Estudo sugere que a Doença de Parkinson pode começar no intestino

de Gustavo Teixera 0

Um estudo novo pode mudar o que pensávamos sobre as causas do mal de Parkinson. Novas evidências de testes em ratos sugerem que a doença pode começar no intestino. E isso poderia explicar algumas das estranhas coincidências observadas na condição, como por que a maioria dos pacientes de Parkinson se queixa de constipação até uma década antes de surgirem outros sintomas.

A doença de Parkinson é mais associada com tremores, rigidez e dificuldade de movimentação, causadas por neurônios que morreram no cérebro. Embora existam tratamentos para retardar o progresso da doença, não há como preveni-la ou curá-la, e os pesquisadores ainda não entendem exatamente a causa dessa doença e como ela progride. Durante anos, cientistas buscaram pela causa de Parkinson apenas no cérebro, mas séries de evidências sugerem que essa pode ser uma abordagem errada.

Parkinson pode realmente se originar no intestino antes de se espalhar para o cérebro, isso poderia explicar algumas das ligações estranhas que pesquisadores já viram em pacientes com Parkinson. Muitas vezes pessoas relatam constipação, bem como outros problemas digestivos, até 10 anos antes dos sintomas da doença surgirem.

Há também evidências de que as pessoas com doença de Parkinson possuam bactérias intestinais diferentes em relação a outros adultos saudáveis. Um novo estudo realizado com testes em ratos mostrou que as fibras tóxicas que se acumulam ao redor das células nervosas dos pacientes de Parkinson podem influenciar os nervos no cérebro em semanas. “Descobrimos pela primeira vez uma ligação biológica entre o microbioma do intestino e a doença de Parkinson. Mas geralmente, esta pesquisa revela que uma doença neurodegenerativa pode ter suas origens no intestino, e não somente no cérebro como foi pensado anteriormente”, disse o pesquisador Sarkis Mazmanian da Caltech.

A equipe descobriu isso observando a propagação de fibras tóxicas feitas de uma substância conhecida como alfa-sinucleína. A alfa-sinucleína é pequena e solúvel em células nervosas saudáveis, mas por alguma razão, em pacientes com Parkinson, essas moléculas aglutinam-se e formam fibras que danificam os nervos do cérebro. Cerca de uma década atrás, pesquisadores começaram a relatar que os pacientes que tinham essas fibras em seus cérebros também tinham em seus intestinos. No último estudo, a equipe da Caltech examinou ratos que haviam sido geneticamente modificados para serem suscetíveis à doença de Parkinson, por excesso de produção de alfa-sinucleína.

Esses camundongos foram criados em gaiolas normais, não esterilizadas ou em um ambiente esterilizado sem germes. Os camundongos criados nas gaiolas sem germes apresentaram menos déficits motores e fibras menos tóxicas em seus cérebros. Mas os camundongos criados no ambiente não estéril desenvolveram sintomas de Parkinson como esperado, devido a sua predisposição genética. O tratamento com antibiótico foi capaz de reduzir esses sintomas nos ratos criados em ambientes não estéreis, sugerindo que havia algo em seu microbioma que estava aumentando os sintomas.

A equipe injetou bactérias intestinais de pacientes humanos com Parkinson em ratos criados em ambiente sem germes e eles começaram a piorar rapidamente. “Este foi o momento ‘eureka’, os ratos eram geneticamente idênticos, a única diferença eram a presença ou ausência da microbiota do intestino. Agora estávamos bastante confiantes de que as bactérias intestinais regulam e até sejam necessárias para os sintomas da doença de Parkinson“, disse um pesquisador da equipe, Timothy Sampson.

Há muito mais pesquisas a serem feitas antes que possamos dizer com certeza o que está acontecendo, mas se essa pesquisa puder ser verificada e replicada, mudaria a maneira como tratamos a doença. “Isso seria uma mudança de jogo. Existem muitos mecanismos diferentes que poderiam impedir a propagação“, disse David Burn, da Universidade de Newcastle, no Reino Unido, que não estava envolvido no estudo, ao site New Scienst. A equipe apresentou seu trabalho na Society for Neuroscience em uma reunião em San Diego, Califórnia nos Estados Unidos, no mês passado.

É importante notar que os estudos em ratos frequentemente não refletem a saúde humana, e ainda não temos o quadro completo do que está acontecendo, podendo haver outros fatores importantes envolvidos. Outros estudos mostraram que as pessoas expostas a certos pesticidas são mais propensas a contraírem a doença, então a equipe acha que talvez esses produtos químicos possam estar afetando as bactérias intestinais.

A equipe agora quer analisar microbiomas intestinais de pessoas com Parkinson para tentar descobrir quais micróbios parecem estar predispondo as pessoas à doença. Se eles puderem identificar as origens, significaria que poderiam encontrar uma maneira de detectar o Parkinson antes que os sintomas apareçam e que os danos ao cérebro ocorram, bem como possibilitaria o desenvolvimento de novas opções de tratamento.

[ Science Alert ] [ Foto: Reprodução / Flickr ]

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