Já ouviu falar em “gelo capilar”? Estrutura gelada ainda é grande mistério científico

O “gelo capilar” continua sendo um mistério científico mesmo após 100 anos de sua descoberta

de Merelyn Cerqueira 0

Se você experimentar caminhar por uma floresta de inverno sob a luz fria da manhã, poderá se deparar com um acontecimento natural e bizarro chamado “gelo capilar”. 

A princípio, pode parecer que a árvore cresceu uma barba branca ou até mesmo um delicioso pedaço de algodão doce. No entanto, se tocá-los, perceberá que são frios, efêmeros e, embora o nome sugira o contrário, nem um pouco parecido com cabelos.

Segundo informações da Science Alert, o gelo capilar foi descrito pela primeira vez há quase 100 anos. Acreditava-se que a estrutura gelada poderia ser proveniente de fungos. Mas, foi somente em 2015 que os cientistas definitivamente puderam confirmar sua origem.

A estrutura costuma crescer sob a escuridão, durante o úmido período de inverno, entre latitudes de 45 e 55 graus norte e pode desaparecer rapidamente sob a neve e pela ação do sol.

Embora seja comumente descrita como “geada”, o que é tecnicamente incorreto, os cristais de gelo são formados a temperaturas abaixo de zero. Logo depois, são “esculpidos” em finas mechas pela ação de um fungo chamado Exidiopsis effusa. O papel do fungo, neste caso, é apenas esculpir, dando aparência de cabelos, mas o “cabelo em si” não é fungo. 

Exatamente como o fungo administra esse processo ainda é um grande mistério científico. Os cientistas acreditam que possa ter ligação com um “inibidor de recristalizaçao” fornecido pelo fungo. Mas, eles não sabem que inibidor seria. 


“A mesma quantidade de gelo é produzida na madeira com ou sem atividade dos fungos, mas sem os fungos o gelo forma uma estrutura semelhante a uma crosta e não cabelos”, explicou o físico Christian Mätzler, que coescreveu o artigo sobre as origens do gelo capilar em 2015.


“A ação do fungo é permitir que o gelo forme pelos finos – com um diâmetro de cerca de 0,01 milímetro – e manter essa forma por muitas horas a temperaturas próximas a 0 °C”, completou. 

A madeira da árvore fica coberta de gelo devido a um processo de “segregação”, que ocorre quando a água que fica próxima à superfície do galho colide com o ar frio, esmagando o líquido em uma fina película que se espreme através dos poros da madeira, congelando uns sobre os outros.

Assim, à medida que o gelo se acumula, empilhando os cristais, algo estranho acontece. Em vez de formar grandes cristais na superfície da madeira, os fios permanecem separados e finos, como você pode ver no vídeo em abaixo:

As fibras prateadas possuem aproximadamente a mesma espessura de um cabelo humano. Análises químicas feitas em 2015 revelaram que o fungo quebra a madeira produzindo moléculas complexas como lignina e tanino, que se misturam com a água para impedir que os fios de gelo se agrupem em formas mais estáveis.

Contudo, mais pesquisas serão necessárias antes que tal hipótese seja confirmada. Da mesma forma, os pesquisadores pretendem responder questões importantes como: por que o gelo capilar só cresce em certas árvores e em algumas espécies de plantas e se existem outras formas estranhas de gelo que ainda não foram descobertas. 

Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Christian Mätzler / CC BY-NC-SA 4.0

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