Novo tratamento contra o câncer consiste em manter as células afetadas vivas

de Bruno Rizzato 0

A quimioterapia convencional envolve a administração da dose máxima tolerada de medicação, na esperança de destruir o maior número de células infectadas possível. Agora, uma nova abordagem menos agressiva para combater a doença poderia oferecer melhores resultados, de acordo com um novo estudo.

Pesquisadores nos EUA desenvolveram uma forma de combate a células cancerígenas chamada de “terapia adaptativa”. Ao invés de tentar causar o máximo de dano possível às células cancerígenas, a ideia é combater tumores com doses mais baixas. Isso deixaria as células mais resistentes em risco por manter uma população de células sensível aos medicamentos.

É uma tendência natural usar a terapia de alta dose com base no pressuposto de que cada paciente receba o benefício máximo, matando mais células cancerígenas. No entanto, de acordo com princípios evolutivos, terapia com altas doses é menos provável de ser bem-sucedida no controle do tumor por qualquer período de tempo, pois acaba favorecendo células resistentes, que crescem rapidamente porque o tratamento eliminou todas as concorrentes menores”, disse o oncologista Robert Gatenby, do Centro de Câncer Moffitt, na Flórida.

Em outras palavras, a terapia adaptativa – que os pesquisadores testaram apenas em ratos – ao invés de tentar matar o câncer por completo, tenta fazer uma terapia controlada, deixando o paciente viver com a doença de uma forma sustentável, sempre tratável.

Para testar a abordagem, os cientistas fizeram testes em ratos com dois tipos diferentes de câncer. Eles tentaram três estratégias de dose máxima: padrão, terapia adaptativa com redução de doses conforme o tumor respondia (AT-1), e uma terapia alternativa adaptativa com doses que ignoravam a resposta do tumor (AT-2).

As descobertas, relatadas na revista Science Translational Medicine, mostram que o crescimento do tumor inicialmente diminuiu nas três abordagens, mas voltou a crescer quando a dosagem de quimioterapia padrão parou e quando as doses foram ignoradas no AT-2. No entanto, as doses baixas contínuas em AT-1 resultaram em uma estabilização a longo prazo do tumor, tanto que o tratamento foi capaz de ser retirado na maioria dos animais. Esses ratos viveram significativamente mais tempo do que aqueles que receberam regime de quimioterapia padrão ou dosagem AT-2.

Agora, um novo estudo do Centro pretende implementar o primeiro ensaio clínico da terapia adaptativa em um grupo de pacientes com câncer de próstata. Se os ensaios forem tão bem-sucedidos em seres humanos quanto foram em camundongos, poderia ser o início de uma abordagem fundamentalmente nova para a luta contra o câncer. “Nós tendemos a pensar nos cânceres como uma competição entre o tumor e o hospedeiro, mas ao nível das células cancerígenas, elas estão competindo umas com as outras”, concluiu Gatenby.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / The Spirit Science ]

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