Uma estrutura cerebral desconhecida foi identificada por um grupo de neurocientistas enquanto trabalhavam em análises para um atlas sobre a anatomia do cérebro humano.
Denominada como núcleo endorrestiforme – porque está localizado dentro do pedúnculo cerebelar inferior (também chamado de corpo restiforme), ela é encontrada na base do órgão, próxima a medula espinhal.
A área em questão está envolvida no recebimento de informações sensoriais e motoras de nossos corpos que refinam nossa postura, equilíbrio e movimentos.
De acordo com o neurocientista George Paxinos, da Neuroscience Research Australia (NeuRA), o pedúnculo cerebelar inferior é como um rio transportando informações da medula espinhal e do tronco cerebral para o cerebelo.
O núcleo endorrestiforme, que é um grupo de neurônios, é como uma ilha neste rio”, acrescentou.
Paxinos confirmou a existência dessa estrutura cerebral enquanto usava uma técnica de coloração cerebral relativamente nova que desenvolveu para tornar as imagens dos tecidos cerebrais mais claras, para o mais recente atlas de neuroanatomia em que esteve trabalhando e que já foi lançado.
De fato, ele vinha recebendo pistas de que o núcleo endorrestiforme existia há décadas.
Em um procedimento chamado de cordotomia anterolateral terapêutica – uma cirurgia para aliviar a dor extrema e incurável que corta as vias da coluna – ele e seus colegas notaram que as fibras longas da coluna pareciam ter terminado onde o núcleo endorrestiforme era encontrado.
A localização dessa esquiva parte do cérebro levou os pesquisadores a suspeitar que estivesse envolvida no controle motor fino – uma vez que a estrutura ainda não foi identificada em outros animais, incluindo macacos.
Os seres humanos têm cérebros cerca de duas vezes maiores que os chimpanzés (1.300 gramas vs 600 gramas), e uma porcentagem maior de nossas vias neuronais cerebrais que sinalizam movimento faz contato direto com os neurônios motores – 20% comparado a 5% em outros primatas.
Assim, o núcleo endorrestiforme pode ser outra característica única do nosso sistema nervoso, embora ainda seja cedo para dizer.
Para descobrir sobre as funções da estrutura, os pesquisadores precisarão de exames de ressonância magnética com mais resolução, feitas em pessoas vivas.
“A neuroanatomia é fundamental para servir como base para a construção de um conhecimento de função normal e anormal, mas, neste momento, é simplesmente impossível saber quais implicações essa descoberta pode ter para doenças neurológicas ou psiquiátricas”, explicou a neurocientista Lyndsey Collins-Praino, da Universidade de Adelaide, que não esteve envolvida no estudo.
“Investigações sobre a funcionalidade deste núcleo nos próximos anos serão fundamentais para responder a essas questões”, ressaltou Lyndsey.
A descoberta ainda precisa ser examinada por meio de revisão científica, mas os detalhes da estrutura recém-identificada pode ser encontrada no atlas de Paxinos, “Human Brainstem: Cytoarchitecture, Chemoarchitecture, Myeloarchitecture”.
Fonte: Science Alert Fotos: Reprodução / Science Alert