Transplante de cocô está ajudando a salvar pacientes com leucemia após transplante de medula; entenda

O estudo mostra que as fezes transplantadas podem reforçar imunidade e ajudar pacientes com doenças imunológicas após o transplante de medula

de Redação Jornal Ciência 0

Em um estudo inédito, pesquisadores australianos estão testando as propriedades de reforço imunológico que as fezes humanas têm para tratar uma doença pós-operatória em pacientes com leucemia.

A Dra. Andrea Henden, médica hematologista e imunologista, que está dirigindo o estudo, disse à Newsweek que a Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro (GVHD, sigla em inglês) é uma consequência típica do transplante de medula óssea.

Os transplantes de medula óssea são usados para tratar indivíduos com certos tipos de câncer e outros distúrbios sanguíneos.

As células do nosso sangue são produzidas na medula, dentro dos nossos ossos. Quando ocorre um transplante, existe a restauração deste tecido, estabilizando a produção de novas células sanguíneas saudáveis.

Devido ao fato de a medula óssea ser responsável pela geração dos glóbulos brancos (células de defesa do nosso sistema imune), o transplante introduz um novo sistema imunológico no hospedeiro (paciente).

Ocasionalmente, após o transplante de medula, este sistema imunológico não reconhece as células de seu novo hospedeiro e, portanto, começa a atacar as células saudáveis do paciente. Este é o caso da GVHD.

“A GVHD é denominada aguda quando ocorre logo após um transplante de medula óssea e pode afetar o trato gastrointestinal, pulmões, fígado e pele”, explicou a Dra. Henden.

Ela é especialista em câncer no Royal Brisbane and Women’s Hospital, na Austrália, e pesquisadora do QIMR Berghofer Medical Research Institute. “Isso ocorre em 25% a 30% das vezes”, disse.

Mesmo pacientes que não sofreram com a GVHD logo após a cirurgia, costumam apresentar o problema após 100 dias do transplante de medula, o que pode afetar até 70% dos transplantados. A GVHD pode afetar qualquer órgão do corpo, salientou a Dra. Henden.

Os tratamentos convencionais para GVHD envolvem medicamentos para diminuir a atividade do sistema imunológico, os chamados imunossupressores, o que deixam pacientes suscetíveis a outras doenças.

A ciência ainda não conhece os mecanismos ou causas que determinam a suscetibilidade do paciente à Doença do Enxerto Contra o Hospedeiro (GVHD), entretanto, novos estudos fazem ligação direta com os microrganismos intestinais do paciente.

A quimioterapia e os antibióticos usados durante o processo de tratamento nos pacientes com leucemia, causam forte desregulação nos micróbios intestinais — isso é chamado de disbiose.

A Dra. Henden explica que o Transplante de Microbiota Fecal (TMF) tem como objetivo restabelecer um microbioma mais normal aos intestinos, favorecendo o sistema imunológico.

Por que microrganismos intestinais são tão importantes?

Seu corpo é o lar de trilhões de bactérias, a grande maioria das quais reside em seu intestino. Este microbioma intestinal tem sido ligado a quase tudo, desde a digestão até depressão, e desempenha papel crucial imunológico.

Nossos microbiomas são frágeis a tratamentos severos, tais como antibióticos e quimioterapia, e pode ser um desafio enorme restaurá-los aos níveis normais e saudáveis após serem esgotados.

A transferência de micróbios intestinais de uma pessoa para outra, é uma forma muito eficaz de restaurar a população saudável de microrganismos, com maior variedade de espécies de bactérias que ajudam o corpo em vários mecanismos.

O transplante de fezes promove micróbios com propriedades protetoras, eliminando o desequilíbrio onde bactérias ruins acabam tendo predominância.

“Pode também restaurar a função de barreira do intestino, que é danificada pela quimioterapia, mas o mecanismo exato pelo qual o transplante de fezes é benéfico ainda não foi estabelecido”, disse.

O transplante de fezes é feito através de um tubo que passa pelo nariz do paciente e vai até o intestino delgado. As fezes são de pacientes criteriosamente selecionados e estudados, da mesma forma que ocorre na doação de sangue.

Até o momento, os pacientes têm obtido ótimas respostas terapêuticas, mas os estudos estão apenas no início. Mas, não é a primeira vez que o transplante de fezes é usado para tratar pacientes gravemente enfermos.

Ele é, às vezes, usado para tratar pacientes com infecções recorrentes por Clostridium difficile, uma infecção intestinal que pode ocorrer após uso de antibióticos e resultar em graves problemas estomacais e inflamação do cólon.

Os dados preliminares sugerem que o desequilíbrio nos microrganismos intestinais tem papel significativo nas respostas de tratamento contra o câncer.

De acordo com Henden, o transplante de fezes também pode ser eficaz para outras doenças gastrointestinais inflamatórias de origem imunológica.

Fonte(s): Newsweek Imagem de Capa: Reprodução / Science Alert Foto(s): Reprodução / Yale Global Health Review

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