Acusado de causar câncer, talco para bebês da Johnson & Johnson deixará de ser vendido em todos os países em 2023

A empresa enfrentou uma verdadeira guerra judicial com milhares de processos acusando seus produtos infantis à base de talco de causar câncer

de REDAÇÃO JORNAL CIÊNCIA 0

A Johnson & Johnson deixará de vender seus famosos talcos para bebês, em todo o mundo, a partir do próximo ano, no que chamou de “decisão comercial” destinada a garantir o crescimento a longo prazo. As informações são do jornal The Washington Post.

A empresa interrompeu as vendas de tais produtos nos Estados Unidos e Canadá há pouco mais de 2 anos, citando a queda na demanda pelo talco após milhares de ações judiciais contra a empresa alegando que o pó continha substâncias cancerígenas.

Acionistas já haviam pressionado a empresa a parar de vender os produtos em pó à base de talco, internacionalmente e aguardavam um posicionamento mais contundente.

Segundo o jornal, a Johnson & Johnson disse na quinta-feira (11/08) que permanece “firmemente atrás da visão de que seus produtos à base de talco são seguros, não causam câncer e não contêm amianto”.

A exposição ao amianto tem sido associada ao câncer de pulmão, mas há um debate sobre se o material pode causar câncer de ovário. A Johnson & Johnson perdeu processos judiciais envolvendo alegações de que seus pós à base de talco causam câncer de ovário, mesmo a empresa negando tal alegação.

Um escritório de advogados em Chicago, procurado pelo The Washington Post, disse que teria havido um impacto real e negativo nos Estados Unidos se a Johnson & Johnson tivesse tomado a decisão de parar de vender internacionalmente produtos à base de talco anteriormente.

O pó para bebês da empresa é feito do talco mineral, que consiste principalmente de magnésio, silício e oxigênio. Em sua forma natural, alguns talcos contêm amianto, que a American Cancer Society diz que pode causar câncer dentro e ao redor dos pulmões, quando inalado.

A indústria de produtos pessoais dos EUA tem diretrizes e normas, há muitos anos, que orientam que produtos de beleza não devem conter quantidades detectáveis ​​de amianto. A Johnson & Johnson havia reclamado anteriormente de “desinformação” sobre a segurança do pó à base de talco e que “houve uma enxurrada de publicidade de sobre os processos judiciais”.

A empresa irá retirar o talco do pó infantil e irá produzir seu talco à base de amido de milho. Em 2020, a Johnson & Johnson disse que a demanda por talco infantil é maior fora dos Estados Unidos e do Canadá.

Cerca de 75% de seus clientes de talco para bebês nos EUA compram a versão de amido de milho, enquanto apenas 25% compram a versão com talco, de acordo com a Bloomberg News.

O pó de talco causa câncer de ovário?

Desde 2014, a Johnson & Johnson enfrenta processos nos Estados Unidos de consumidores que alegaram ter desenvolvido câncer depois de usar os produtos à base de talco da empresa por períodos prolongados. Os processos acusavam a empresa de esconder e minimizar os riscos de câncer e pediam indenização.

A Johnson & Johnson contestou essas alegações, com resultados mistos. A empresa obteve sucesso ao reduzir o valor das indenizações exigidas pelos tribunais, mas teve que pagar bilhões de dólares.

Em 2017, um júri de Los Angeles ordenou que a Johnson & Johnson pagasse US$ 417 milhões a Eva Echeverria, que disse que seu câncer de ovário terminal estava ligado ao uso do talco.

Em 2020, a corte do Missouri aceitou apelação da empresa e reduziu a punição de US$ 4,7 bilhões para US$ 2,1 bilhões para um grupo de mulheres que alegaram ter contraído câncer de ovário depois de usarem seus produtos de talco. A Suprema Corte dos EUA se recusou a revisar recurso da Johnson & Johnson.

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), todos os tipos de amianto causam câncer de pulmão, mesotelioma (membrana interior do tórax), câncer de laringe, de ovário e asbestose (fibrose dos pulmões).

De acordo com o The Washington Post, a Johnson & Johnson já havia dito anteriormente que se trata de “fake news” a afirmação de que seu talco para bebês não é seguro.

Fonte(s): Washington Post Imagens: Reprodução / Justin Sullivan/Getty Images via Trendbr

Jornal Ciência