem. Isso é muito mais do que imaginávamos.

O estudo, realizado por pesquisadores da Universidade de Liverpool, no Reino Unido, não pode nos dizer onde ou mesmo quando as futuras pandemias surgirão, mas sugere que nossos modelos atuais no ecossistema do coronavírus precisam seriamente de uma revisão.

Embora o nome dessa família de vírus seja agora sinônimo de alto índice de contaminação e mortalidade pela pandemia, a maioria dos tipos existentes de coronavírus é relativamente inofensiva.

Tipos de coronavírus

Existem 4 gêneros que compõem a família dos coronavírus, simplesmente denominados alfa, beta, gama e delta, que infectam de forma variada uma ampla variedade de mamíferos e pássaros. Apenas os coronavírus alfa e beta contêm variantes que infectam humanos, sendo que o beta contém cepas de Síndrome Respiratória Aguda Grave (SARS).

Os vírus regularmente misturam genes e recodificam seu genoma à medida que infectam hospedeiros, arriscando-se a novos métodos inteligentes para desbloquear a abertura das células, evitando serem encontrados pelo sistema imunológico.

Além disso, vírus de grupos diferentes podem se reunir dentro de um hospedeiro e trocar essas novas ferramentas úteis que eles desenvolveram durante a mutação, dando origem a combinações cada vez mais poderosas que levam a propagação do vírus a um nível totalmente novo.

Acompanhar esse processo não é simples. Os pesquisadores ainda estão tentando descobrir as origens exatas do vírus SARS-CoV-2, com evidências atualmente apontando para morcegos – embora ainda existam dúvidas ou questionamentos.

Muitas espécies de morcegos podem abrigar vários vírus de forma confortável por longos períodos, graças ao sistema imunológico incrivelmente potente destes animais.

Isso é péssimo, pois os vírus têm tempo suficiente e contato com uma enorme variedade de outros vírus, dando a chance de misturarem seus genes.

Após essa evolução genética, o vírus pode saltar diretamente para os seres humanos ou usar um outro animal como intermediário. No surto inicial da Covid-19, imaginou-se que o vírus poderia ter saído de morcegos e infectado pangolins (um tipo de mamífero) por serem selvagens e terem a carne consumida na China.  

Saber se a contaminação dos seres humanos com o vírus da Covid-19 foi apenas uma falta de sorte ou um encontro inevitável pelas mutações evolutivas do vírus, depende de vários fatores.

Para sabermos a resposta, precisamos compreender claramente a diversidade dos coronavírus, quais são os animais que ele pode usar como hospedeiro em potencial e quais são as circunstâncias que levam o vírus a ter contato com estes animais.

Os virologistas não sabem completamente estes fatos, mas também estão cientes de que ainda não viram nem a “ponta do iceberg epidemiológico” quando se trata de vírus que saltam silenciosamente de uma espécie para outra, especialmente na natureza.

Análise de computador

Nesse caso, algoritmos computadorizados foram projetados para encontrar padrões entre três perspectivas diferentes, mas complementares – características genômicas entre a árvore genealógica do vírus, características de centenas de mamíferos hospedeiros em potencial e características da relação entre o vírus e seu hospedeiro.

Os resultados revelam como os membros da família dos coronavírus compartilham seus segredos. Isso é muito importante, visto que o vírus da Covid-19 está circulando pelo mundo, com enorme potencial de formar combinações e mutações, o que poderia tornar a situação rapidamente fora de controle.

As observações e pesquisas humanas mostram que há apenas 4 mamíferos não humanos conhecidos por serem capazes de hospedar o SARS-CoV-2 (vírus da Covid-19) e um outro tipo de coronavírus.

Mas, quando os novos dados de computadores são levados em consideração, um número impressionante de 126 animais hospedeiros do vírus causador da Covid-19 (o SARS-CoV-2) são identificados. Além disso, é possível existir 2.544 interações únicas no vírus, o que poderia fazer a Covid-19 ressurgir com “força total”.

Os cientistas acreditam que os dados ainda não são suficientes para dizer quais são as chances exatas ou quando poderá surgir um novo Covid, derivado de outro coronavírus. A chance é remota, mas possível. O que a ciência busca é conhecimento para estarmos preparados antes que uma nova pandemia possa ocorrer.

A pesquisa foi publicada na revista científica Nature Communications.

Fonte(s): Science Alert Imagens: Reprodução / Unsplash

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